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Alibaba ganha uma WEG em valor de mercado com plano de IPOs para unidades de negócio

Enquanto isso, questões sobre taxação no país permanecem incertas

Alibaba: estimativa de analistas é que companhia tenha vendas totais R$ 12 bilhões no Brasil (Aly Song/File Photo/Reuters)
Alibaba: estimativa de analistas é que companhia tenha vendas totais R$ 12 bilhões no Brasil (Aly Song/File Photo/Reuters)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 29 de março de 2023 às 09:08.

Última atualização em 29 de março de 2023 às 10:11.

O conglomerado de Jack Ma vai se transformar em uma holding. É essa a mensagem que fica do anúncio feito nesta terça-feira (28) de que a empresa vai desmembrar sua atuação em seis companhias diferentes, que ficarão abaixo de uma holding: cloud computing, e-commerce chinês, e-commerce global, mapeamento digital e delivery, logística e mídia e entretenimento. Por enquanto, o movimento visa principalmente mudar a governança corporativa e deixar clara a autonomia de cada subsidiária. No futuro, cada unidade de negócio poderá captar dinheiro e inclusive por meio uma oferta pública inicial (IPO) no momento que considerarem ideal, de acordo com a nota enviada pelo Alibaba à imprensa e reproduzida pelo Wall Street Journal.

A exceção fica com o e-commerce doméstico, a vertical com a maior receita de todos, que permanecerá 100% detida pela "empresa mãe". O mundo chinês e os dados chineses sempre mais protegidos. De acordo com as informações mais recentes divulgados pelo Alibaba ao mercado, o e-commerce chinês faturou 446 bilhões de yuans no acumulado de nove meses até dezembro (aproximadamente US$ 65 bilhões), quase nove vezes mais do que o e-commerce global, cuja receita no período foi de 50 bilhões de yuans (ou US$ 7 bilhões). A divisão de Cloud teve receita de 58 bilhões de yuans (ou US$ 8,5 bilhões) no mesmo período, a vertical de logística faturou 42 bilhões de yuans (cerca de US$ 6 bilhões) e, a de mídia, 23 bilhões de yuans (ou US$ 3 bilhões).

De acordo com estimativas do Goldman Sachs apontadas pelo Financial Times, analistas estimam que a divisão de e-commerce tenha um valor de US$ 103 por ação, enquanto a divisão de cloud tenha os papéis cotados a US$ 16 e o e-commerce internacional, US$ 12.

O mercado viu o movimento de forma positiva, refletindo a percepção de que as unidades de negócios hoje estão descontadas dentro da estrutura atual. O velho desafio do desconto aplicados sobre holdings.

Com a novidade, os papéis do Alibaba tiveram alta de 14% na Nyse ontem (28), e ganharam o equivalente ao valor de mercado da WEG neste pregão, de acordo com cálculos do Trademap. Com isso, a companhia está avaliada a US$ 261,02 bilhões na bolsa, um valor que ainda coloca o conglomerado chinês entre as maiores empresas do mundo, mas que representa quase um quarto dos US$ 800 bilhões a que já foi avaliado anteriormente.

O ambiente na China parece mais propício para o anúncio realizado nesta semana. Jack Ma foi visto no país - do lado de fora da companhia - depois de meses, o que  também conta ponto para o anúncio realizado hoje. O WSJ lembra os planos anunciados em dezembro pelo governo chinês, de um crescimento de PIB em 5% para este ano. Na rota que vai (ou não) levar até lá, autoridades planejaram mais investimento em real estate e em retomar a confiança do empresariado local, desenvolvendo o ecossistema de tecnologia do país, ainda segundo o jornal. No fim do ano passado, oficiais da província de Zhejiang chegaram a levar uma delegação de executivos para uma viagem à França e à Alemanha.

Não custa lembrar que, ao longo dos últimos dois anos, o Alibaba teve de lidar com uma multa recorde aplicada por reguladores chineses por práticas anticompetitivas. De acordo com o Financial Times, os planos mostrados ao mercado nesta terça passaram, antes, por revisão dos reguladores locais e receberam um feedback positivo.

Saindo do olhar macro local para o setorial, o movimento anunciado hoje também encontra precedente entre grandes companhias de tecnologia. Do lado chinês, a Bytedance (dona do TikTok e dos menos conhecidos Helo e Lark) segue, em boa medida, a estrutura adotada a partir de agora pela empresa co-fundada por Jack Ma, mesmo antes de ser listada. A empresa-mãe da rede social de vídeos curtos é a startup mais valiosa do mundo, avaliada em US$140 bilhões, de acordo com dados da CB Insights compilados pela empresa alemã Statista. A companhia está ensaiando o IPO há alguns anos, mas teve seus planos cancelados em meio ao aperto do cerco de Pequim sobre as empresas de tecnologia -- um movimento que veio após a tentativa de abertura de capital do Ant Group.

Recentemente, como lembra o Financial Times, outro grupo de e-commerce, o JD.com, seguiu um caminho similar, listando diferentes negócios em Hong Kong.

A estrutura adotada pela empresa chinesa também se assemelha ao que foi feito entre Google - agora Alphabet. Em 2015, a holding foi criada para reunir sob seu guarda-chuva todos os produtos e serviços que vão além do buscador (Android, Gmail, YouTube e por aí vai). O objetivo, na época, era justamente melhorar a forma como a empresa era organizada e administrar diferentes negócios com foco e de forma independente. Hoje, a empresa vale US$ 1,29 trilhão. Outra semelhança, fora do setor de tecnologia puro e simples, está com a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett.

O drama do Alibaba, de buscar uma melhor percepção de valor pelos investidores, é quase universal. Mesmo no Brasil é possível traçar um paralelo com diferentes empresas de setores variados no Brasil. A Cosan, por exemplo, ao listar os diferentes ativos embaixo de seu guarda-chuva, bem como o Grupo Pão de Açúcar, ao listar separadamente o Assaí (no Brasil) e o Éxito (na Colômbia) e, de forma mais recente, a Natura&Co, com a intenção de venda da Aesop e o plano de dar mais autonomia às unidades de negócio.

Falando de Brasil

O AliExpress sofre por aqui as mesmas críticas que Shopee e Shein.  O ponto principal de embates é a taxação dos produtos que chegam por aqui. Com propostas encaminhadas, mas sem nenhuma regra final aprovada ainda, varejistas locais apontam, via associações, que a evasão fiscal de empresas como o AliExpress, Shein e Shopee passou de R$ 15 bilhões no último ano. Nas contas de fontes que acompanham a empresa, o AliExpress movimentou em valor bruto de vendas (o famoso GMV) R$ 12 bilhões em 2022. Apenas para efeito de comparação, Magazine Luiza (MGLU3) fez pouco mais do que isso apenas no quarto trimestre, considerando apenas as vendas online.

No mercado brasileiro há 13 anos, o AliExpress passou a agregar vendedores brasileiros à sua base a partir de 2021 e, no mesmo ano, anunciou investimentos para diminuir o tempo de entrega de produtos vindos da China, fazendo com que produtos de fora do país chegassem aqui em quinze dias e, depois, em sete. A ideia, ao agregar vendedores brasileiros, era a de que, em cinco anos, eles representassem metade do total de sellers. Mas, os planos não aconteceram bem como o esperado. Em seis meses, o total de brasileiros vendendo na plataforma foi de apenas 3% e, hoje, está em 5%. Um comportamento bastante diferente da Shopee, por exemplo, que tem ampla adesão de players locais em seu marketplace.

O tíquete médio da operação local, segundo estimativas de fontes consultadas pelo EXAME IN, está perto dos US$ 25, tanto por causa do perfil de produtos vendidos -- uma das principais categorias vendidas pelo site é a de eletrônicos -- quanto pelos gastos com logística.

A companhia ainda não tem, por exemplo, um centro de distribuição local, diferentemente da concorrente norte-americana Amazon. O que existe é uma parceria com a Cainiao, de logística do grupo Alibaba, e com o ecossistema da Infracommerce, de olho em oferecer full-commerce. Quem opta por esse método pode vender produtos com taxas de comissionamento (retidas pelo marketplace) próximas de 20% localmente, e custos de frete que começam em R$ 6.

Ainda é cedo para cravar o efeito que os novos planos do grupo devem ter sobre a divisão brasileira, tampouco qual deve ser o nível de investimento para cá daqui para frente. A "nova" empresa terá de lidar com uma série de efeitos regulatórios que podem dificultar o crescimento no país. E resolvê-los, na medida em que forem prioritários. Mesmo com a tão falada perspectiva de crescimento que o e-commerce apresenta (hoje, as vendas pela internet representam apenas 10% do varejo), galgar esse espaço não será um passeio no parque para o AliExpress.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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