Brasil Solar cria fundo e planeja captar R$ 900 mi para financiar construção de 38 usinas
Fundo é administrado pelo BTG Pactual e visa atrair investidores interessados em energia 'verde'
Publicado em 12 de setembro de 2022 às 14:32.
Última atualização em 12 de setembro de 2022 às 15:50.
A Usinas Brasil Solar (BRS), empresa especializada em geração distribuída, criou um Fundo de Investimentos em Participação em projetos de Infraestrutura (FIP-IE), o OBB Brasil Solar. A primeira captação será realizada ainda em 2022, com o intuito de levantar R$ 400 milhões. Em 2023, na segunda etapa do fundo, caso os cotistas aprovem, o objetivo é captar outros R$ 500 milhões e viabilizar mais 65 MW em projetos. O intuito é financiar a construção de 38 usinas solares no país, localizadas no sudeste.
Neste ano, o fundo estará aberto somente a investidores profissionais (aqueles com patrimônio mínimo de R$ 10 milhões). A partir de janeiro do ano que vem, entretanto, estará aberto para investidores qualificados (patrimônio de R$ 1 milhão), com um tíquete mínimo de investimento de R$ 50 mil. “O objetivo da companhia é abrir ao mercado a oportunidade de participar de um investimento verde, renovável, alinhado com os padrões ESG e com rentabilidade previsível e atrativa”, diz Rafael D’Angelo, diretor da Brasil Solar, em entrevista ao EXAME IN.
O retorno almejado é de IPCA+14% ao ano. O fundo é administrado pelo BTG e gerido pela OBB Capital. Na pessoa física, o gestor responsável é André Caminada, que possui mais de 34 anos de experiência no mercado, tendo passado pelo Citibank, Itaú e Victoire.
Questionado a respeito do retorno alto para os investidores, especialmente em um patamar de juros básicos elevados, D’Angelo explica que dois motivos contribuem para tal rentabilidade: o primeiro é a expertise da Brasil Solar com projetos de energia fotovoltaica, uma vez que a companhia é totalmente verticalizada e cuida desde a instalação das placas solares até à gestão dos projetos.
O fato de ser uma empresa que é a dona das usinas e que chega até a ponta final, o cliente – ainda que possa contar com intermediários no meio – é o trunfo na manga que a companhia tem para convencer investidores de que é possível aportar recursos nos projetos dela de forma segura. “A gente cuida de tudo. Teremos uma central de controle em Barueri, na nossa sede, com monitoramento remoto de todas as usinas e uma equipe preparada para fazer reparos quando necessário. Garantimos que não haverá ‘surpresas’ para o investidor”, diz D’Angelo.
O segundo motivo é a tarifa de energia no Brasil que, por seu valor alto, permite ao consumidor final ter desconto no valor pago ao mesmo tempo que ainda garante rentabilidade para empresas do setor. O país tem a segunda energia elétrica mais cara do mundo, como mostrou um levantamento realizado pela Agência Internacional de Energia (IEA) com base em dados de 2018.
Ainda sob um ponto de vista macro, a ideia de criar um fundo de investimentos para financiar a expansão da companhia veio a partir do Marco Legal de Geração Distribuída (Lei 14.300/2022), que trouxe uma base sólida para a operação do setor no país, mesmo com a popularização das placas solares no país desde 2016. Unir esse fator a uma empresa que, apesar de recém-nascida, tem executivos experientes no setor no comando (a companhia não divulga quem são, por enquanto, por questões organizacionais, mas deve divulgar de forma mais clara a partir do mês que vem) foi a oportunidade perfeita para estruturar a plataforma de investimentos.
“É um setor com alto potencial de retorno e que, por isso, atrai muitos ‘aventureiros’. E aí o que acontece é que, por não conhecer como o setor funciona, acabam prometendo uma rentabilidade no início dos projetos e depois vão diminuindo ao longo do tempo. Não é nosso caso”, diz D’Angelo.
Para onde vai o dinheiro?
Os recursos serão usados para financiar a construção de 38 novas usinas no país, mirando principalmente o uso de recursos para equipamentos e compra de painéis solares. Não há aquisição de terreno com o dinheiro (até mesmo por questões da forma como o fundo foi estruturado) mas serão feitos arrendamentos para instalar as placas solares em cada um dos locais. As usinas estarão em três regiões: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os estados foram escolhidos dessa forma porque conciliam um tripé de tarifas de energia atrativas, benefícios fiscais e grande demanda por energia.
A capacidade futura será de cada uma das usinas será de 1MW. “Fica mais fácil, ao trazer investidores, vender blocos de 1MW, por isso essa é a capacidade escolhida. Mas não estamos restritos a isso, há usinas que estão preparadas para serem expandidas e poderão chegar a 2,5MW”, diz o executivo.
Considerando somente o ponto de partida, sem as expansões, a geração será de 1.800 Mwh/ano, o equivalente a abastecer cerca de 1.000 residências, considerando o consumo médio no Brasil. Apesar da comparação, a energia será vendida, neste primeiro momento, principalmente a estabelecimentos comerciais de pequeno e médio porte – que visam a redução dos custos com energia na comparação com o sistema tradicional de abastecimento. Um ponto importante: toda a capacidade futura das usinas a serem construídas já está contratada.
Hoje, a capacidade instalada da Brasil Solar se resume a duas usinas que vão entrar em operação ainda neste mês: Avelar 1 e Avelar 2, construídas na região serrana do Rio de Janeiro. Cada uma tem 1MW de potência, como manda o padrão da empresa. Individualmente, atendem hoje a 24 clientes, somadas em igual parte. São predominantemente restaurantes e escritórios, mas a ideia da companhia é focar cada vez mais na diversificação desse público, formando as bases para atender clientes pessoa física.
Concorrência
A empresa não está sozinha ao buscar investidores para fomentar o investimento em energia solar. Fora do Brasil, em 2020, a Sunrun, empresa norte-americana de sistemas fotovoltaicos para residências, comprou a concorrente Vivint Solar em um acordo de US$ 3,2 bilhões. O objetivo? Mirar o mercado norte-americano, em que a geração distribuída tem apenas 3% de penetração.
Olhando para o Brasil, em junho deste ano, a empresa de energia renovável norte-americana Energea declarou estar ampliando o foco especialmente em solar no Brasil. A empresa tem cerca de 60 usinas de energia solar no Brasil e pretende aumentar sua capacidade para 0,5 gigawatt, dos atuais 100 megawatts, de acordo com informações publicadas pela Reuters. "O Brasil é inquestionavelmente o mercado de energia solar mais atraente do mundo", disse o cofundador Mike Silvestrini à agência de notícias.
A razão é clara: os altos índices de irradiação solar do país. Uma comparação comum no setor é a com a Alemanha, país que investe continuamente nesse tipo de geração: aqui, a incidência de luz é 50% maior do que a de lá, permitindo maior geração de energia em praticamente todas as regiões do país. Além disso, uma estimativa da Absolar aponta que em 2022 a capacidade instalada dessa matriz será de 24,9GW no país, um crescimento de mais de 90% em relação ao fim do ano passado.
Em meio à aprovação recente do marco regulatório para o setor e às discussões cada vez mais frequentes sobre esse modelo de geração como uma alternativa para avançar em meio a uma demanda que só cresce, o que a Brasil Solar quer é mostrar, desde já, é que tem a capacidade de ser a empresa que vai trazer ‘a energia do futuro’ para cada vez mais perto.
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