Oferta da BHP pela Anglo tem energia limpa como norte – e impacta a Vale
Cobre é um dos minerais com demanda em alta com a eletrificação do transporte; negócio tem impacto na Vale, que reorganizou operação de metais básicos e atraiu investimento saudita
Luiz Anversa
Repórter colaborador
Publicado em 25 de abril de 2024 às 07:34.
Última atualização em 25 de abril de 2024 às 09:52.
A BHP confirmou a proposta de US$ 39 bilhões pela compra da Anglo American, num negócio, se concretizado, será uma das maiores fusões do setor em muitos anos, e transformá a mineração no mundo.
A Anglo American, que opera minas em países como Chile, África do Sul, Brasil e Austrália, tem um valor de mercado de US$ 34 bilhões. Já BHP, sediada na Austrália, é a maior empresa de mineração de capital aberto do mundo, avaliada em US$ 149 bilhões.
Essa proposta da BHP acontece quase um ano depois que a empresa comprou a produtora de cobre Oz Minerals por US$ 6,43 bilhões.
Segundo a BBC, se for finalizado, o acordo aumentaria o acesso da BHP ao cobre por meio das operações da Anglo American na América do Sul. O preço do metal subiu mais de 15% nos mercados globais neste ano em razão da alta demanda, resultado da transição energética verde.
A BHP produziu cerca de 1,2 milhão de toneladas de cobre em 2023, enquanto a produção da Anglo foi de 826 mil toneladas. Isso daria ao grupo combinado uma participação de aproximadamente 10% na oferta global de minas, sendo o maior do mundo. É um mercado que tende a crescer mais e mais com eletrificação do transporte.
"A construção de uma imensa quantidade de linhas de transmissão, baterias e coletores depende vitalmente de um conjunto de minerais e metais como cobre, níquel, lítio, cobalto e muitos outros", diz Mario Veiga, fundador da consultoria PSR, especializada em energia. "Esses metais são estratégicos e passam a valer uma fortuna. Essa é a razão de as mineradoras estarem buscando escala, porque há novos players no jogo".
Entre as empresas que têm se movimentado para ganhar relevância em cobre está a Vale, que reorganizou seus negócios envolvendo o metal em 2022, transferindo ativos para um novo negócio de metais básicos. Em julho do ano passado, a Vale vendeu uma participação de 13% neste negócio, avaliado em US$ 26 bilhões, para um consórcio liderado pela Manara, uma joint venture que tem como sócio o PIF, fundo soberano saudita.
O desafio da brasileira, apontam analistas, é a perda de foco com as recentes disputas entre governo e acionistas da mineradora brasileira. Com o CEO Eduardo Bartolomeo garantido só por mais uns meses, a empresa corre o risco de ficar para trás num momento de transformação do mercado.
No Brasil, a BHP é sócia da Vale na Samarco, em Minas, e segue em negociação para um acordo de reparação após rompimento da barragem de Mariana, em 2015.
Reação dos mercados
Os mercados já estão reagindo à possível fusão das duas gigantes. As ações da Anglo American subiam mais de 12% no início das negociações desta quinta-feira. De acordo com as regras de fusões e aquisições do Reino Unido, a BHP tem até o fechamento dos negócios em 22 de maio para fazer uma oferta formal pela Anglo American.
Um acordo também aumentaria a exposição da BHP no setor de diamantes, dada a participação acionária de 85% da Anglo American na famosa mineradora e varejista De Beers - os outros 15% são do governo de Botsuana.
A De Beers não foi mencionada especificamente na oferta da BHP, mas seu valor potencial não é nada desprezível. A Anglo a avalia em US$ 7,6 bilhões, enquanto as estimativas dos analistas variam deUS$ 600 milhões a US$ 4 bilhões. É uma operação difícil de avaliar porque não há muitas empresas como ela.
A De Beers foi fundada em 1888. Ainda na década de 1980, a empresa controlava mais de 80% do suprimento mundial de diamantes. A De Beers e seus parceiros produzem cerca de um terço dos diamantes brutos do mundo, em termos de valor, de acordo com seu site.
Esse mercado, porém, não está em seu melhor momento. A Anglo disse esta semana que a produção de diamantes brutos diminuiu 23% no primeiro trimestre.
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Luiz Anversa
Repórter colaboradorCom mais de 15 anos de mercado, passou por Jornalistas&Cia, RedeTV e Yahoo, sendo redator, repórter e editor. Tem experiência na área econômica com big techs, inteligência artificial e branded content