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Saneamento

Plano da Iguá para saneamento de Sergipe envolve aporte de capital dos acionistas, diz CEO

Lance agressivo, de mais que o dobro da outorga mínima, será bancado em parte com aporte dos canadenses da CPPIB e da AIMCo

Iguá: plano de financiamento para concessão de saneamento de Sergipe envolve aporte de acionistas (Cauê Diniz/B3/Divulgação)
Iguá: plano de financiamento para concessão de saneamento de Sergipe envolve aporte de acionistas (Cauê Diniz/B3/Divulgação)
Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 4 de setembro de 2024 às 21:58.

Última atualização em 4 de setembro de 2024 às 22:00.

A entrada da Iguá em Sergipe será financiada, ao menos em parte pelos controladores CPPIB e AIMCo, que preparam um aumento de capital. A companhia levou hoje a concessão da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) por R$ 4,5 bilhões.

O valor foi 122,6% maior em relação ao lance mínimo de R$ 2 bilhões e 25% superior à segunda maior oferta, da Aegea, por R$ 3,6 bilhões.

Tanto para a outorga quanto para o investimento previsto de R$ 6,3 bilhões na universalização dos serviços de água e esgoto de Sergipe, o CEO Roberto Barbuti explica que os acionistas entrarão em cena.

“O aporte já está aprovado e já temos bancos financiadores que nos deram uma garantia firme para essa oferta [...] Já temos o financiamento para outorga”, diz Barbuti.

Ele não cravou de quanto será o aumento de capital, mas no mercado especula-se que o aporte deve girar na casa dos R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões.

Antiga CAB Ambiental, a Iguá foi formada pela gestora de infraestrutura IG4, e chegou a ter uma série de PPPs e concessões antes de vendê-las para reciclar capital e levar parte da concessão da Cedae, do Rio de Janeiro.

A IG4, que tinha uma fatia minoritária, mas respondia pelo operação da companhia, saiu do negócio agora em julho, ampliando o espaço de CCPIB e AIMCo.

A concessão de Sergipe vai ser a segunda maior da companhia, que opera também Cuiabá.

Caro demais?

Segundo Barbuti, o que justificou o lance agressivo foi o potencial do negócio a ser capturado principalmente na ampliação da cobertura de tratamento de esgoto, além do ganho de eficiência com a redução do desperdício de água tratada.

Atualmente, o índice de perda gira em torno de 54%, e terá que ser reduzido a 25%, pelas regras do contrato.

“Tudo isso bem feito, mais as nossas estratégias comerciais, junto com os serviços prestados, dá uma equação que resultou nesse lance [...] Estamos confortáveis”, afirmou o CEO ao ser questionado sobre a saúde financeira da empresa.

Em dívida bruta, a Iguá soma R$ 9 bilhões, sendo R$ 7 bilhões de dívida líquida, o que resulta em uma alavancagem de 7,5 vezes o Ebitda (lucro juros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

O grosso da dívida vem de sua operação no Rio, em que a companhia arrematou o Bloco 2 da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) para operar serviços de saneamento básico para cerca de 1,2 milhão de pessoas, em 2021.

Na ocasião, o custo de outorga foi mais que o dobro dos investimentos obrigatórios no médio prazo. Excluindo o Rio, a alavancagem cairia para 3,5 vezes.

Com a palavra, Sergipe

Nos próximos 60 dias, a empresa irá assinar o contrato e, a partir disso, começa um período de gestão assistida durante seis meses, onde o governo acompanhará a transição para depois a empresa assumir a operação.

Para Fábio Mitidieri (PSD), governador de Sergipe, o leilão foi uma grande conquista e o valor, acima do esperado, foi uma “surpresa positiva”. Segundo a autoridade, a parceria trará bons frutos para a população, com a universalização dos serviços de água e esgoto, além da geração de cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos.

Mitidieri ainda destacou que sem a concessão seria difícil cumprir com as metas do Marco Legal do Saneamento, já que a Deso, ao longo do tempo foi perdendo sua capacidade de investimento.

“Para investir R$ 6,3 bi em nove anos, uma empresa que fatura R$ 900 milhões e tem R$ 45 milhões de lucro, jamais conseguiria sem uma parceria como essa.”

Em relação a divisão do montante, 45% será destinado ao estado, 45% aos municípios e 10% à Deso.

“Os recursos deverão ser obrigatoriamente utilizados em obras de infraestrutura com viés ambiental, além do pagamento de precatórios. Nossa intenção é que isso possa fortalecer a saúde financeira do estado.”

Para a parte que cabe ao estado, 1% também irá para a Agência Sergipe de Desenvolvimento (Desenvolve-SE).

Milton Andrade, presidente da Desenvolve-SE, ainda destaca que, segundo as estimativas do governo, haverá um incremento no Produto Interno Bruto (PIB) de Sergipe em 1,6% ao ano, além de uma economia na saúde de R$ 270 milhões.

Universalização dos serviços

Segundo o projeto, modelado pelo BNDES, a concessão será de 95% do sistema do estado, com o objetivo de levar os serviços de água e esgoto para 2,3 milhões de pessoas de 74 dos 75 municípios do estado que compõem a Microrregião de Água e Esgoto de Sergipe (Maes).

O único município do estado que não entrará na concessão é o de Capela, de 31 mil habitantes.

Essa será a maior a maior concessão da Iguá em número de pessoas atendidas.

Após o contrato, a Deso seguirá responsável pela captação e tratamento da água. Esta água, por sua vez, será vendida para a Iguá, que ficará responsável pela distribuição para pessoas físicas e empresas de menor porte. Entretanto, a Deso ainda será a fornecedora de água bruta aos clientes industriais e comerciais de Sergipe. Já os serviços de esgoto serão de responsabilidade da nova concessionária.

Conforme previsto no edital, nos três primeiros anos de atuação, a Iguá não poderá fazer qualquer reajuste tarifário acima da inflação.

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Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Jornalista formada pela Unesp, mestranda em Jornalismo Científico na Unicamp e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV. Tem mais de 5 anos de experiência em redação com passagens pelo G1 e Estadão.

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