Aumento da Selic anula ganhos operacionais da Ânima, que tem prejuízo de R$ 24 mi
Companhia obteve ganhos operacionais, que ficarão mais claros a partir do próximo trimestre na comparação de dois períodos com a Laureate incorporada
Publicado em 15 de agosto de 2022 às 10:01.
Última atualização em 19 de agosto de 2022 às 11:47.
A Ânima Educação passa por uma sina comum neste ano: a de empresas que tiveram avanços operacionais na comparação com o mesmo período do ano passado, mas em que o nível alto de dívida, somado ao aumento dos juros, derruba a última linha do balanço. No primeiro trimestre, a companhia teve uma redução expressiva do lucro por causa da despesa financeira e, agora, teve prejuízo de R$ 24 milhões, revertendo lucro de R$ 42,4 milhões no mesmo período do ano anterior. Cabe a ressalva: os dados da Laureate foram incorporados ao balanço somente a partir do momento em que a aquisição foi concluída – e não foram dimensionados ‘pro forma’ no balanço.
Direto ao ponto do resultado financeiro, principal impacto negativo deste trimestre, é possível perceber que o aumento da despesa de comissões e juros com empréstimos passou de R$ 63,4 milhões para R$ 132,9 milhões. Esse efeito fez com que, no fim, a companhia tivesse de pagar R$ 172,5 milhões em obrigações financeiras, mais do que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.
Bom lembrar que a Ânima fez um esforço de reestruturação de dívida no primeiro trimestre, a partir da injeção de recursos da DNA Capital. O aporte fez com que a companhia conseguisse amortizar de uma vez o pagamento de debêntures a CDI+4,75% e pegar outra dívida, a CDI+2,6% ao ano. O ponto é que, no período, a Selic aumentou 2,05 pontos percentuais, praticamente eliminando o efeito de renegociação do montante dos primeiros três meses do ano para cá.
“O resultado financeiro vai cair à medida que o CDI cair, o que projetamos que deve acontecer somente no segundo semestre do ano que vem. Com o business as usual, nossa estratégia é a de ter um impacto menor no lucro por causa do crescimento do resultado operacional”, diz André Tavares, CFO da Ânima Educação, ao EXAME IN.
Ao analisar os indicadores operacionais da companhia – lembrando que não se trata de uma comparação exata, porque a Laureate só foi incorporada aos números em junho – houve aumento de 57,8% na receita, para R$ 910,5 milhões. Além do crescimento das matrículas em graduações e pós-graduações, principal linha de faturamento, a companhia também mostra avanços rápidos das demais verticais: Inspirali já representa 30% da receita do grupo e, a de Ensino Digital, que veio a partir da aquisição, responde por 6%.
A margem bruta teve retração de 0,6 ponto percentual no período, explicada principalmente por um efeito contábil. Com a entrada da DNA Capital, a companhia fez mudanças. O que quer dizer: antes, a cobrança ficava toda na parte administrativa do balanço, de forma consolidada. Agora, as cobranças de alunos de modo geral tiveram de ser reclassificadas e passaram a entrar direto como custo em cada uma das divisões.
O Ebitda no período foi de R$ 266 milhões, aumento de 88,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. A margem ebitda teve um ganho de 4,8 pontos percentuais no período, para 29,2%.
No trimestre, ainda é possível perceber uma variação elevada de despesas como as administrativas e comerciais, também resultado da comparação imperfeita com o mesmo trimestre do ano anterior. Ao analisá-las como percentual da receita, entretanto, é possível perceber certa eficiência. As gerais e administrativas representavam 12,3% do faturamento no segundo trimestre do ano passado e, agora, estão em 12,1%. E as comerciais passaram de 12% para 10%. Olhando para os custos, a variação em relação à receita também foi sutil: de 36,8% para 37,4%.
No período, os investimentos tiveram aumento de 22,5%, para R$ 54,9 milhões, mas uma diminuição em relação ao percentual de receita, de 2,9 pontos percentuais. Os aportes em Transformação Digital, entretanto, são ressaltados no balanço como um ponto que permanece. Trata-se de uma estratégia adotada pela Ânima desde 2017, mas que ganhou força com a pandemia, dado que o ensino digital e híbrido proporciona alta rentabilidade – a partir do momento em que a estrutura está montada, pode-se agregar cada vez mais alunos sem tantos aumentos de custos.
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