JGP: Carteira de crédito ESG já soma R$ 600 milhões - e há 'dinheiro de sobra' à frente
Gestora criou área há cinco anos e deve estruturar primeiro projeto de reflorestamento em breve
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 5 de setembro de 2023 às 08:38.
Última atualização em 5 de setembro de 2023 às 08:52.
Boa parte das gestoras de recursos brasileiras criaram algum tipo de produto ESG os últimos anos – mas poucos deles ganharam tração ou sobreviveram ao hype.
A JGP é uma das exceções. A gestora de André Jakurski, que começou a integração mais sistemática de fatores ambientais, sociais e de governança há cinco anos, tem hoje R$ 600 milhões em projetos alocados apenas na área de crédito ESG.
É o equivalente a 8% da carteira total de crédito de gestora – que vê uma avenida de crescimento para essa vertical, apesar dos desafios de execução de ser uma pioneira nessa área.
Mais do que apenas investir em green bonds ou títulos com certificações socioambientais, a JGP tem atuado na estruturação de dívida, de olho em fomentar a oferta de bons projetos e capturar retornos que hoje estão fora do radar da maior parte das gestoras.
"Antigamente a gente era uma gestora que ficava sentado olhando para várias telas e procurando ativos, agora é necessário verticalizar. Com a grade de produtos estruturados e com os fundos ESG, é necessário ir a campo, na economia real, ver o que o cara está precisando no local de trabalho dele”, afirma Alexandre Muller, sócio à frente da área de crédito.
Neste ano, a gestora fez uma joint-venture com a L6 Capital, boutique carioca especializada em M&A e operações de dívida. São 22 profissionais que fortalecem a atuação da gestora indo a campo e conversando com empresas para entender as necessidades delas e destravar possíveis operações.
A ida a campo tem um outro fator importante embutido: o tamanho das operações feitas pela gestora. Hoje, há créditos de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões que são encabeçados pela JGP -- e que, pelo porte, frequentemente ficam de fora do escopo dos bancos de investimento.
“Se a gente não botar a mão na massa, não tem ativo para investir. Nossa tese é combinar geração de retorno financeiro com geração de externalidade não financeira”, diz. “Uma emissão de R$ 20 milhões dá mais trabalho do que a de R$ 1 bilhão, em muitos casos. Há todo um educacional para fazer”.
Um dos projetos executados está ligado com revendas agrícolas, por exemplo. A gestora montou um programa de financiamento com condições diferenciadas para produtores que compram insumos na Agrogalaxy, desde que se comprometessem com uma série de compromissos de não desmatamento, e seriam verificados por auditorias externas.
Se conseguissem cumprir os critérios, ganhavam acesso a prazos de financiamento de insumos diferentes.
Espaço para chegar ao primeiro bilhão não falta, segundo Muller. "O problema hoje não é capital, isso existe em excesso. O ponto é conseguir a segurança de escalar projetos na ponta”.
Hoje, a carteira de crédito ESG está dividida em em dois fundos de crédito (com R$ 170 milhões) e em outros dois FIDCs para financiar a transição energética -- um para a Kompass e outro para a Solfácil -- que compreendem os demais R$ 430 milhões.
Nas suas estratégias, a JGP busca retornos comerciais. Mas a gestora tem sempre o racional de que uma boa estratégia passa por medir todos os efeitos financeiros e não financeiros. Há cinco anos, a JGP criou uma área de pesquisa ESG (criada nos moldes de equipes de pesquisa de crédito, de ações), com cinco profissionais que se dedicam a olhar só para os critérios que ficam de fora do balanço -- como o impacto no meio ambiente, social e giro de funcionários
Uma das áreas mais promissoras – e também mais desafiadoras – são projetos de reflorestamento, com foco em recomposição de pastagens degradadas, para geração de créditos de carbono.
A gestora já tem um veículo dedicado ao tema, com capital levantado, e deve começar o primeiro piloto no próximo mês, com R$ 20 milhões.
Entre os interessados, estão family offices, gestoras que são signatárias de compromissos net zero e investidores estrangeiros.
Num mercado ainda incipiente, o desafio é de execução. A operação tem a ambição de reflorestar até 30 mil hectares, mas o operador florestal tem um histórico de reflorestamento de 1 mil hectare.
Para garantir que o trabalho seja feito, foi desenhado todo um projeto de financiamento que vai liberando dinheiro em partes, de acordo com o trabalho feito pela empresa.
Resumidamente, a lógica é a do operador apresentar um número de propriedades em que vai fazer os serviços, apontar quais empresas vão fazer quais serviços dentro disso. A partir daí, é feita a modelagem financeira e liberada a primeira tranche de dinheiro.
Em seguida, é medido o trabalho executado, e assim a coisa toda segue. É como trazer conceitos de project finance para o ESG, nas palavras do executivo.
Mesmo com a atuação há cinco anos nesse mercado -- e a possibilidade de crescimento daqui para frente, a visão de Muller é de que ainda há pouca gente olhando para isso. "Toda gestora deveria olhar para esse potencial. Estamos roendo o osso, de olho em comer o bife", diz o executivo.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.