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Grendene investe R$ 47 mi na Even, dos Grendene. Conflito ou oportunidade?

Dona da Melissa e Ipanema tem 1,6 bi de reais em caixa e 130 milhões em dívida

DESFILE DA GRENDENE: investimento , pode render polêmica e dor de cabeça por ser um negócio entre “partes relacionadas” (Divulgação/Divulgação)
DESFILE DA GRENDENE: investimento , pode render polêmica e dor de cabeça por ser um negócio entre “partes relacionadas” (Divulgação/Divulgação)

Publicado em 9 de abril de 2020 às 11:27.

A Grendene, dona das marcas de calçados Melissa e Ipanema, decidiu investir 47 milhões de reais do saldo do seu caixa em empreendimentos imobiliários da Even. O detalhe que pode fazer disso algo muito além do que uma simples diversificação do caixa: as duas empresas são controladas pela família Grendene.

O investimento não é de agora. As aplicações começaram em setembro do ano passado. Do volume listado pela companhia no fim da tarde de terça-feira em formulário à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 20 milhões foram aplicados no ano passado e outros 27 milhões no começo de abril deste ano. A família tem 70% da empresa de calçados e 47% da construtora e incorporadora. Isso quer dizer que o dinheiro saiu da empresa onde os donos têm mais exposição para aquela em que têm menos.

A Grendene é uma companhia com forte posição de caixa líquido – ou seja, tem muito mais dinheiro guardado do que dívida. E não é pouco. Em dezembro do ano passado, o balanço da empresa apontava 1,6 bilhão de reais em aplicações financeiras e caixa, para um total de 130 milhões de reais em empréstimos e financiamentos.

Todo esse saldo é quase um ano de receita do negócio. A empresa teve receita líquida de 2 bilhões de reais no ano passado, para 430 milhões de Ebitda e 495 milhões de lucro líquido. O desempenho foi equivalente a uma retração de 11% na linha da receita e superior a 15% nas demais linhas.

 

Assim, o dinheiro aplicado nos projetos da Even não deve oferecer risco que seja significativo para a solidez financeira da empresa -– equivale a 3% da posição líquida de caixa. Contudo, pode render polêmica e dor de cabeça por ser um negócio entre “partes relacionadas” e, portanto, com grande potencial de sofrer uma discussão de conflito de interesses.

Conforme dados da B3, a companhia está hoje avaliada na bolsa em 6,8 bilhões de reais, ante o pico próximo a 11,5 bilhões registrado na virada do ano. Há pouco, as ações subiam 0,67%.

O tempo mostra que mais do que as contas imediatas, em geral, essas operações podem colocar uma mácula na percepção sobre as boas práticas de governança das companhias – e, no tempo, o saldo não costuma ser positivo. Por outro lado, muitas vezes, a má fama do instituto impede operações que podem fazer sentido.

Nos esclarecimentos sobre a transação, a Grendene afirma que os prazos médios de vencimentos dos veículos imobiliários escolhidos são de 4 anos, com retorno alvo médio de 9,33% ao ano, mais correção monetária pelo INCC.

A companhia também aponta que buscou seguir o protocolo mínimo da conduta, o que pode não aliviar em nada a avaliação dos investidores da empresa. Alexandre Grendene, controlador e presidente do conselho de administração da empresa de calçados, é o principal cotista do Melpaper, o fundo que possui 47% das ações da Even. O empresário se absteve no processo de decisão da aplicação do caixa. Rodrigo Arruy, membro do comitê de investimentos da Grendene e presidente do conselho de administração da Even, também não votou a respeito do tema, e nem teria participado das discussões, conforme material entregue à xerife do mercado.

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