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Minerva: dividendo da BEEF3 pode descongelar ainda este ano

Depois de três anos sem pagar dividendos, nova política para distribuição de resultado, promessa de futuro, pode estrear ainda neste ano

Criação de gado: demanda forte da China e alta do dólar vão beneficiar resultado da Minerva (Dado Galdieri/Bloomberg)
Criação de gado: demanda forte da China e alta do dólar vão beneficiar resultado da Minerva (Dado Galdieri/Bloomberg)
GV

10 de julho de 2020 às 14:37

Com pandemia, ciclone, meteoros, crise do petróleo, guerra comercial entre China e Estados Unidos, o que aconteceu no começo de 2020 até parece um passado distante. Mas, antes de tudo isso, a Minerva Foods, a empresa de carnes do famoso código Beef na bolsa, criou uma política de dividendos nova. Era para ser um potencial, um compromisso de gerar valor para os acionistas no futuro. Só que agora, depois dos ganhos financeiros do primeiro trimestre e do aumento da receita com exportação, em razão do dólar mais alto e da demanda chinesa, esse futuro pode estar em 2020 mesmo.

A nova política foi bastante explorada dentro da oferta de ações que levantou 1 bilhão para o caixa da empresa em janeiro — ali no auge com Ibovespa em 117 mil pontos — como argumento de atratividade para os investidores, já que o negócio não rende proventos aos acionistas desde 2016. Questão que deixa não só os investidores de mercado ansiosos, mas também a própria família fundadora Vilela de Queiroz.

Após dois anos com o patrimônio líquido negativo, a Minerva adotou como prática que, quando a relação entre sua dívida líquida e o Ebitda acumulado em 12 meses estiver abaixo de 2,5 vezes, pagará um dividendo de pelo menos 50% do lucro líquido — 25% do percentual obrigatório mais 25% extra.

“Nosso plano para os próximos dois anos é dar foco ao crescimento orgânico, sem aquisições, para voltarmos a ser uma empresa pagadora de dividendos e que gera retorno ao acionista”, disse Edison Ticle, diretor financeiro e de relações com investidores, em entrevista ao EXAME IN, lembrando que nos últimos anos a companhia concentrou o retorno no credor, pela elevada alavancagem. O desarranjo nas contas ocorreu depois que, em 2017, a companhia adquiriu ativos da JBS na Argentina por US$ 300 milhões.

Na época da adoção, aos olhos dos investidores, parecia algo muito distante da realidade considerando que a empresa fechou dezembro de 2019 com patrimônio no vermelho em 282 milhões de reais.

Questionado sobre a perspectiva disso se verificar ainda neste ano, Ticle limitou-se a dizer que “não é impossível”. O executivo afirmou que não dá para garantir ainda em 2020 e que a companhia evita esse tipo de previsão. Mas as contas indicam que há esperança. Ajuda nesse caminho o fato de a receita da companhia hoje ser 70% oriunda de exportações, o que contribui para aumento das margens.

A Minerva apresentará os resultados do segundo trimestre no próximo dia 28. O analista Thiago Duarte, do BTG Pactual, apresentou em relatório desta sexta-feira uma projeção de aumento de 25% na receita do período, na comparação anual, para 5 bilhões de reais. A expectativa dele é que o Ebitda apresente crescimento de 57%, para 571 milhões de reais, com margem de 11,4% — 2,3 pontos percentuais mais que um ano antes. O lucro líquido estimado por Duarte é de 260 milhões de reais, para o intervalo de abril a junho.

Ao fim de março, a companhia estava com a relação entre a dívida líquida e o Ebitda em 2,8 vezes, comparado a 5 vezes ao fim de 2018. No primeiro trimestre, Ticle contou que, além da capitalização da oferta, a geração de caixa alcançou 904 milhões de reais, em razão do ganho financeiro com vencimento do contrato de hedge (615 milhões de reais), apesar de o lucro líquido ter sido de 270 milhões de reais.

Entre o fim de 2019 e começo deste ano, ainda houve um reforço de 230 milhões de reais de conversão parcial dos bônus de subscrição do aumento de capital feito em 2018 — na época, a empresa emitiu o equivalente a 1 bilhão de reais e quem comprou recebeu uma participação equivalente em bônus (BEEF11). Na prática, isso significa que se a ação subisse além do valor da emissão da época, 6,42 por ação, a Minerva receberia mais 1 bilhão de reais em até três anos, pelo exercício desse direito.

Quando a bolsa estica os preços à vista e os recibos não acompanham, abre-se um espaço para arbitragem. Alguns investidores aproveitam. Como? Montam uma posição vendida na ação e compram o bônus de subscrição no mercado, ainda com atraso frente à cotação do papel. Faz sentido antecipar a conversão quando o mercado oferece esse espaço pelo descolamento momentâneo entre o recibo e a ação. Os acionistas ficam felizes, com o ganho, e a empresa, com o caixa.

Ainda há pouco menos de 770 milhões de reais para a Minerva receber com esses papéis até 2021. Quando estiverem todos convertidos, ao preço de hoje seria como dizer que a companhia vale 8 bilhões de reais na B3 e não os atuais 6,5 bilhões de reais. Bem mais próxima do valor atual de Marfrig, que há pouco estava avaliada em 9,4 bilhões de reais.

Para completar o reequilíbrio das finanças, que Ticle promoveu depois que retornou à Minera em junho de 2018 e que já tinha como plano duas capitalizações no negócio, o executivo aproveitou a reabertura do mercado de dívida e fez duas emissões de certificados de recebíveis agrícolas (CRAs) de 600 milhões de reais. Com uma parte dos recursos, recomprou dívida mais cara (US$ 96 milhões) usando dinheiro mais barato, o que vai gerar economia nas despesas financeiras, além de reduzir a exposição cambial.

Curta história longa, o rápido reequilíbrio financeiro, a redução do serviço de dívida em moeda estrangeira e a perspectiva de evolução da receita e da geração de caixa com o câmbio favorecendo as exportações devem continuar produzindo melhora nos números da Minerva. Essa evolução vai deixar o investidor mais perto de participar via dividendos da geração de riqueza.

 

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