Fundação Itaú mede a Economia Criativa e resultado surpreende: 3,11% do PIB
Entre 2012 e 2020, setor cresceu 78%, mais do que a média do PIB
Graziella Valenti
Editora Exame IN
Publicado em 10 de abril de 2023 às 15:33.
Última atualização em 10 de abril de 2023 às 15:55.
A Fundação Itaú quis e conseguiu colocar em números a percepção de que a Cultura é transformacional. Dentro do que é possível medir, a organização fez esse trabalho por meio do Observatório Itaú Cultural. O resultado do estudo surpreende: a chamada Economia Criativa respondeu por 3,11% do PIB em 2020, ou uma geração de riqueza superior a R$ 230 bilhões. No ano marcado pela pandemia, superou até mesmo a indústria automotiva. É o primeiro levantamento do tipo que se propõe a um trabalho contínuo de medição.
A metodologia foi desenvolvida, ao longo de um ano e meio, por um grupo de pesquisadores, liderado por Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram mais de 30 especialistas nacionais e 4 internacionais envolvidos na criação do método de cálculo, comparando com medições realizadas no Reino Unido, na França, na Colômbia e na União Europeia.
“O motivo maior é porque a sociedade, governos e as próprias empresas precisam reconhecer e perceber que a economia da Cultura e as indústrias criativas são um eixo profundamente estratégico para o desenvolvimento econômico e social”, explica Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, em entrevista ao EXAME IN, sobre as razões que levaram .
O levantamento refere-se a 2020 porque é o último ano para o qual existem disponíveis os diversos dados usados para os cálculos. Mas a pesquisa retrocedeu até 2012 para avaliar como foi a evolução. O que se encontrou é que a participação da Economia Criativa sobre o PIB evoluiu de 2,72% para 3,11% nesse período. Na prática, isso significa que esse campo da atividade teve uma expansão superior à média do PIB.
De acordo com a pesquisa coordenada por Valiati, enquanto o PIB brasileiro teve expansão de 55% entre 2012 e 2020, o PIB da Economia Criativa avançou 78%. "Junto com o tamanho da riqueza produzida, esse foi um dos números mais surpreendentes", comenta Saron. Os setores criativos reúnem moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
Cada vez mais, a soma dessas atividades está mais próxima de um setor que historicamente sempre respondeu por grande parcela do PIB: o de construção. Em 2012, esse segmento equivalia a 6,5% do PIB, percentual que recuou para algo entre 3,8% e 4,%, a partir de 2018.
Existem mais de 130 mil empresas que podem ser classificadas dentro desse ramo e o segmento de moda ocupa destaque especial. Desse total, mais de 50 mil companhias são da indústria de moda. "O setor da moda, para mim, é o que mais perfeitamente expressa a relação entre o industrial e o criativo", destaca Valiati. Ele explicou que a composição do setor enquadrado como economia criativa não vai nem até o agronegócio, com a produção de algodão, nem até serviços, com os varejos de fast fashion. Estão concentradas aí atividades que envolvem a produção, estamparia e testurização, por exemplo.
Com dados mais recentes, é possível ver que essa economia envolveu 7,4 milhões de empregos formais e informais no país, o equivalente a 7% da massa de trabalhadores do país. O número é 4% maior que o verificado em 2021. Só no ano passado, a cultura e a economia criativa geraram 308,7 mil novos postos de trabalho no país.
“Todo esse processo de construção e mensuração envolve quase uma conscientização sobre relevância desse setor não só para o crescimento, mas para o desenvolvimento da sociedade”, afirma Valiati na entrevista. "A Economia Criativa envolve atividades econômicas que têm elementos e impactos que vão além do PIB e é também uma conexão entre tecnologia, valor simbólico e uma nova economia que emerge."
Saron completa a análise lembrando como o setor de tecnologia precisa das indústrias culturais tradicionalmente conhecidas para desenvolver novos serviços e produtos. "O Spotify só existe porque existe a música. A Netflix, porque existe a produção audiovisual."
A partir dessa primeira publicação, os dados ficarão disponíveis no Observatório Itaú Cultural. "Nosso desejo é que sejam consultados e usados por governos, para desenvolver políticas públicas melhores, e até por empresas, que querem entender o impacto de suas ações", destaca o executivo da Fundação Itaú. A partir de agora não há mais desculpas, a relevância está provada e medida.
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Graziella Valenti
Editora Exame INCriadora do EXAME IN, espaço dedicado à cobertura de negócios, com foco em mercado de capitais. Na EXAME desde março de 2020, ficou 13 anos no Valor Econômico, oito como repórter especial, sete anos na Broadcast, do Grupo Estado.