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Fundos de ações quebram sequência positiva e acumulam saque em 21

Enquanto isso, captação na renda fixa supera R$ 300 bilhões e mais do que compensa resgates acumulados entre 2018 e 2020

Dinheiro: brasileiro tira o pé da bolsa, tanto de fundos de ações quanto de investidores diretos na B3 (Priscila Zambotto/Getty Images)
Dinheiro: brasileiro tira o pé da bolsa, tanto de fundos de ações quanto de investidores diretos na B3 (Priscila Zambotto/Getty Images)

Publicado em 23 de novembro de 2021 às 12:07.

Última atualização em 23 de novembro de 2021 às 12:20.

Aconteceu. Os fundos de ações saíram do terreno positivo e acumulam resgates, e não mais captações líquidas em 2021, até 17 de novembro. O número ainda está distante de ser algo consolidado: são apenas R$ 28,2 milhões a mais de saques do que de aplicações nessas carteiras, de acordo com dados da Anbima. Mas a foto é relevante, considerando que nos quatro anos anteriores os fundos de ações registraram captação líquida bilionária, ano após ano. Foram R$ 224 bilhões levantados entre 2017 e 2020.

O mau humor com o mercado acionário é generalizado. Além dos fundos de ações não estarem mais registrando captação, os fundos multimercados também reduziram fortemente a exposição na B3. Os dados exatos serão revelados apenas em dezembro. Mas, até setembro, a exposição total da indústria de fundos, com patrimônio líquido de R$ 5,45 trilhões, havia caído para R$ 765 bilhões aplicados na B3, ou 14% do total.

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No fim do ano passado, esse percentual estava em R$ 760 bilhões, mas representava mais de 15% do patrimônio das carteiras. Ao longo dos últimos anos, com a queda na taxa de juros, a exposição foi gradualmente aumentando. Ao final de 2018, ações ficavam com pouco mais de 10% das aplicações dos fundos de investimento.

O ambiente negativo com o mercado acionário também afetou a captação com os fundos multimercados, que está, no acumulado do ano positiva em R$ 71 bilhões. Em 2020, esse segmento levantou um total de R$ 104 bilhões. Foi a classe que mais teve expansão nos últimos cinco anos, entre as três principais: renda fixa, multimercados e ações. De 2017 a 2020, captou nada menos do que R$ 313 bilhões.

Compensação

A disparada na captação dos fundos de renda fixa mais do que compensou os resgates líquidos acumulados ao longo dos três anos anteriores. Só neste ano, até 17 de novembro, essas carteiras atraíram R$ 307 bilhões. Entre 2018 e 2020, os fundos dessa classe registravam resgates líquidos de R$ 45 bilhões. Portanto, só neste ano, o total levantado é quase seis vezes maior do que se perdeu.

Não é de se admirar que boa parte esteja sendo direcionada para títulos corporativos de dívida e não apenas títulos públicos, o que muda essencialmente a matriz de risco desses portfólios — ainda que a remuneração continue atrelada aos principais indicadores, taxa de juros (Selic) e inflação (IPCA). No mês de outubro, houve recorde de emissões de dívida no mercado doméstico, a soma da fome com a vontade de comer. De um lado, as companhias querem reforçar a liquidez para enfrentar o ano de 2022 e de outro, há muito dinheiro disponível para esses títulos.

Pessoas físicas

Os investidores pessoas físicas não apenas tiraram o pé nos aportes em fundos de ações como também de suas transações diretas na B3. Após meses acumulados liquidando posições, sem renovação equivalente — ou seja, retirando dinheiro das posições na B3 — as vendas arrefeceram um pouco. Foram bilhões resgatados das custódias nos últimos meses.

No acumulado de novembro até sexta-feira, dia 19, os investidores diretos da B3 eram vendedores em menos de R$ 300 milhões, ritmo bem mais suave.

O que chama atenção, na verdade, é como a participação da pessoa física no giro do mercado caiu. Tanto quando era compradora como quando era vendedora, esses investidores faziam um giro muito relevante, acima de 12% do total — pelo menos — e as vezes bastante mais.

Em novembro, a fatia das transações (em volume financeiro) nas mãos da pessoa física está abaixo de 8%. Há duas explicações possível e, muito provavelmente, a resposta é uma combinação de ambas. De um lado, o investidor do varejo reorganizou suas posições e migrou para renda fixa e, do outro, aquelas participações mantidas diretamente na B3 agora são mais de longo prazo (inclusive porque o preço, em alguns casos, não compensa a saída).

Cenário

O cenário global de inflação, que está especialmente difícil no Brasil, com aumento na taxa de juros, está afastando o investidor do risco — e trouxe susto até para os balanços da temporada do terceiro trimestre. A dificuldade de previsão do que será 2022 atrapalha o investimento em ações. Mas não se trata apenas disso.

As coisas estão correlacionadas de tal forma que até mesmo o que ocorre com a Poupança é termômetro. Depois de acumular aportes que fizeram o saldo superar R$ 1 trilhão, no ano passado e comecinho deste ano, a poupança vem registrando resgates líquidos sucessivos. No acumulado de 2021, até outubro, o total superava R$ 30 bilhões.

É curioso, mas quando os fundos de ações estavam captando, a poupança também. A retirada de recursos dessa reserva tão acessível sugere que a vida do brasileiro não está simples. E que buscar o dinheiro poupado pode ser sinal de que a renda não esteja suficiente.

Não é de se espantar. Para uma inflação (IPCA) acumulada no ano acima de 10%, a renda média do brasileiro caiu outros 10%. Se o produto fica mais caro, e o dinheiro fica menor, em termos absolutos, não há mesmo como tudo caber dentro do salário.

E se o dinheiro não chega, as empresas vendem menos, valem menos e sobra menos dinheiro para guardar. É tudo parte da mesma roda gigante.

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