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Pagar e receber nunca foi tão fácil; Propague e Stone mostram por quê

Relatório “Mercado de Pagamentos em Dados” será divulgado trimestralmente com mercado de cartões, varejo e digitalização

Uso intensivo de cartões acirra disputa entre adquirentes e confirma recebíveis como relevante mecanismo de financiamento (Leandro Fonseca/Exame)
Uso intensivo de cartões acirra disputa entre adquirentes e confirma recebíveis como relevante mecanismo de financiamento (Leandro Fonseca/Exame)
AB

Angela Bittencourt

21 de setembro de 2021 às 10:02

Pagar e receber no Brasil nunca foi tão rápido e operacionalmente fácil. Na última década, o mercado brasileiro discute a evolução dos meios de pagamento e, se alguma resistência havia, ela foi nocauteada pela pandemia. Nos últimos dois anos, o pagamento à distância, por meios eletrônicos, entrou no dia a dia dos brasileiros sem pedir licença e já não vivemos sem eles.

Levantamento realizado pelo Instituto Propague em parceria com o time de Economic Research da Stone mostra que o distanciamento social fez acelerar, em muito, o sistema de pagamentos nacional. Desde a chegada da Covid-19, o número de transações realizadas com cartões saiu de 5 bilhões para quase 7,7 bilhões. Essa expansão, superior a 50%, não ocorreu sem outro desdobramento da pandemia: o pagamento do auxílio emergencial pelo governo brasileiro e a consequente inclusão digital via aplicativo da Caixa que liderou o programa.

A informação é da primeira edição do relatório “Mercado de Pagamentos em Dados” elaborado pelo Propague e Stone que terá divulgação trimestral.

Independentemente, porém, do pagamento do programa do governo, os especialistas constatam a crescente importância dos gastos com cartões no consumo das famílias brasileiras em substituição ao dinheiro vivo e ao cheque. “Isso é verdade mesmo no cenário sem o pagamento do auxílio emergencial no primeiro trimestre de 2021. Tivemos um gasto de 45,3% com cartões, um aumento expressivo quando comparado com o mesmo trimestre de 2020, 40,2%, quando também não havia a presença do benefício”, afirma o relatório que destaca o importante impacto do  auxílio emergencial sobre os meios de pagamento no Brasil.

A expansão no uso de cartões no total dos meios de pagamento é vigorosa. No primeiro trimestre de 2018 era de 32,6%; em igual período de 2019, 36,2%; no primeiro trimestre de 2020, 40,2% e, no segundo período de 2021, 48,6%, segundo dados da Abecs – Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços.

O monitoramento do mercado de meios de pagamento realizado pela Propague e equipe de research da Stone relembra que, até agora, já foram gastos R$ 328,94 bilhões em auxílio emergencial, sendo R$ 293,11 bilhões em 2020; e R$ 35,83 bilhões em 2021, na foram de transferência direta à população.

Papel do auxílio emergencial

Embora o pagamento tenha sido feito pelo aplicativo da Caixa, o relatório pondera que a mera disponibilização de recursos por meios digitais não é suficiente para configurar um processo de desenvolvimento de cidadania financeira digital, uma vez que fatores como pacotes de dados e habilidades digitais podem inviabilizar o uso efetivo e induzir à retirada do dinheiro para uso físico. Ainda assim, o auxílio emergencial impactou a liquidez da economia com o aumento dos meios de pagamento à vista – como cartões de débito e pré-pago, além de transações com dinheiro em espécie.

Os cartões se firmaram como meio de pagamento preferencial dos brasileiros e já representam cerca de 48% de todo o gasto pelas famílias. Foi observada, porém, uma desaceleração do crescimento do cartão de crédito. Em 2020, o valor total transacionado em cartões atingiu R$ 2 trilhões. Apenas no primeiro semestre de 2021, o total de operações somou R$ 1,17 trilhão – crescimento de 32,6% na comparação com igual período do ano passado.

Disputa na adquirência

Na primeira edição do relatório ““Mercado de Pagamentos em Dados”, os especialistas do Propague e Stone focam no mercado de adquirência e chamam atenção para a crescente disputa entre as empresas mais tradicionais – Cielo e Rede –, perdendo espaço para as novas.

Embora tendência já observada nos últimos anos, o primeiro trimestre de 2021 mostrou pela primeira vez a parcela de mercado da Cielo abaixo de 30% em um contexto com as adquirentes mais novas como Stone, Getnet e PagSeguro apresentando trajetória de crescimento acima da média do mercado.

Em gráfico publicado no relatório, os especialistas apontam a fatia da Rede sobre o total declinando abaixo de 25% entre o primeiro trimestre de 2019 e o primeiro de 2021. Nesse período, a fatia da Getnet sai de pouco mais de 10% para mais de 15%; o market-share da Stone praticamente dobra, de 5% para 10%; e da PagSeguro tem trajetória semelhante.

Antecipação de recebíveis

Outra consequência do uso intensivo de cartões é o aumento da antecipação de recebíveis – modalidade de operação impulsionada pela entrada em vigor de novas regras definidas pelo Banco Central (BC), a partir de 7 de junho.

Em 2020, informa o Propague e a Stone, o volume de antecipação de recebíveis alcançou R$ 287 bilhões pelas adquirentes, equivalente a 24% do valor total transacionado em cartões. No segundo e no terceiro trimestres de 2020, aumentou a participação de instituições financeiras nesta modalidade de crédito, evidenciando a importância desse mecanismo de financiamento para as empresas brasileiras.

O novo relatório trimestral sobre meios de pagamentos também aponta como importante mudança recente a promoção de novas tecnologias de pagamento, apresentando como a mais relevante a criação do Pix, pelo BC. “O novo instrumento tem se mostrado enorme sucesso, com impressionante crescimento. Em julho deste ano, foram quase 886 milhões de transações, com volume financeiro próximo a R$ 527 bilhões no mês. A adesão foi representativa ao ponto de o Pix ter se tornado o principal meio de transferência em número de transações em menos de um ano.”

Na contramão do Pix, em sólida expansão, declinam as transferências realizadas por meio de TED e boleto bancário, o que indica certo grau de substituição associado aos menores custos do Pix – gratuito para transferência entre pessoas. Essa substituição é reforçada pelo ticket médio ainda alto do Pix, de R$ 594,77, ainda que esse valor esteja em trajetória de queda.

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