Sobreoferta de celulose deixa Suzano mais cautelosa e grandes M&As ficam fora do radar
Companhia, que acabou de colocar Projeto Cerrado em operação, diz que cenário mais desafiador, com preços mais baixos nos próximos cinco anos e que foco é se desalavancar
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 14:24.
Última atualização em 12 de dezembro de 2024 às 14:43.
O vento virou e deixou a Suzano, maior produtora de papel e celulose do mundo, num tom mais cauteloso. A perspectiva de um desequilíbrio maior entre oferta e demanda no mundo está deixando o cenário mais complexo ao menos nos próximos cinco anos, com preço de celulose menores no horizonte.
Por isso, a exigência é de ainda mais habilidade no controle de custos e cada movimento potencial de crescimento passa a ser mais estudado, disseram executivos da companhia hoje no seu Investor Day.
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O cenário de sobreoferta vem num momento em que as estimativas de custo estão sendo revisadas para cima, principalmente por conta do custo da madeira. Agora, a empresa prevê um custo-caixa de R$ 746 por tonelada em 2027, acima dos R$ 685 projetados anteriormente. No total, o desembolso por tonelada -- que inclui ainda despesas administrativas e com frete -- passou de R$ 1.753 por tonelada para R$ 1900, com a perspectiva de um raio florestal (distância entre a plantação e a fábrica) indo de 137 km para 150 km.
“Empresas com custo caixa muito elevado sofrem mais. Temos que manter e ampliar o controle de custo, é o que está sob nosso controle. Ter operação que em que o custo-caixa permita ter geração de caixa”, diz o CEO, Beto Abreu.
É nesse aspecto em que a entrada da planta de Ribas do Rio Pardo, do Projeto Cerrado, ganha relevância. Embora ajude a aumentar a oferta global, a unidade consegue ser mais produtiva. A expectativa é de que o custo-caixa de madeira de Ribas passe dos atuais R$ 100 por tonelada para R$ 66 entre os anos de 2029 e 2032.
O raio florestal da unidade é menor do que a média da companhia. A companhia reduziu o prazo para a planta entrar em 100% da operação de nove para seis meses.
De olho nessa pressão do mercado e no potencial custo da madeira, a empresa tem intensificado seus esforços de plantio próprio e de maior produtividade por hectare. Quer passar de 100 metros cúbicos de madeira para 107 a 113 metros cúbicos em 20234.
A expectativa é de que ter R$ 1 bilhão em valor presente líquido por metro cúbico de madeira adicional com medidas de silvicultura e de melhoramento genético. A ideia é também reduzir a dependência de madeira de terceiros, hoje em 29%, para 13%.
Outra alavanca da companhia nos ganhos de eficiência está no avanço da divisão de consumo, em que é dona de marcas como Neve e Mimmo. A divisão conta com cinco fábricas espalhadas pelo país.
Uma delas é a fábrica de Mogi das Cruzes, comprada da Kimberly Clark em 2023, onde a Suzano conseguiu reduzir em 46% o custo-caixa da operação desde que assumiu o ativo. No fim do próximo ano, uma sexta fábrica sai do papel, a de Aracruz (ES), que vai aumentar a capacidade em 20%.
Sinal vermelho para grandes M&As
Depois de uma tentativa frustrada de aquisição da International Paper (IP) -- numa transação de cerca de US$ 15 bilhões --, a estratégia para os próximos anos não passa por grandes movimentos inorgânicos, embora a internacionalização e diversificação do portfólio sigam no radar, como aconteceu com as aquisições da Pactiv e da Lenzing.
A prioridade, agora, é dar tração à trajetória de desalavancagem. No terceiro trimestre, a alavancagem da companhia chegou a 3,1 vezes contra o pico de 3,5 vezes do início do ano.
“Não teremos nenhum M&A transformacional que mude essa trajetória de desalavancagem”, disse o novo CFO, Marcos Assumpção, em sua primeira apresentação a analistas e investidores.
Segundo ele, todos os M&As precisam se encaixar na estratégia de ganho de escala e nas avenidas de crescimento, permitindo a empresa manter seu grau de investimento.
Grande parte do esforço de saúde financeira da companhia também passa por um reperfilamento das fontes de recursos. De acordo com a Assumpção, a companhia quer explorar mais mercados encontrar oportunidades de custos mais baixos de captação, por exemplo, o que também pode ampliar os vencimentos dos passivos.
Recentemente, a companhia emitiu novos bonds: levantou US$ 168 milhões em ‘Panda Bonds’, emissão para empresas estrangeiras no mercado chinês.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado