EXCLUSIVO: Após fim do SVB, Latitud lança conta empresarial para startups brasileiras
Plataforma digital para startups já tinha produto de estruturação jurídica; agora, dá primeiro passo como fintech
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 15 de março de 2023 às 11:11.
Última atualização em 15 de março de 2023 às 19:31.
Desde o fim do Sillicon Valley Bank, uma questão permanecia para o futuro da indústria de venture capital: afinal, haveria espaço para uma nova plataforma ocupar o vácuo deixado pela instituição financeira? Ou uma maior concentração financeira em torno de instituições já conhecidas seria o ‘novo normal’? Bom, ainda é cedo para cravar qualquer resposta definitiva para ambas as perguntas, mas um movimento inicial já começa a surgir: a Latitud, plataforma de empreendedorismo tecnológico fundada por Brian Requarth (co-fundador do Viva Real), Gina Gotthlif (ex-Duolingo) e Yuri Danilchenko (ex-Escale) anuncia a Meridian By Latitud, conta empresarial com serviço de câmbio integrado. E com estrutura jurídica internacional — um dos principais diferenciais do SVB difícil de ser copiado, mesmo pelos neobancos, mas já feito por outras novas empresas no Brasil, como a Kamino.
Explicando essa situação um pouco melhor: o SVB tinha uma participação de mercado de 50% entre as startups dos Estados Unidos, "um número que era muito maior na América Latina", segundo Brian Requarth, em entrevista ao EXAME IN. Um dos principais pontos que levavam a isso era o fato de que o banco tinha produtos específicos para empresas em estágio inicial de crescimento.
Startups brasileiras que precisam de uma contraparte internacional, frequentemente, adotam uma estrutura chamada Cayman Sandwich -- por ser a estrutura mais robusta para captar dinheiro com VCs e evitar a dupla tributação da C-Corporation, estrutura que costumava ser o padrão dessas empresas. Historicamente, trata-se de um segmento de mercado que recebe pouca atenção dos bancos tradicionais, que requerem, por exemplo, até US$ 10 milhões em depósitos e têm seus próprios receios em atender startups.
Com o fim do SVB, startups norte-americanas que estavam dentro desse modelo poderão migrar para outros novos bancos, mas startups de fora dos Estados Unidos ficaram, em parte, 'órfãs' de uma instituição que fosse capaz de ajudá-las com a burocracia e, ao mesmo tempo, trabalhar na oferta de serviços financeiros.
Há nove meses, a empresa começou a trabalhar no produto lançado nesta quarta-feira. Inicialmente, ele seria lançado somente em abril, mas, diante da situação crítica enfrentada pelas empresas após o fim do SVB, foi adiantado.
O que é e como funciona
Como já era de se esperar, trata-se de um serviço dedicado principalmente a startups de estágio inicial, que captam recursos de venture capital e que precisem ter (ou pensem em) uma estrutura jurídica internacional. O que a novidade promete fazer, em linhas gerais, é permitir o acesso a serviços como recebimento e administração do dinheiro investido de investidores, câmbio (transferir fundos entre entidades jurídicas) e compliance integrado. Por meio dela, fundadores também poderão checar métricas financeiras importantes para toda startup que deseja ser lucrativa um dia, como burn rate (quanto se queima do caixa da empresa a cada mês) e runway (tempo até o fim desse caixa).
É bom que se diga desde já que o serviço da Latitud não pode ser chamado de banco por questões regulatórias. Trata-se, sim, de uma fintech. Os serviços bancários, corretagem, câmbio e outras atividades reguladas serão oferecidos por meio de parceiros licenciados. "Nós queremos fazer pelas startups o que o Nubank fez para a pessoa física", afirma Requarth.
A nova oferta da fintech não vai contemplar crédito, um dos principais pontos evidenciados por fontes ouvidas pelo EXAME IN como um ponto menos definido (por enquanto) dentro de toda a história do fim do Silicon Valley Bank para startups no futuro -- e cujo espaço para ser aproveitado permanecerá aberto.
'Big Picture'
A Latitud ainda pode ser um nome menos conhecido na indústria do Venture Capital do que o dos principais fundos de investimento dentro do ecossistema. Mas ganha cada vez mais relevância no cenário nacional. A plataforma começou como uma comunidade para fundadores em toda a América Latina, de olho em identificar os principais 'gargalos' enfrentados por fundadores.
O primeiro foi a dificuldade para abrir uma empresa internacionalmente. A partir desse problema, a empresa criou o Go, um produto que ajuda startups em estágio inicial a identificar estruturas jurídicas com melhor custo-benefício para a situação de cada uma delas, e cria essa entidades nos Estados Unidos e nas Ilhas Cayman.
Agora, a ideia é dar um passo além, fornecendo também a estrutura financeira de que essas empresas precisam para sobreviverem.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.