Fluxo estrangulado: MSCI vai excluir Rússia da carteira de emergentes
Exclusão de indicadores globais vai restringir ainda mais fluxo de capital para o país, o que dificulta acesso de companhias a recursos
Publicado em 3 de março de 2022 às 09:21.
Última atualização em 3 de março de 2022 às 09:24.
O mercado financeiro e de capitais segue fechando o cerco contra a Rússia, na tentativa de aumentar a pressão sobre o país após a decisão do presidente Vladimir Putin de abrir fogo contra a Ucrânia, com início dos conflitos na quinta-feira da semana passada, dia 24. Ontem, foi a vez do MSCI anunciar a retirada do país da composição de seu índice de mercados emergentes. A lista de sanções econômicas, das mais diferentes origens, não para de crescer.
Em comunicado ao mercado, o MSCI informou que a decisão foi tomada após ouvir os grandes investidores institucionais mundo afora, em uma consulta que teve início no dia 28 — segunda-feira desta semana. Dessa forma, a Rússia será considerada um mercado avulso. A medida passa a valer a partir de quarta-feira da próxima semana, dia 9.
O país não tinha participação expressiva na composição total e estava disperso em uma lista de "outros", grupo com um peso total de 23% no indicador. China lidera a concentração com pouco mais de 32% da composição total, seguida por Taiwan (16,1%), Índia (12,5%), Coréia do Sul (11,7%) e Brasil (4,6%).
Dessa forma, sua exclusão não deve significar um grande redirecionamento de recursos. A lista das 10 maiores companhias do indicador tem cinco chinesas, duas indianas, uma sul-coreana, uma taiwanesa e uma única brasileira, a Vale. A mineradora também é a principal companhia do Índice Bovespa.
Embora haja um movimento que indique um êxodo dos investimentos em companhias russas, a saída dos investidores, na prática, está difícil de ocorrer. As dificuldades vão desde o fato de o próprio mercado russo estar fechado até a ausência de contrapartes compradoras.
O MSCI não está sozinho em sua decisão. A Bolsa de Londres, LSE, decidiu suspender as negociações com recibos de ações de empresas da Rússia e a FTSE Russel, subsidiária da bolsa londrina que produz diversos índices de ações, vai marcar a zero os ativos do país a partir da próxima segunda-feira, dia 7. A BlackRock, a maior emissora de fundos ETFs do mundo (com quase 35% do mercado global), também suspendeu o fluxo para os fundos passivos de índices dedicados à Rússia.
Todos os movimentos ligados a índices estrangulam o fluxo de investidores passivos em ações, ou seja, que não selecionam caso a caso as aplicações, simplesmente replicam indicadores — fatia majoritária da indústria. Os fundos listados, os tais ETFs, tiveram uma explosão nas últimas duas décadas. De acordo com a plataforma financeira Statista, o volume de recursos sob gestão nos ETFs pulou de US$ 417 bilhões, em 2005, para US$ 7,7 trilhões ao fim de 2020.
E o Brasil com isso?
Neste começo de 2022, o Brasil vinha experimentando um redirecionamento de fluxo do capital externo para o país. Embora não tenha ocorrido em larga escala, foi suficiente para fazer preço no período e puxar os índices locais para cima. No total, a soma de ingressos de dinheiro estrangeiro na bolsa brasileira em janeiro em fevereiro alcançou perto de R$ 59 bilhões. Enquanto isso, o investidor local migrava suas aplicações para a renda fixa — quase R$ 19 bilhões foram resgatados dos fundos de ações nesse mesmo intervalo.
Ainda não está claro como o conflito entre Rússia e Ucrânia vai mexer com o fluxo do mercado de capitais no mundo e se o Brasil vai seguir atrativo na comparação relativa. Além da própria Rússia, o capital internacional vem reduzindo a exposição também à China, dado o cenário de menor atividade econômica. Ambos os movimentos ocorrem há mais de um ano. No entanto, a força com a bolsa brasileira chamou atenção nesse início de ano foi surpreendente. Neste momento, há mais investidores parados, atentos às notícias, do que fazendo grandes movimentações de carteiras.
Petrobras, Vale e outras exportadoras de commodities, em uma primeira análise, podem se beneficiar duplamente: com uma alta no preço das commodities, o que deve fazer os resultados seguirem fortes, e com um possível continuidade ou até aumento do fluxo de recursos para esses negócios.
O Brasil nesse contexto pode se beneficiar também com aumento nos preços das commodities agrícolas, uma vez que a Ucrânica era uma das grandes produtoras da Europa, considerada até mesmo o celeiro do continente. Na bolsa brasileira, contudo, há um mix de empresas que sofrem com essa valorização, por terem grãos como insumos, e que se beneficiam.
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