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Ultrapar: balanço tira R$ 2 bi do valor de mercado da empresa em um só dia

Ações da empresa caem quase 12% após resultado mostrar que operação da rede Ipiranga segue com perda de rentabilidade

GV

12 de agosto de 2021 às 14:40

O resultado do segundo trimestre da Ultrapar, mais uma vez, trouxe insatisfação ao mercado e as ações da empresa derretem na bolsa nesta quinta-feira, dia 12. A rede de combustíveis Ipiranga, que era a queridinha das operações, se transformou num pesadelo e a preocupação dos investidores começa a ir para além da gestão de portfólio da holding, que abriga ainda Ultracargo, Ultragaz, Oxiteno e Extrafarma — essas duas últimas em fase final de saída da carteira.

Depois da venda da Extrafarma para a Pague Menos — que gerou o reconhecimento de uma perda de R$ 395 milhões no resultado do segundo trimestre — o grupo está muito próximo de assinar a venda da Oxiteno para a tailandesa Indorama. Uma transação que vai superar US$ 1 bilhão. Seria um momento para uma virada, com a Ultrapar demonstrando que vai chacoalhar os investimentos.

Mas nada disso mais é suficiente sozinho. As ações caem quase 12%, para baixo de R$ 15,35. O tombo está tirando nada menos do que R$ 2 bilhões de valor de mercado da companhia, que estava ontem em R$ 19,35 bilhões e está agora em R$ 17,27 bilhões — patamar só registrado dentro do período mais intenso das incertezas relacionadas à pandemia, em meados de 2020. Em 2018, a empresa chegou a valer R$ 45 bilhões. Mas, desde que perdeu a mão na distribuição de combustíveis, nunca mais chegou nem perto dessa avaliação.

O segundo trimestre repetiu a frustração do primeiro e ainda piorou. As margens da Ipiranga estão ainda mais achatadas. Assim, o crescimento de 19% na receita líquida consolidada, para R$ 28,5 bilhões, do primeiro para o segundo trimestre, em nada trouxe otimismo — ante mesmo período de 2020, o aumento é de 80%. Mais uma vez, a força do desempenho esteve em Oxiteno, prestes a ser vendida, e na Ultracargo, que não é encarada como a operação mais sexy do negócio.

Apesar de a Ipiranga ter registrado crescimento de 20% sobre a receita líquida do primeiro trimestre, para R$ 23,8 bilhões, o Ebitda caiu 25% nessa mesma comparação, para R$ 422 milhões. Ou seja, a margem despencou de 2,8% para 1,7%. O setor gosta de olhar a margem Ebitda por metro cúbico de combustível. No caso da Ipiranga, ficou em R$ 52, comparado a R$ 98 da BR Distribuidora — o balanço da Raízen (Shell) ainda não saiu.

O mercado está começando a demonstrar que perdeu a paciência. E os clamores por uma troca de gestão — mais ampla — começam a ir para o megafone. Apesar de Marcos Lutz ter sentado no conselho de administração, a mudança de comando, que implica na saída de Pedro Wongtschowski da presidência do colegiado ainda não ocorreu. Enquanto isso, Lutz segue acumulando diagnóstico, mas não consegue dar grande contribuição.

"Falta senso de urgência", disse um analista de um fundo investidor. A sensação é de que Ipiranga se tornou uma terra impenetrável, conforme o tempo passou após o afastamento de Paulo Cunha. Havia expectativa de alguma antecipação da sucessão de Wongtschowski, mas já é meio de agosto e não há sinais de que antes de abril de 2022 algo aconteçerá. E agora as queixas começam a extrapolar o conselho de administração e recair sobre a condução do dia-a-dia.

A teleconferência sobre o balanço divulgado ontem à noite não ajudou a agregar confiança. Ao contrário. Após as apresentações, a conclusão dos investidores é que só um choque de gestão pode salvar a companhia. Há muito tempo há rumores de que um grupo de referência reformulado, liderado pela posição de Fabio Igel e seu irmão, mais o próprio Lutz, pode ganhar força com alguns pequenos movimentos em Ultra. Nenhum dos envolvidos, porém, confirma qualquer atitude ou plano nessa direção. Entre os investidores de mercado, por enquanto, dedos cruzados de alguns, enquanto outros simplesmente decidiram começar a desembarcar do negócio.

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