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TALK SHOW EXAME IN: Mauro Cunha faz um balanço da governança no Brasil

Com 23 anos de experiência em conselhos de administração, especialista fala de seu "otimismo e apreensão" com o momento

Mauro Rodrigues da Cunha durante gravação do talk show no estúdio da EXAME (Exame/Reprodução)
Mauro Rodrigues da Cunha durante gravação do talk show no estúdio da EXAME (Exame/Reprodução)

Publicado em 10 de julho de 2022 às 12:21.

“Foi uma revolução sob diversos aspectos”, afirma Mauro Rodrigues da Cunha, conselheiro independente, a respeito da recente privatização da Eletrobras via mercado de capitais, por meio de uma mega capitalização, em uma oferta pública de ações que movimentou R$ 34 bilhões. Mas, apesar de ressaltar a relevância do acontecimento para o Brasil e para mercado brasileiro, o veterano da defesa dos princípios e boas práticas de governança corporativa está preocupado. “Vejo esse momento com otimismo e apreensão”, diz, ele que foi o entrevistado dessa quinzena do talk show EXAME IN.

A grande preocupação de Mauro Cunha, como é mais conhecido, é que o ambiente brasileiro não amadureceu o suficiente para gerir companhias de capital pulverizado, ou seja, sem um sócio controlador. Em especial no que diz respeito à responsabilidade dos investidores, principalmente os institucionais, que deveriam agir sempre como donos, ainda que não sejam majoritários no controle das empresas.

A opinião é de quem foi pioneiro em colocar a mão na massa nos casos mais dramáticos. Mauro Cunha foi o primeiro conselheiro realmente independente realmente eleito pelo mercado para participar do conselho de administração da Petrobras. Pegou o auge da Operação Lava-Jato e toda arrumação da casa, inclusive o trabalho de definir de quem era a responsabilidade pela política de preços dos combustíveis — conselho ou diretoria?

Também esteve no colegiado da Eletrobras, durante boa parte da gestão de Wilson Ferreira como CEO que preparou a companhia para a privatização, antes de renunciar ao posto e assumir a Vibra (ex-BR Distribuidora). Passou pela presidência do conselho da Caixa, entre julho de 2019 e outubro de 2020, mas terminou por renunciar diante do desafio de levar evoluções reais na governança da instituição financeira. Teve uma longa atuação na Totvs e, hoje, compõe o conselho da Vale, Klabin e brMalls.

“Costumo dizer que estou na minha terceira carreira”, diz ele. “Já fui analista e gestor de investimentos, chefe de ONG, quando era presidente da Amec [Associação de Investidores no Mercado de Capitais], e agora conselheiro independente. Mas todas elas se entrelaçaram”, conta, lembrando que participa de conselhos de administração há mais de 20 anos.

Mauro Cunha sempre atuou pelo desenvolvimento do mercado brasileiro. Militava pela evolução dos direitos dos acionistas minoritários desde antes da reforma da Lei das Sociedades por Ações, em 2001, que formalmente devolveu o acesso ao prêmio de controle (tag along) para acionistas de mercado, e antes mesmo da criação do Novo Mercado, em 2000. Foi a partir desse momento, que o Brasil teve um lampejo e brilho no mercado global, com avanços institucionais.

Mas é justamente olhando para aquele momento que aparece o ceticismo e a apreensão do especialista. “O Brasil já foi 25% do MSCI e hoje está em torno de 6%, depois da saída da Rússia. Nós nos condenamos à mediocridade. Porque o nosso PIB não cresceu, a China cresceu, mas também porque nosso mercado de capitais perdeu a oportunidade de atrair investidores.”

Na opinião de Mauro Cunha, isso traz consequências importantes, como a volatilidade do fluxo de capitais para o país, porque muitas casas relevantes têm apenas investimentos marginais, algumas vezes apenas por meio de ETFs. Dessa forma, essa vai e vem do dinheiro fragiliza o país e o mercado.

Para ele, apesar das preocupações, o desenvolvimento das corporations, empresas cujo capital é disperso em bolsa, é essencial para o país, mas para que funcione é preciso que todos cumpram seu papel.  “Durante tempo demais, as empresas estiveram condenadas a crescer na velocidade do balanço do controlador [a capacidade de investimento da empresa era refém do interesse do dono de se manter controlador, sem diluir sua participação]. Só que a gente não criou o ambiente para que essas empresas possam se desenvolver de uma maneira saudável.”

O que Mauro Cunha não tem medo de falar é que mesmo corporations podem sofrer abusos. Eles não acontecem só pelos donos. Há casos em que as empresas têm um CEO que quer se proteger na posição, um conselho que quer se perpetuar no poder ou até grupos minoritários que, na ausência da atividade responsável dos demais, acabam capturando o poder na companhia. Muitas vezes, para ele, trata-se do mesmo desalinhamento de controladores que tinham interesse econômico pequeno e grande poder, por meio daquelas pirâmides de holdings tão usadas no setor de telecomunicações pós-privatização. Daí, a relevância de que todos cumpram suas funções: conselheiros, executivos e investidores, atuando com responsabilidade.

Além de Mauro Cunha, já estiveram no programa Pedro Zemel, CEO do Grupo SBF, Roberto Fulcherberguer, presidente da Via, dona das Casas Bahia, Cesario Nakamura (Alelo), Cristina Andriotti (Ambipar Environment), Roberto Funari (Alpargatas), Abilio Diniz (Península), Felipe Miranda (Empiricus), Eduardo Mufarej (GK Ventures), Augusto Lins (Stone), Rodrigo Abreu (Oi), Cláudia Woods (WeWork), Dennis Herszkowicz, (Totvs), Daniel Silveira (Avon), Túlio Oliveira (Mercado Pago) e Carlos Brandão (Iguá Saneamento). Também passaram pela mesa de conversa do programa Marcelo Barbosa, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM),  Daniel Castanho, fundador e presidente do conselho de administração da Ânima Educação, Daniel Peres, fundador da Tropix, market-place de NFTs de arte digitais, para destrinchar o metaverso, Ricardo Mussa, presidente da Raízen, Ricardo Faria, dono da Granja Faria e maior emergente do setor de agronegócios do país. Também já estiveram no talk show os fundadores da OpenCo, Sandro Reiss e Rafael Pereira, e Fersen Lambranho, presidente do conselho de administração da GP Investimentos e da G2D.

O programa recebe grandes personalidades do mundo corporativo e financeiro para um bate-papo descontraído sobre os principais desafios, aprendizados e oportunidades do mercado brasileiro em suas áreas de atuação. Os episódios podem ser conferidos no canal da EXAME no Youtube e também no Spotify.

O que é o EXAME IN

O programa vem para complementar a produção de conteúdos do EXAME IN, a butique digital de notícias de negócios da EXAME e que conta também com uma newsletter desde março de 2020 (increva-se grátis para receber no email). Comandada por Graziella, a newsletter tem o objetivo de fornecer acesso a informações sobre mercado de capitais, negócios e startups.

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