Stone: o que o mercado não entendeu na saída de Eduardo Pontes
Sócio-fundador está dedicado à Salt Pay, e superpoderes deixaram de fazer sentido na Stone
Publicado em 2 de junho de 2022 às 11:50.
A saída de Eduardo Pontes do bloco de controle da Stone está causando ruído no mercado. Ele é um dos principais nomes da fundação do negócio que popularizou as maquininhas Brasil a dentro, ao lado de André Street. Mas os investidores estão analisando a mudança com um mindset de companhia brasileira: no qual controladores não abrem mão de sua posição. Nos Estados Unidos, é tudo bem diferente.
O que poucos sabem é que Pontes estava já há tempos pouco engajado com a Stone. E isso vem de bem antes dos desafios do negócio nas trágicas operações de crédito ou na integração da Linx. Pontes mora em Londres. E, de lá, o negócio que há tempos mais demanda sua atenção é a Salt Pay, a Stone versão europeia — na qual Street também é acionista importante.
Mas a dupla, no lugar de dividir atenção, decidiu concentrar. Pontes, na Salt e Street, na Stone. Além disso, há a diferença de governança e cultura entre Estados Unidos e Brasil. A Stone é uma brasileira que vive sob as regras e o formato americano.
Pontes transformou sua posição em ações classe B, com super voto, em classe A, com liquidez de mercado. O investimento na empresa foi para o trustee que concentra seu patrimônio familiar. A leitura superficial de seu movimento é que ele estaria se desvinculando da empresa. Mas isso, ocorreu há tempos. A única consequência prática dessa decisão é que a Stone deixou de ter controle majoritário. Os sócios, somados, passarão a deter 40% do poder de voto, ante a 50%.
Nos Estados Unidos, uma ação classe B é destinada a fundadores que ficam com uma espécie de superpoderes. É uma estrutura de governança antiga, adotada pela Ford, mas que ganhou vida nova depois da oferta pública inicial (IPO) do Google e passou a ser "o pretinho básico" na listagem das techs que vieram a seguir, independentemente do tamanho. Eles são merecedores desse benefício justamente por aquilo que podem contribuir com a empresa.
A crise na Stone colocou Street de novo muito ativamente no dia-a-dia da companhia. E deixou claro que sim, o olho do dono faz diferença. Augusto Lins, Street e Thiago Piau estão a pleno vapor na reorganização dos negócios, colocando a nau na direção certa mais uma vez. O afastamento de Pontes para cuidar do outro negócio da turma começou em 2019, quando passou a posição de CEO para Piau.
A crise e a governança
A Stone foi com muita sede ao pote às oportunidades do mercado de crédito e montou uma carteira de R$ 2 bilhões em pouquíssimo tempo. Pior, não tirou o risco de dentro do negócio, nem diluiu. O prejuízo veio logo após a compra da Linx. Cereja no bolo: a integração das verticais maquininhas e software não ocorreu nem na velocidade nem na forma que o mercado esperava.
O resultado foi mais do que uma crise de negócios, uma crise de credibilidade da gestão perante o mercado. O valor da ação que rondou a casa dos US$ 90, no eufórico fevereiro de 2021, está hoje em torno de US$ 10. A companhia vale, portanto, pouco mais de 10% do que já chegou a ser avaliada: está agora em US$ 3 bilhões.
A crise mostrou para a Stone que tudo lá precisa de um chacoalhão e que estava na hora de o conselho de administração trazer novos conhecimentos. Em março e abril deste ano quatro novos membros foram colocados no centro de decisão da companhia: Conrado Engel, com ampla experiência no setor financeiro — tem Santander, HSBC e Losango no currículo —, Pedro Zinner, presidente da Eneva, mais Mauricio Luchetti e Patricia Verderesi, com ampla experiência no gestão de risco.
Na ocasião, saíram do colegiado, além de Pontes (justamente porque já estava com atenção concentrada na empresa europeia), os nomes que foram importantes para validar a tese da Stone no tempo em que era uma novata brasileira na Nasdaq: Ali Mazanderani, fundador e CEO Salt Pay, e Thomas Patterson, sócio fundador da Madrone Capital Partners.
As ações com supervoto sofrem questionamentos e acompanhamentos de governança também nos Estados Unidos. Enquanto aqui no Brasil ser um controlador que olha o negócio de longe é aceito — e quase comum —, na Nasdaq ter uma ação classe B é questão de merecimento, foco e dedicação ao negócio. Não há na companhia sensação de dono abandonando o barco. Ele simplesmente já não estava mais dedicado há bastante tempo.
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