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Com desafio Avon à frente, Natura & Co investirá R$ 400 mi em tecnologia

Balanço mostra sucesso do modelo Natura e desafio Avon e empresa alcança seu maior valor de mercado da história, R$ 65 bi

 (Brendan McDermid/Reuters)
(Brendan McDermid/Reuters)
GV

Graziella Valenti

14 de agosto de 2020 às 15:14

O balanço da Natura & Co do segundo trimestre deixou gritante o tamanho do desafio que é a compra da Avon, finalizada no começo deste ano. De um lado, a aquisição da gigante centenária americana colocou o grupo no hall dos maiores atores globais no ramo de higiene e beleza, mas do outro agregou bastante encrenca para o futuro. Essa é a visão de investidores e analistas ouvidos pelo EXAME In.

Está claro agora que não era apenas a marca da Avon que estava desatualizada. A companhia está anos-luz atrás, em termos de digitalização — o hit obrigatório do mundo pós-pandemia —, que as demais marcas do grupo, em especial a própria Natura, berço de tudo. E é o ritmo dessa atualização que vai ser acompanhado pelos acionistas da empresa passo a passo a partir de agora. Não por acaso, uma das maiores novidades vindas junto com o resultado do segundo trimestre é o anúncio de um investimento de 400 milhões de reais nos próximos seis meses. O grupo deixou claro também, com os números do trimestre, que sabe fazer social selling. Por isso, há grande expectativa do que todo esse aprendizado pode fazer pela Avon.

Os números do segundo trimestre e o desempenho com as ferramentas da vida moderna puxam a alta das ações nesta sexta-feira, de 9,23%. A companhia alcança seu maior valor de mercado da história, em 65 bilhões de reais.

Mas, se por um lado o investidor comemora a monstruosidade do que foi feito com a Natura durante o segundo trimestre, do outro, se questiona sobre como fazer isso na Avon. Os fundadores e controladores do grupo, o trio Antonio Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos, atestaram sua fé em maio, com o maior investimento deles na empresa de toda a história. Dos 2 bilhões de reais que a Natura &Co levantou com um aumento de capital privado, eles colocaram 500 milhões de reais. Ou seja:  acreditam que poderão fazer da Avon uma Natura, em termos de eficiência.

No resultado consolidado do segundo trimestre, a Natura teve uma queda de quase 13% na receita líquida, para 7 bilhões de reais, comparado a igual período de 2019. O Ebitda recuou 42%, para 615,2 milhões de reais com ajustes para que reflitam bases recorrentes, sem eventos extraordinários ou contábeis — mas ficou acima dos 515 milhões obtidos de janeiro a março. A margem caiu de 13,3% para 8,8%, em termos anuais. Desconsiderados os impactos da compra da Avon, empresa teve prejuízo de 213,8 milhões no segundo trimestre, ante lucro de 395,8 milhões em igual período do ano passado.

É o olhar depurado sobre os números da América Latina, onde estão concentradas apenas Natura e Avon no portfólio de marcas, que torna o desafio tangível. Mas antes, é preciso ressaltar que o ataque cibernético que a Avon sofreu no meio da pandemia arrastou 450 milhões de reais em receita do segundo para o terceiro trimestre. Sem isso, a queda na receita líquida consolidada do grupo teria sido de 7%. Do total, 390 milhões de reais são na região latino-americana.

Enquanto a Natura teve crescimento de 8% na receita de vendas no Brasil do trimestre — isso depois de ter registrado queda de 23,5% no mês de abril —, a Avon teve um recuo de 35%. Os números foram afetados pelo ataque, mas também pela incapacidade de reação da marca igual a que teve a Natura, que já está em estágio muito mais maduro de digitalização da sua rede de vendas.

Nas demais marcas do grupo, The Body Shop e Aesop, os números demonstram que a gestão tem tido sucesso também em acelerar as vendas pelos canais digitais, com crescimentos de 230% e 430%, respectivamente. Para a marca de origem australiana, houve um esforço para que os canais online replicassem a experiência e as vendas digitais responderam por 37% do total. Na The Boby Shop, esse percentual alcançou 27% e, segundo a companhia, mais do que compensou as perdas com fechamento de lojas físicas.

Para fazer frente ao desafio, além do investimento em tecnologia, a companhia vem fortalecendo sua estrutura de caixa. Terminou o trimestre com 7,4 bilhões em liquidez e uma dívida líquida total de 10,6 bilhões, equivalente a 3,63 vezes o Ebitda acumulado em 12 meses. A capitalização ajudou a melhorar a fotografia no comparativo com março, quando a dívida líquida estava em 12,4 bilhões de reais e o índice de alavancagem em 4,91 vezes.

A Natura &Co estima sinergias entre 300 milhões e 400 milhões de dólares com a Avon. O custo de transformação até a obtenção desses benefícios em bases recorrentes é projetado em 190 milhões de dólares.

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