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Qualicorp derrete na B3 e plano de saúde queima no bolso do brasileiro

Companhia que vende planos de saúde sofre com perda de clientes devido a reajustes nos serviços durante cenário de inflação

 (Rapeepong Puttakumwong/Getty Images)
(Rapeepong Puttakumwong/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

11 de agosto de 2021 às 13:44

A Qualicorp decepcionou os investidores com os resultados do segundo trimestre. É o que explica a forte queda das ações. Há pouco, os papéis despencavam mais de 9%, para quase nada a mais de R$ 22. O valor de mercado da empresa, com isso, estava em apenas R$ 6,25 bilhões.

O analista do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) Yan Cesquim aponta em relatório que a companhia atingiu suas metas comerciais, mas com fortes gastos de marketing. Dessa forma, as margens do negócio seguem sendo corroídas. Não bastasse a preocupação com o desempenho operacional, ele está acontecendo em um momento em que a alavancagem está maior (ainda que continue baixa), e que as despesas financeiras também aumentaram.

A ação da empresa chegou a ser negociada acima de R$ 35 em dezembro de 2020, quando Rede D’Or e Pátria, os maiores acionistas, começaram a acelerar suas compras em bolsa. O grupo hospitalar fez o primeiro investimento na companhia no fim de 2019, ao comprar a maior parte da posição do fundador José Seripieri Júnior. O atual patamar de preços só se viu em maio do ano passado, quando o período combinava as incertezas da covid sobre a economia e ainda as preocupações  com investigações em torno de Júnior.

O cenário descrito por Cesquim explica a queda no lucro líquido do segundo trimestre de 28,4%, para R$ 90,3 milhões, apesar de a receita líquida ter aumentado quase 7%, para R$ 517,2 milhões — na comparação com o segundo trimestre de 2020. O Ebitda ajustado caiu quase 14%, para R$ 201 milhões, ou seja, a margem recuou de 48,3% para 38,9%. A comparação com o primeiro trimestre deste ano não traz conclusões melhores. É a mesma fotografia.

Onde mora o problema?

Mas se a empresa consegue aumentar a receita, por que não tem mais lucro? Seria intuitivo supor que em uma companhia do porte da Qualicorp, a expansão de vendas seria equivalente a aumento de lucro. Mas não é verdade.

O motivo é a elevada taxa de cancelamento de planos. A companhia está tendo de correr para vender cada vez mais pacotes para compensar as desconexões de usuários, o que significa se esforçar mais e investir mais na conquista de cada um. Então, está em alta acelerada o famoso custo de aquisição de cliente (CAC).

Para se ter uma ideia do quadro que está sendo pintado: nos primeiros seis meses do ano, a Qualicorp teve perda líquida de 3.157 mil clientes, apesar de ter vendido 28% a mais novos planos e de ter adquirido empresas que trouxeram junto mais de 53 mil usuários.

Sobre isso, a empresa explica nos comentários do balanço: “Nossa análise indica que este alto churn é conjuntural, ainda impactado pelo reajuste de planos de saúde aplicado no começo deste ano após a suspensão em 2020, e que resultou em aumento de preços médio de 23% para nossa base de clientes. Temos trabalhado em diversas frentes para minimizar este impacto no segundo semestre, uma vez que o reajuste regular que estamos aplicando no terceiro trimestre é menor, na faixa de dois dígitos baixos. Deste modo, nossos modelos preditivos na área de relacionamento com clientes já indicam evolução nos indicadores de retenção. Contudo, conforme já antecipado, o mercado de planos de saúde está tendo um ano atípico em termos de cancelamentos devido ao ineditismo de dois reajustes de preços com intervalo de apenas 6 meses e acumulando aumento em torno de 35% no ano aos nossos clientes.”

A companhia, portanto, acredita que o cenário seja conjuntural e não estrutural. Contudo, o analista do BTG Pactual termina seus comentários sobre o balanço destacando que uma nova estratégia é necessária.

Os investidores também estão cautelosos. Eles não têm tanta certeza de que o problema é apenas momentâneo. Especialmente porque o reajuste do segundo semestre ocorrerá sobre uma base já machucada. Além disso,  vai colocar o custo da saúde em um novo patamar em um momento em que o brasileiro enfrenta uma inflação pesada em outras áreas de consumo e serviços de primeira necessidade, como energia elétrica e alimentação.

Sobra pouco no final

Apesar de a Qualicorp ter encerrado junho com a relação entre a dívida líquida e o Ebitda acumulado em 12 meses em apenas 1 vez, Cesquim aponta a questão financeira como um desafio. A dívida líquida da companhia saiu de R$ 604 milhões para R$ 926 milhões em apenas três meses, de março a junho. A questão é o efeito disso sobre o dinheiro que sobra no fim de tudo.

O fluxo de caixa livre após os investimentos orgânicos, aqueles necessários para a roda girar, mostrou um saldo de apenas R$ 12 milhões no segundo trimestre. Para se ter uma ideia, um ano antes, essa mesma conta trouxe R$ 220 milhões.

Dívida maior é certeza de duas coisas: mais despesa financeira — R$ 109 milhões no trimestre contra R$ 44 milhões no mesmo período de 2020 — e menos dividendo. Não é por acaso que os investidores foram buscar novos patamares de preço para as ações. Cesquim manteve a recomendação neutra para os papéis. Segundo ele, apesar de os preços parecerem atrativos falta clareza sobre o ponto de inflexão para a empresa.

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