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Risco covid faz uso de derivativos saltar a US$ 15,8 trilhões em 2020

Levantamento do Banco de Compensações Internacionais (BIS) revela arrancada do valor de mercado de derivativos no mercado de balcão; instrumentos cambiais e ações determinam o movimento

Relatório divulgado pelo BIS informa que 80% dos derivativos cambiais em balcão foram fechados em dólar; rebalanceamento de carteiras pode ampliar movimento (Scyther5/Thinkstock)
Relatório divulgado pelo BIS informa que 80% dos derivativos cambiais em balcão foram fechados em dólar; rebalanceamento de carteiras pode ampliar movimento (Scyther5/Thinkstock)

Publicado em 14 de maio de 2021 às 11:07.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às 11:07.

Turbulência ou volatilidade no mercado de câmbio deixa governos e investidores de cabelo em pé. Essa percepção é global e não apenas local porque o dólar é tido como termômetro de risco econômico ou político. Em 2020, porém, tal noção escapou desse binômio com a covid-19. Surgiu o risco sanitário, que falou mais alto e abortou, por meses a fio, a atividade com o abre e fecha das economias e o confinamento de populações. Resultado: saiu todo mundo tentando proteger o dinheiro e a saúde.

E quanto dinheiro! A liquidez global foi — e está — abundante, resultado de maciças intervenções dos maiores bancos centrais para combater os efeitos da pandemia. Essa combinação provocou uma explosão no valor de mercado dos derivativos que são usados justamente como ferramenta para reduzir o risco dos ativos — como dólar, juros e ações — a que estão expostos os investidores. Apenas no segundo semestre do ano passado, a soma dos valores de mercado dos derivativos negociados no mercado de balcão — fora do ambiente auditado e organizado das Bolsas —  saltou US$ 300 bilhões, para US$ 15,8 trilhões em dezembro. Em 2018, era 39% menor.

Levantamento divulgado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), atuante como Banco Central dos bancos centrais, mostra que esse aumento foi puxado por operações nos derivativos de câmbio. A desvalorização do dólar em relação às principais moedas provavelmente contribuiu para isso, informa a instituição.

Os derivativos cambiais, que tiveram maior demanda para proteção de patrimônio por exemplo, tiveram seu valor de mercado elevado em 21% no segundo semestre, encerrando 2020 em US$ 3,2 trilhões. “Utilizado como referência principal dos contratos, o dólar americano representou mais de 80% de todos o lastro em diversas moedas. E o movimento pode ser ampliado caso ocorra um rebalanceamento de carteiras”, diz o BIS.

O valor de mercado dos derivativos vinculados a ações cresceu mais, 28%, para US$ 840 bilhões no segundo semestre do ano passado, nível mais elevado desde 2010. Essa expansão reflete a alta expressiva dos preços das ações nas principais Bolsas de Valores e a mobilização de investidores internacionais interessandos em ampliar sua exposição no mercado acionário dos Estados Unidos.

O BIS chama atenção para a mudança na estrutura de vencimento de derivativos de ações para prazos mais curtos, principalmente, para prazo inferior a 1 ano. A participação desse prazo no total dos instrumentos vinculados aos mercados acionários passou de 54% para 67%.

Extraordinário é o valor financeiro global dos ativos, valor nocional, que são referência para os instrumentos derivativos, US$ 582 trilhões, sendo a taxa de juros o "estoque" mais elevado, US$ 467 trilhões. E há motivo para isso. Por trás dessa montanha de “zeros” estão títulos de governos, bancos, instituições públicas e privadas e corporações.

Sinal da mobilização pesada de autoridades monetárias das maiores economias do mundo que estão de olho na inflação ascendente, mas ainda mantêm juros perto de zero, em 2020 os derivativos de taxas de juros encolheram em valor de mercado. Foram menos negociados. Contudo, esse cenário está sujeito a mudança radical especialmente se o Federal Reserve, o BC americano, acenar com aumento de juro, após ser atropelado por uma alta de preços ao consumidor e ao produtor bem acima de todas as expectativas em abril. Pressão inflacionária que, aliás, já coloca grandes investidores de sobreaviso.

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