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O efeito Ozempic vai chegar ao consumo de álcool? É a tese do ‘Buffett inglês’

Terry Smith vende as ações da Diageo, dona da Guinness e do Tanqueray depois de 15 anos; a tese: com novas drogas contra obesidade, população vai beber menos – e melhor

Menos álcool: Terry Smith vendeu sua participação na Diageo apostando que o efeito Ozempic vai se estender para o setor de bebidas (Tanqueray/Divulgação)
Menos álcool: Terry Smith vendeu sua participação na Diageo apostando que o efeito Ozempic vai se estender para o setor de bebidas (Tanqueray/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 12:08.

Última atualização em 10 de janeiro de 2025 às 16:10.

Um dos maiores e mais conceituados investidores de ações de Londres, Terry Smith está preocupado com o efeito de medicamentes para perda de peso sobre a indústria de bebidas.

Conhecido como o “Warren Buffett inglês”, ele vendeu sua participação na Diageo, fabricante de marcas como Guinness, Smirnoff e Tanqueray que detinha desde 2010, afirmando que o setor “está nos estágios iniciais” de redução de demanda por conta do efeito Ozempic.

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“É provável que esses medicamentos serão eventualmente usados para tratar alcoolismo, tamanho o efeito que eles têm sobre o consumo de bebidas alcóolicas”, afirmou numa carta aos cotistas publicada hoje. Sua gestora, Fundsmith, gere 39 bilhões de libras esterlinas – equivalentes a cerca de US$ 44 bilhões.

Smith traz ainda um descontentamento com o comando da Diageo – especialmente com questões de “transparência” referente ao desempenho fraco das vendas na América Latina.

A CEO Debra Crew assumiu em junho de 2023 e, em novembro daquele ano, a Diageo reportou um colapso de demanda na região, que deixou estoques abarrotados e levou ao primeiro declínio anual nas receitas da empresa desde a pandemia.

Apesar da preocupação, Smith não saiu completamente do setor de bebidas. Conhecido por manter os papéis por longos períodos de tempos na carteira, com pouco giro – no melhor “Buffett style” –, o gestor segue com sua posição na Brown-Forman, fabricante do whiskey Jack Daniel’s.

A tese é que as pessoas vão beber menos, mas vão beber melhor. “A empresa tem um viés maior em relação a bebidas premium do que a Diageo, o que pode ajudar a aliviar os impactos de medicamentos para perda de peso”, escreveu Smith.

O fato de ser uma empresa familiar centenária que sobreviveu à Lei Seca nos Estados Unidos também dá alguma confiança no poder de adaptar. “Nossa visão é que há alguma coisa no DNA da empresa para ajudar a lidar com circunstâncias adversas.”

O Ozempic e o WeGovy são usados para tratar diabetes e obesidade, mas diversos usuários relatam que sentem menos vontade de consumir bebidas alcóolicas. O princípio ativo desses medicamentos é um peptídeo que mimetiza o GLP-1, um hormônio que o organismo produz após refeições, reduzindo o apetite.

A substância reduz o movimento dos alimentos no estômago, mas seu impacto é maior. Há vários locais no organismo onde há receptores de GLP-1 e um deles é o cérebro – onde há cada vez mais evidências de que eles afetam a dopamina, o neurotransmissor que ajuda a regular os níveis de prazer que vem de uma boa refeição... ou taça de vinho.

De acordo com a Bloomberg, estudos com animais mostraram que esse tipo de droga ajuda a reduzir o consumo de álcool, cocaína, anfetamina e nicotina, além de reduzir o apetite.

Apesar das evidências anedóticas na redução do consumo de bebidas alcoólicas com humanos, ainda não há estudos que comprovem a eficiência dos análogos do GLP-1 no combate ao alcoolismo.

Há pesquisas sendo feitas nesse sentido nos Estados Unidos e Dinamarca, todas por pesquisadores independentes. O Novo Nordisk, que fabrica o Ozempic e o WeGovy, não conduziu nenhum estudo com esse objetivo.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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