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Dívidas empresariais

Do Brasil para o mundo: gestora IG4, dona da Iguá, prepara 3º fundo

Criada em 2016, casa criada por Paulo Mattos vai alcançar US$ 1 bilhão em ativo sob gestão em 2021

Dinheiro global: além de captação global, IG4 investe fora do Brasil e parte para 3º fundo (iStock/iStockphoto)
Dinheiro global: além de captação global, IG4 investe fora do Brasil e parte para 3º fundo (iStock/iStockphoto)

Publicado em 16 de outubro de 2020 às 13:03.

Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 15:22.

A IG4 Capital, gestora de private equity fundada por Paulo Mattos e que começou a partir da reorganização da antiga CAB Ambiental — atual Iguá Saneamento  —, já prepara a partida para a captação de seu terceiro fundo. A meta é levantar 400 milhões de dólares. Os planos são para o começo de 2021 e, até lá, a expectativa é ter concluído a fase de investimentos da segunda carteira.

Mattos, que já tem hoje mais de 500 milhões de dólares em ativos sob gestão, vai alcançar o primeiro 1 bilhão de dólares em meados de 2021. Quanto mais cresce, mais internacional a casa fundada em 2016 fica. “Não foi um plano de largada, necessariamente, mas olhava para esse mercado e pensava: ‘por que não ser global'?”, conta ele em entrevista ao EXAME IN, lembrando que o Brasil é a 9ª maior economia do mundo. “O empresário e os profissionais brasileiros são muito versáteis, constantemente desafiados pelos diversos tipos de crise que atingiram o país. Sempre achei que isso poderia ser bem aplicado fora daqui.”

O primeiro fundo é exclusivo da Iguá, a terceira maior empresa de saneamento privado do país, que atende mais de 7 milhões de pessoas, em 37 cidades. Portanto, é uma carteira dedicada ao Brasil. Já o segundo, que hoje já tem dentro a companhia de infraestrutura hospitalar Opy Health e está concluindo as aquisições do Terminal de Grãos do Maranhão, o Tegram, e do conglomerado de infraestrutura Graña y Montero, um dos maiores do Peru, deve encerrar a fase de investimentos com metade da alocação no Brasil e metade na América Latina. Há uma transação próxima de ser concluída no Chile, mas que Mattos ainda prefere não dar detalhes.

Para o próximo e terceiro fundo, a IG4 mira extrapolar as fronteiras do continente e está atenta às oportunidades no sul da Europa, em especial Espanha e Itália. “Vamos olhar prioritariamente para a América Latina, mas podemos aproveitar bons negócios que surgirem nesses países.”

Para isso, a casa reforçou a equipe e se espalhou pelo mundo. A IG4 abriu dois novos escritórios fora do Brasil: em Lima, no Peru, e em Madri, na Espanha. Somado às presenças em Londres e em Santiago, já são cinco países. O time também cresceu: Juan Revilla chega para assumir a originação de investimentos e Gema Esteban Garrido será responsável pelo posicionamento estratégico em ESG da casa — ambos ficarão entre Madri e Londres. Loy Pires, que já era membro independente do comitê de investimentos, assume agora a estratégia de internacionalização, Jean Paul Rocha passa a cuidar de todos os temas regulatórios nas operações no Brasil e Gustavo Zeno, coordenará o time operacional, entre São Paulo e Lima. A gestora reúne agora um time com 25 profissionais e 30% deles estão fora do Brasil.

DNA

Mattos reforça que a expansão não modifica em absolutamente nada o DNA da IG4: uma gestora que atua no processo de recuperação de companhias em dificuldades financeiras. A casa reorganiza as dívidas, muitas vezes pela aquisição dos créditos, e assume controle e gestão dos negócios. É uma atuação totalmente “hands on”, como costuma enfatizar o fundador. Em bom português, é o clássico “mão na massa”. Por isso, a gestora tem uma equipe dedicada à operação, ou seja, de pessoas que assumirão a função de executivos nas empresas, como é o caso de Carlos Brandão, ex-diretor financeiro da Oi que chegou na presidência da Iguá em julho.

O prazo de investimento médio vai de oito a dez anos, período durante o qual a IG4 reorganiza toda a vida corporativa da empresa, desde a criação e implementação de um plano estratégico até a formação da cultura da companhia. Na mira, estão empresas da economia real, nada de growth,  techs e fintechs. Na IG4, fazem sucesso negócios que poderiam ser chamados de velha economia, se fosse possível dividir o mundo nessa atual realidade em que a tecnologia está por todos os lados e modificando todos os setores.

O processo de reformulação da gestão inclui o desenvolvimento dentro das investidas de atributos ambientais, sociais e de governança — a internacionalmente conhecida sigla ESG. A IG4 não usa os fatores ESG para selecionar investimentos, mas trabalha justamente para a transformação das investidas, para que elas sejam negócios guiados por esses princípios. “Não usamos ESG como filtro, mas como ação”, resume Mattos.

A chegada de Gema Esteban Garrido, que era a principal executiva de ESG no grupo espanhol Telefónica, vem justamente para garantir um processo uniforme nas companhias. A gestora é uma das duas únicas do país reconhecida e certificada como uma “B Corp”, aquelas que trabalham pelo desenvolvimento de um novo ecossistema econômico. Além disso, também aderiu ao Princípios do Investimento Responsável (PRI), desenvolvido pelas Organizações das Nações Unidas (ONU).

“A cultura atenta ao ESG não tem nada de filantrópica. Não se tratado disso e é preciso acabar com esse mito. Vivemos isso muito claramente na Iguá. A companhia se tornou mais eficiente e têm margens melhores que o restante do setor também por essas preocupações”, diz Mattos. Durante o período em que está à frente das companhias, a IG4 dá foco na geração de valor justamente pelo desenvolvimento da robustez dos negócios.

 

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