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Educação

GK Ventures mede impacto da Rehagro: R$ 1,3 bilhão

Gestora fundada por Eduardo Mufarej quer difundir metodologia de cálculo para criar comparabilidade

Campo: mais educação amplia produtividade e reduz emissões, permitindo ganhos sociais e ambientais (Yara/Divulgação)
Campo: mais educação amplia produtividade e reduz emissões, permitindo ganhos sociais e ambientais (Yara/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

17 de junho de 2022 às 14:38

Impacto precisa ser medido. Muitos dos gestores de fundos com essa proposta defendem que mensurar é essencial. É o caso de Eduardo Mufarej, fundador da GK Ventures. A casa nasceu com investimento proprietário e deve fechar no fim deste mês a captação da primeira carteira com recursos de terceiros, num total de R$ 450 milhões.

Já com três investidas nesse novo portfólio, a GK acaba de medir, após estudos profundos, o impacto gerado pela Rehagro, companhia de cursos para profissionais do agronegócio que recebeu R$ 30 milhões de aporte da gestora, junto com a 10b, da SK Tarpon, conforme estimativa apurada pelo Exame IN. Fundada em Minas Gerais, é a primeira empresa de educação com promessa de escala para um dos mais importantes setor da economia brasileira.

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O cálculo feito pela GK aponta que a companhia, após a capitalização, será capaz de gerar um impacto de R$ 1,3 bilhão. Na prática, é como se para cada real investido pela casa, quase R$ 13 fossem gerados em benefícios à sociedade — esse é o chamado múltiplo de impacto. Os benefícios durante o período de investimento, estimado em sete anos, são de R$ 333 milhões — a diferença está no valor da perpetuidade.

Do total, 61% vem da frente social, com aumento da produção no campo devido à melhoria de eficiência, e os 39% restantes estão relacionados à questão ambiental, com redução de emissão de carbono. A estimativa é que a Rehagro poderá evitar um total de 85 toneladas de carbono.

O cálculo não é uma estimativa aleatória. Tem um bocado de ciência dentro dele. Para auxiliar nessa tarefa, embora a matemática tenha sido desenvolvida dentro de casa, a GK contratou um serviço de pesquisa comparativa de metodologias do Insper Metricis, o núcleo de medição de impacto socioambiental destinado a empresas, governos e investidores da empresa de educação liderado pelo professor de administração Sergio Lazzarini.

Patrícia Nader, sócia da GK à frente do trabalho, explicou com exclusividade ao EXAME IN, como o estudo foi realizado. “Desde que a GK surgiu, ficou decidido que a mensuração do impacto seria a espinha dorsal do fundo. Sempre foi o objetivo ter uma metodologia que conseguisse sair da subjetividade. A meta era trazer para o mundo do impacto o mesmo rigor que existe no mundo financeiro”, conta ela. Por isso, a preocupação de medir o resultado inclusive em cifras.

O trabalho começa com a definição, de forma bastante específica, de qual o propósito do negócio investido, qual a mudança que ele quer gerar na sociedade. No caso da Rehagro, a definição é pela melhoria da eficiência no campo por meio do estudo e da profissionalização. Após o investimento, a empresa de cursos — que possui conteúdos tanto para grãos e café, como para leite e corte — definiu que oferecerá também ensino para os operadores do agronegócio, que costumam ser chamados de peões. “Muitas vezes, encontramos trabalhadores sem conclusão do ensino fundamental operando máquinas de milhões de reais”, destaca Patricia.

O primeiro cálculo feito foi estimar quantos alunos a Rehagro deve ter ao longo da duração do investimento: 110 mil é a projeção. Em seguida, foram utilizados mais de 30 estudos que estimam o impacto da educação na produtividade, tanto no setor como em geral. Para se ter uma ideia da dispersão dessa conta e do desafio encarado pela GK, há levantamentos apontando que a melhoria na produtividade vai de 70% a 80% e outros, mais gerais, de 3% a 8%.

Após concluir que o percentual mais elevado acaba tendo efeito de outros investimentos, além da educação, como máquinas, sementes e fertilizantes, a GK optou por 4% nessa conta. “Preferimos ser bastante conservadores”, explica Patricia, apontando ainda que a pesquisa embute uma retenção de apenas 20% do conhecimento — também nessa de definição foram considerados estudos e levantamentos.

Os cálculos da GK partem do pressuposto que a área média impactada é de 500 hectares por aluno. Esse número é um meio de caminho entre os 1.700 hectares médios da base atual de estudantes da Rehagro, comparado à média da propriedade rural do Brasil, de 50 hectares. “A média atual da Rehagro não deve ser mantida, uma vez que atenderemos mais alunos. Mas também sabemos que não vamos chegar no produtor muito pequeno, pois a profissionalização exige investimentos.”

Para que serve tudo isso?

O cálculo do impacto tem dois objetivos. Um deles é ajudar a GK na decisão dos aportes, uma vez que a meta da casa é retornar em benefício ao menos o dobro do investimento. “Não havia base nenhuma quando começamos. Agora, talvez a gente reveja esse múltiplo para cima”, explica ela, já que a outra investida medida, a Zenklub, tem um múltiplo de impacto de 8 vezes, e é o menor encontrado no portfólio até agora.

A terceira investida foi a Negócios Verdes, que transforma em produção industrial os rejeitos, por enquanto, de duas indústrias: siderúrgica e de pedras ornamentais. O levantamento para as duas controladas dessa holding de gestão de resíduos, a Rolth e a Sulminas, está perto de ser concluído também.

Mas a principal função do cálculo de impacto é que ele também sirva como parâmetro para o desenvolvimento do negócio. “No mundo financeiro, calculamos a projeção de resultados e comparamos com o realizado. Aqui também faremos isso, ano a ano. Até para rever a proposta de valor e auxiliar em decisões futuras”, reforça Patricia. A ideia é que, caso se perceba que a Rehagro não está produzindo o impacto estimado, os motivos disso sejam avaliados. Se o problema for o curso, é porque ele passar por uma transformação.

A GK não quer manter sua ciência como segredo da casa. Ao contrário, quer que sua metodologia se espalhe e se torne comparável. “Assim como pode ser feita a comparação do Ebitda, seria importante que outros usassem a mesma base, para permitir a existência de benchmarks.”

Patrícia deve assumir a frente de cálculos da GK, separando essa atividade da gestão do investimento propriamente, para que além da dedicação, eventuais conflitos sejam evitados. O objetivo desse primeiro fundo é montar uma carteira com algo entre seis e oito investimentos, que possam receber aportes totais entre R$ 50 milhões e R$ 75 milhões.

 

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