Fim do jejum? Cosan dá a largada para IPO da Moove nos Estados Unidos
Oferta será a primeira de uma empresa brasileira – seja aqui ou lá fora – desde a abertura de capital do Nubank em novembro de 2021
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 17 de setembro de 2024 às 10:35.
Quebrando um jejum de quase três anos sem IPO de empresas brasileiras, a Cosan deu a largada para a listagem da Moove, sua empresa de lubrificantes, nos Estados Unidos. O documento para a oferta foi arquivado ontem à noite na Securities and Exchange Commission (SEC).
O prospecto ainda não traz valores nem timing, mas segundo fontes ouvidas pelo INSIGHT, a ideia é fazer a precificação na primeira quinzena de outubro.
Em conversas preliminares com investidores, a empresa sinalizou que busca um valuation de cerca de 10 vezes EBITDA, em linha com as empresas do mesmo setor listadas lá fora, o que lhe daria um valuation de R$ 14 bilhões.
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Gestores locais e analistas do sell side, contudo, veem espaço para um múltiplo mais próximo de 7 a 8 vezes o EBITDA – ou seja, um valuation na casa dos R$ 10 bilhões a R$ 11 bilhões.
A título de comparação, a Cosan vale hoje R$ 24,5 bilhões na Bolsa – e tem 70% do negócio da Moove, com os outros 30% nas mãos da gestora de private equity CVC Capital Partners, que entrou no capital em 2018, pagando R$ 570 milhões pela fatia.
A oferta pode ser uma forma de destravar valor para a holding dos Ometto, um papel que sofre com um desconto crônico em relação à soma das partes.
“É um negócio sobre o qual o mercado conhece pouco e sempre foi muito opaco, com a Cosan abrindo poucas informações sobre o negócio. Agora é uma questão de entender melhor a dinâmica do business”, diz um gestor que esteve em conversas recentes com a direção da companhia.
A Moove é uma das líderes em fabricação e venda de lubrificantes na América Latina e tem a exclusividade para a marca Mobil do Brasil.
O negócio veio com a compra dos postos Esso em 2008 e desde então veio de diversificando, tanto em produtos quanto em geografias – tanto por crescimento orgânico quanto por aquisições.
No primeiro semestre, 47,3% da receita foi gerada na América do Sul, 29,2% na Europa e 23,5% na América do Norte.
O maior vetor de crescimento deve vir de fora do Brasil. Parte do uso dos recursos com a oferta deve ser usada para essa estratégia – que tem se mostrando bem sucedida.
Em 2022, a companhia comprou a PetroChoice, líder em lubrificantes premium nos Estados Unidos, por US$ 479 milhões e desde então vem conseguindo aumentar a rentabilidade e o tamanho do negócio.
No prospecto, a Moove afirma que se vê como “consolidadora natural” num mercado endereçável “massivo”. A PetroChoice, por exemplo, tem apenas 4% do mercado americano, mostrando as oportunidades de consolidação num setor amplamente pulverizado.
Sem atuar na indústria de base de químicos e petroquímicos, a Moove atua na etapa da transformação e da comercialização dos lubrificantes, o que a posiciona numa das etapas mais lucrativas da cadeia, segundo a empresa defende no próprio prospecto.
Enquanto o negócio de lubrificantes é secundário em empresas de distribuição de combustíveis mais ampla, a Moove é mais focada e consegue comandar margens mais suculentas pelo seu nível de especialização.
A companhia vem se fortalecendo cada vez mais no segmento de lubrificantes premium e especializados, voltados para a indústria – onde o consumo está diretamente ligado à produtividade – e para setores pesados de transporte, como o aéreo e o marítimo, que tem margens mais elevadas.
“A margem bruta de negócios de lubrificantes como os da Vibra e da Ultra é metade da margem EBITDA que a Moove consegue fazer”, diz o gestor.
Dados do balanço mostram que o negócio é pouco intensivo em capex: menos de 2% das receitas foram consumidas em investimentos nos últimos anos, ainda de acordo com dados do prospecto.
Isso garante um retorno sobre capital investido expressivo, de 19,2% ao fim de 2023 e de 16,2% em 2022. No primeiro semestre deste ano, o indicador ficou mais baixo, em 10,7%.
A Moove faturou R$ 5 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, queda de 1,6% em relação ao mesmo período de 2023 – mas um avanço na rentabilidade. A margem EBITDA passou de 12,4% para 13,7% e a empresa saiu de prejuízo de R$ 58,4 milhões para R$ 237,6 milhões de lucro.
Em 2023, a companhia faturou R$ 10,1 bilhões com lucro de R$ 266 milhões.
A oferta deve dar saída parcial para o CVC Capital Partners e ainda não está claro se a Cosan pode fazer alguma venda – o que deve depender essencialmente do múltiplo pelo qual a empresa vai ser avaliada.
JP Morgan, Bank of America e Citi são os coordenadores globais da operação, seguidos por Itaú BBA, BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e Santander. O sindicato conta ainda com a Goldman, Jefferies e Morgan Stanley na segunda linha.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.