Ultrapar: Marcos Lutz, novo CEO, compra ações e vira sócio dos donos
Após aceitar sentar na cadeira de CEO antes de assumir posição de chairman, Lutz anuncia compra de ações, conforme EXAME IN antecipou em 2020
Publicado em 28 de setembro de 2021 às 20:21.
Última atualização em 29 de setembro de 2021 às 17:06.
Depois de surpreender o mercado ao anunciar Marcos Lutz para a presidência executiva do conglomerado na semana passada, a Ultrapar, cuja receita deve ficar em torno de R$ 60 bilhões neste ano, trouxe mais novidades. Acaba de divulgar que Lutz terá uma participação na holding Ultra S.A., onde ficam as participações acionárias dos herdeiros, como o EXAME IN antecipou ainda em 2020.
No total, sua participação será equivalente a aproximadamente 1% da Ultrapar que é listada na B3 (ou 2,4% da holding). Foram diversas transações que levaram o executivo à fatia total que, aos preços atuais de bolsa de hoje, equivale a R$ 160 milhões. Investimento esse que no “all time high” da companhia, em 2018, valeria perto de R$ 450 milhões. Matemática simples: a companhia que há três anos valia R$ 45 bilhões, hoje está em torno de R$ 16 bilhões na bolsa.
Lutz assumir a posição de CEO do grupo surpreendeu muito o mercado. E para o bem — a ação subiu quase 10% no dia. O combinado anterior era que sucedesse a Pedro Wongtschowski, atual chairman (presidente do conselho de administração), com mandato até abril de 2023. O próprio Lutz, quando começaram as discussões para sua ida ao grupo, não desejava a posição executiva.
Mas quem está próximo da companhia hoje entende que Lutz está satisfeito com o desenho final que crava sua chegada ao comando dos negócios. A passagem pela presidência executiva não é apenas um recado de que a companhia viu o incêndio, os problemas na gestão de Ipiranga, como também de que decidiu – finalmente – atuar de forma incisiva. Além disso, dará muito mais legitimidade e força a sua posição quando migrar para o conselho, com o término do mandato de Wongtschowski dentro de aproximadamente 18 meses.
O recado do investimento de Lutz é claro: posição para vida toda. Para quem pegou o cometa pelo rabo: Lutz deixou o grupo Cosan, de Rubens Ometto, onde esteve na liderança dos negócios durante mais de uma década, para assumir a Ultrapar, conglomerado dono da Ultragaz, Ultracargo e Ipiranga – e que acaba de vender Extrafarma e Oxiteno. Os grupos guardam grande semelhança de portfólio, a começar pelas rivais Ipiranga e Shell (bandeira operada pela Raízen).
Mas essa chegada é, na verdade, um regresso. A carreira de Lutz começou no grupo Ultra, em 1994, onde permaneceu até 2003, após ter alcançado a presidência da Ultracargo. Além de ter sido o início de sua vida executiva, os laços de confiança e afinidade são fortes dentro da empresa, pois é muito próximo de Fabio Igel – aliás, conhece a família desde sua adolescência.
O contexto torna tudo de compreensão mais fácil. Empresa conhecida, com sócios-controladores conhecidos, num ramo que entende, cheia de desafios e potenciais. Para coroar, terá sua posição, ainda que minoritária, ao lado dos “donos”. Desde que aderiu ao Novo Mercado, a empresa não possui mais um bloco de controle majoritário, mas a Ultra S.A. congrega mais de 25% do capital social da Ultrapar e seus acionistas somam um poder de voto superior a 34% (pois detêm ações não vinculadas ao acordo de acionistas).
A relevância de Lutz para a Ultrapar hoje, conforme investidores ouvidos pelo mercado, é muito superior da que teria agora em Cosan. Motivo? Número um: necessidade. Número dois: carência de dono estratégico, entendedor do negócio de verdade. De forma simples, porém verdadeira, o grupo Ultra ainda peleja a falta de Paulo Cunha, enquanto a Cosan já tem uma cultura sólida construída.
Estopim
O balanço do grupo do segundo trimestre foi o estopim de tudo. Ali, ficou evidente que não daria para o conglomerado seguir com o discurso de respeito aos ritos de governança e prazos. A companhia perdeu mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado num único pregão.
Não por acaso, junto com a chegada de Lutz foi anunciada também a troca no comando da Ipiranga, onde mora a urgência. Saiu Marcelo Araújo, ex-CEO da Marisa, e entrou em cena Leonardo Linden, diretor de operações recém-chegado e elogiado internamente (já corria nos corredores que ele seria ‘o cara’).
Apesar de no segundo trimestre a Ipiranga ter registrado crescimento de 20% sobre a receita líquida do primeiro trimestre, para R$ 23,8 bilhões, o Ebitda caiu 25% nessa mesma comparação, para R$ 422 milhões. Ou seja, a margem despencou de 2,8% para 1,7%. O setor gosta de olhar a margem Ebitda por metro cúbico de combustível. No caso da Ipiranga, ficou em R$ 52, comparado a R$ 98 da BR Distribuidora.
Para completar, essa “gestão” da sucessão ainda permite uma transição mais suave no conselho. Já que o desempenho do primeiro semestre fez os níveis de pressão por mudança tornar vocais até os investidores mais tradicionais e pacientes. Não faltaram críticas a ninguém. Elas começavam em Araújo, passavam por Curado e, sim, chegavam até Wongtschowski.
O que esperar?
Lutz ainda nem sentou na cadeira. Mas já chegou com parte do serviço garantido com a mudança na Ipiranga, ainda que isso seja só a largada. Em Cosan, construiu uma história de uma companhia formadora de grandes talentos e lideranças, algo totalmente reconhecido pelo mercado. Ipiranga é onde mora a urgência. De acordo com alguns analistas. Se somente fossem corrigidos os problemas da distribuidora, o valor da empresa teria de ser, no mínimo, 60% maior que o atual.
Mas, não se deve esquecer que, quando toda a crise começou na Ultrapar em 2018 e a empresa perdeu "seu toque de midas", a grande queixa do mercado era a gestão do portfólio de investidas. Queriam crescimento e mudanças. Levou um tempo, mas o primeiro passo já foi dado. Oxiteno e Extrafarma vendidas, mais de R$ 5 bilhões no bolso. Agora é a hora de pensar no futuro.
O que querem o investidores e sobre o que falam: que é chegado o momento de o grupo largar mão da versão oldfashion de conglomerado para se tornar efetivamente uma "gestora de portfólio", modelo adotado da Península, de Abílio Diniz, à Cosan, de Ometto. Que portfólio? Daí, até uma decisão final, há uma eleição derradeira no meio, em 2022, é bom que se lembre.
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