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Na Eneva, uma surpresa negativa no Amazonas

Queda nas reservas de gás provadas e possíveis na região Norte ofusca aumento na Bacia do Parnaíba; ações caem mais de 3%

Eneva: investidores aguardam mais informações da companhia (foto/Divulgação)
Eneva: investidores aguardam mais informações da companhia (foto/Divulgação)

15 de fevereiro de 2024 às 13:42

A Eneva anunciou hoje a comercialidade de mais três campos de gás, um na Bacia do Parnaíba e dois na Bacia do Amazonas. Num campo nesta última área, batizado de Tambaqui, a empresa anunciou também pela primeira vez a comercialidade de petróleo.

O anúncio foi ofuscado, no entanto, pelo relatório de certificação de reservas, documento apresentado anualmente – e que mostrou em 2023 uma queda no montante de gás provado e previsto (o chamado 2P no jargão do setor) para a Bacia do Amazonas. 

Os papéis da Eneva lideram as quedas do Ibovespa, com recuo de 3,24%. Ontem, as ações já tinham recuado quase 4%.

O volume no Amazonas caiu de 14,45 bilhões de metros cúbicos no relatório referente a 2022 para 10 bilhões de metros cúbicos no documento de 2023.  No fato relevante, a companhia não informou a razão para a queda. 

No total, as reservas da Eneva ficaram praticamente estáveis. A queda no Amazonas foi compensada por um aumento semelhante no Parnaíba, sua bacia mais tradicional, no Maranhão. O volume estimado na região saiu de 33 bilhões de metros cúbicos para 37,6 bilhões.

A questão é que, em Parnaíba, a Eneva já tem gás suficiente para atender seus contratos de termelétricas, com o excedente podendo ser comercializado via contratos da GNL para empresas, como os já firmados com Vale e Suzano. No Amazonas, uma nova fronteira aberta nos últimos três anos, o gás é suficiente para 10 anos, com contratos para térmicas de mais de 20 — ou seja, ainda é necessário perfurar para atender os atuais contratos, ainda que o prazo seja confortável.

"No Parnaíba, é onde tem a estrutura mais consolidada e a possibilidade de comercializar esse gás. Ou seja, a monetização é mais direta", aponta um gestor com posição de longa data na companhia. "Mas o mercado insiste em não colocar esses ‘excedentes’ na conta." 

"No Amazonas, a empresa ainda tem 10 anos para encontrar gás. O que ela vai fazer provavelmente agora é intensificar a campanha exploratória", diz esse mesmo gestor.

A expectativa de mais investimentos na região pesa sobre o papel.  "Enxergamos como negativa a queda em reserva 2P no Amazonas. Aguardamos explicações da companhia, mas a princípio poderíamos ter uma reclassificação de capex por metro cúbico na região", disseram os analistas do Santander, em nota a clientes.

No mercado, há ainda o temor de que a Eneva pode ter sido muito agressiva na certificação de suas reservas no Amazonas, em meio aos esforços para participação no leilão de reserva de capacidade de 2022, onde vendeu a usina de Azulão II, com 600 MW, a ser entregue em 2026. 

"É possível ter revisão para baixo nos números de certificação de reservas, mas não é comum e é a última coisa que o investidor quer. O natural é indicar novas descobertas e não o contrário", resumiu um analista do sell side. 

A investidores, a Eneva tem sinalizado hoje que aumentou muito as perfurações no Amazonas no ano passado, o que dá mais acurácia às previsões de reserva e diminui muito o risco de novas revisões negativas à frente. Procurada, a companhia não respondeu ao pedido de entrevista até o momento. 

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.