Startup de RH estreia no mercado de benefícios flexíveis e mira 500 mil usuários em um ano
HRTech Sólides captou R$ 530 milhões no início de 2022, no maior cheque do fundo norte-americano Warburg Pincus para uma empresa da América Latina
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 3 de maio de 2023 às 10:00.
Última atualização em 3 de maio de 2023 às 12:23.
A startup de RH Sólides deu mais um passo de olho em se tornar uma solução única para o setor de recursos humanos de todo o Brasil. É uma trajetória construída desde 2009, quando a empresa foi fundada em Belo Horizonte para oferecer plataformas de gestão comportamental ao setor, com uma oferta que se tornou cada vez mais abrangente ao longo do tempo. A partir do primeiro programa, chamado Profiler, a companhia migrou para uma ferramenta completa de gestão de pessoas orientada por dados, e foi acumulando clientes desde então. No início deste ano, a empresa captou R$ 530 milhões com o fundo americano Warburg Pincus, no maior cheque feito para uma empresa da América Latina e, desde então, embarcou numa nova jornada de lançamentos: já desenvolveu uma inteligência artificial que prevê a possibilidade de um funcionário pedir demissão e, agora, vem ao mercado com o cartão próprio de benefícios flexíveis, chamado Sólides Benefícios.
O cartão vem roxo (lembrando outra marca bastante popular), o que pode despertar alguma curiosidade. Mas, basta entrar no site da empresa para ver: é realmente uma coincidência. Assim como o Nubank, a Sólides usa a cor roxa como parte de sua comunicação. A novidade, na prática, concorre com empresas como Flash e Caju, mas vem com uma estratégia diferente da utilizada por essas empresas para crescer. Em vez de entrar com o cartão (e depois agregar mais serviços de gestão de RH ao longo do tempo), a Sólides parte de uma base de 25 mil clientes em todo o país para fazer o upselling com a nova oferta.
O mercado a ser explorado é promissor. Em entrevista ao EXAME IN, Mônica Hauck, CEO e co-fundadora da startup, afirma que a maior parte dos clientes da empresa -- formada principalmente por PMES -- está dividida em dois grupos: ou não disponibiliza nenhum tipo de cartão para os colaboradores ou está dentro do modelo tradicional de benefícios (aquele utilizado por empresas como Ticket, Sodexo e Alelo, para ficar fácil de entender).
Antes de lançar o cartão, a startup conduziu alguns testes com essa base de clientes e teve uma receptividade positiva: segundo Hauck, mesmo os clientes que já tinham um benefício contratado resolveram migrar para a Sólides, pela facilidade de ter tudo em um mesmo lugar. Explicando melhor o que isso significa, hoje, a empresa oferece serviços como pesquisa de clima, recrutamento e seleção, avaliações de desempenho, armazenamento de currículos e registro de ponto. O cartão passa a ser mais um produto gerenciado no mesmo lugar.
"A gente quer oferecer tudo que o RH precisa. Mas, o que é esse 'tudo'? Basicamente, a gente reúne a nossa experiência com um olhar atento, de calçar os sapatos do profissional mesmo e ver o que ele precisa. Dessa análise, percebemos que benefício é um ponto importante e, depois de um ano de desenvolvimento do produto, chegamos a uma oferta que, na nossa visão, pode ser melhor do que o que já existe. Além de ter tudo em uma única empresa, nosso porte faz com que a gente consiga trazer o cartão a preços competitivos", diz Hauck. O produto faz parte de uma missão maior idealizada pela empresa, a de democratizar benefícios corporativos. "Queremos acabar com o estigma de que só colaboradores de grandes empresas podem ter acesso a benefícios melhores, mas sim que os de pequenas e médias empresas possam ter ofertas tão boas quanto".
A empresa não divulga metas financeiras atreladas ao novo produto, mas somente de vidas atendidas. Hoje, dentro do portfólio atual de serviços, a Sólides tem cinco milhões de vidas. A meta é que 500 mil sejam atendidas pelo novo cartão de benefícios no primeiro ano, número que deve dobrar nos 12 meses seguintes. O principal público mirado pela empresa é o de PMEs, que hoje respondem pela maior parte de seus clientes. Para além do upselling, a estratégia faz sentido olhando a geração de empregos no Brasil. É essa categoria de empresas a principal responsável por criar empregos formais no país.
No Brasil, cerca de 16 milhões de trabalhadores CLT recebem algum tipo de auxílio alimentação, em um mercado de receita anual de R$ 150 bilhões. Para referência, em 2020, a Alelo atendia 8 milhões de usuários em mais de 100 mil empresas clientes. As quatro gigantes do setor (VR, Ticket Restaurantes, Sodexo e Alelo), juntas, dominam mais de 80% desse segmento. O cenário começou a mudar, rumo à descentralização, a partir do decreto 10.854, que entrou em vigor a partir deste ano. A norma prevê, entre outras coisas, o fim do ‘rebate’, fazendo com que o mercado esteja cada vez mais aberto para novos players no setor.
Mais do que abrir o mercado, a norma deu espaço para que ele se torne mais atrativo também para os restaurantes. A partir desses novos cartões, que têm parcerias com empresas como a Mastercard, esses estabelecimentos podem pagar taxas menores do que as cobradas, hoje, por players tradicionais do setor. Por fim, também se torna atraente aos colaboradores, uma vez que o leque de estabelecimentos que aceitam os cartões muda de patamar: a empresa líder do setor tradicional tem 300 mil estabelecimentos afiliados — com um cartão Master, são mais de 4 milhões de estabelecimentos em que o benefício pode ser usado.
A Sólides aquece a disputa em um mercado cada vez mais competitivo. E esse não deve ser o último passo da empresa de olho em conquistar o coração (e os bolsos) dos RHs de todo o país. “De olho em construir uma oferta única, a gente viu que benefícios era um segmento que precisávamos entrar, mas outros virão”, diz a executiva.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.