O Lazard colocou startups e VCs no divã – e está otimista com o Brasil
Após pouso forçado nos últimos 18 meses, banco espera que capital para growth volte a superar os patamares de 2020
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 25 de setembro de 2023 às 13:15.
Depois de um pouso forçado em 2022 e no primeiro semestre deste ano, o mercado de venture capital e de fundos voltados para financiar empresas em estágio de crescimento na América Latina está voltando a decolar, na avaliação do Lazard.
Nos últimos meses, o banco de investimentos fez uma série de conversas com fundadores e conselheiros de startups além de investidores que miram a região – e está otimista.
A expectativa agora é que o volume de captações para o chamado capital de “growth” se estabilize em cerca de US$ 5 bi este ano, ainda longe da disparada de 2021, que registrou um volume de US$ 16 bilhões, mas acima do verificado ao longo de 2020.
Numa nota que rodou o mercado, o sócio Thomas Ruszkay resumiu o momento a partir da frase de um sócio sênior de um fundo que investe na América Latina. “É como se estivéssemos numa festa onde ninguém está dançando, mas todo mundo está em volta da pista de dança e pronto para andar nela. Assim que o primeiro entrar os outros vão seguir”.
Nos últimos meses, o mercado já deu sinais de retomada, com o retorno de captações, como os da Nomad, de contas no exterior, da Mottu, de aluguel de motos, da Gympass, de planos corporativos para academias de ginástica, e da Loft, de compra e venda de imóveis.
Boa parte dos investidores passou o último ano olhando para dentro, assimilando lições e revendo seu portfólio, mas depois de 12 a 18 meses de reavaliação, precisam colocar o caixa que está parado para trabalhar, aponta o Lazard.
Esses fundos costumam ter um prazo de investimento de quatro anos – e ainda que possam pedir extensões neste prazo, eles não podem ficar muito tempo sem alocar e entregar os retornos prometidos aos cotistas.
No entanto, após uma série downrounds que se seguiram à bonança de 2020 e 2021, eles estão com uma abordagem muito mais restritiva e diligentes.
Desta vez, os valuations estão muito mais realistas, especialmente nas primeiras rodadas. “A receita pode ser o múltiplo para avaliar uma companhia, mas será necessário prestar muita atenção ao potencial de lucro num horizonte de três a cinco anos, muito mais do que 10 anos”, escreve Ruszkay.
Outras métricas, como mercado endereçável e GMV (o total negociado dentro de um marketplace) são relevantes, mas o que importa mesmo é a última linha do balanço (ou as perspectivas para ela).
Além disso, as operações estão sendo feitas de forma muito mais estruturada, com volta de termos “amigáveis aos investidores”, nas palavras do banco – com a volta dos covenants negativos, em que o acionista pode restringir alguns movimentos por parte da empresa, além de dispositivos como a garantia de retornos mínimos sobre o capital em casos de drag along (quando o majoritário ‘arrasta’ os minoritários numa operação de venda).
Nesse sentido, os valuations que tem aparecido nas manchetes nas rodadas mais recentes dizem pouca coisa – ou são “irrelevantes”, como bem resume um gestor com quatro décadas de experiência ouvido pelo Lazard.
“Particularmente no mercado atual, os delas anunciados com muitas frequências incluem vários dispositivos (que normalmente mimetizam opções de compra e venda)”, escreve Ruszkay, o que pode se traduzir em preços muito diferentes do que os divulgados nas captações.
Se a bolha dos últimos anos deixou marcas em muitas empresas, o Lazard aponta que também houve boas notícias para o mercado brasileiro. Na avaliação do banco, o Brasil entrou de vez no radar dos fundos globais – tenham eles presença física no país ou não – e os empreendedores de forma geral, saíram mais fortes, com mentalidade voltada ao retorno sobre capital investido e menos afoitos para vitórias rápidas.
Além disso, pondera o banco, várias companhias completaram o ciclo todo de venture capital, de early stage, ao crescimento e passando pela saída, como é o caso da Pismo, de meios de pagamento, vendida à Visa, e as empresas de tecnologia VTEX e CI&T; e o mercado de capitais se consolidou como uma porta viável de saída.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.