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Década termina com R$ 350 bilhões em ofertas de ações

Mesmo com pandemia, 2020 fez 33% de todo movimento da década com ofertas públicas de ações na B3

IPO da Méliuz: 2020 teve listagem da maior novata da bolsa  da história e das primeiras startups
IPO da Méliuz: 2020 teve listagem da maior novata da bolsa da história e das primeiras startups
GV

28 de dezembro de 2020 às 14:16

A exuberância do mercado de capitais em 2020 fez a década terminar com nada menos do que 357 bilhões de reais movimentados em ofertas de ações, tanto nas iniciais (IPOs) quanto nas subsequentes. Essa é a soma do quanto as vendas públicas de papéis giraram no Brasil, colocando dinheiro no caixa de empresas e no bolso de acionistas vendedores.

O total cresce se forem consideradas as emissões de companhias brasileiras na Nasdaq, com as ofertas realizadas por PagSeguro, Stone e XP Investimentos. Desde dezembro de 2017, essas três empresas já venderam mais 11 bilhões de dólares em ações na bolsa americana. O câmbio variou substancialmente nesse período, mas a quantia faria a movimentação gerada por empresas brasileiras ultrapassar 400 bilhões de reais com facilidade.

As previsões de largada para a próxima década são de assombrar. Os números variam de 150 bilhões de reais a 200 bilhões de reais para 2021. Para quem não lembra, essa era a previsão para 2020. Em março, tudo parecia perdido. Mas a partir do IPO da Estapar, em maio, pouco a pouco, as surpresas foram acontecendo. E o ano terminou com recorde mesmo com pandemia e tudo. Com recorde e com fila para 2021. Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já há 43 ofertas no aguardo de registro. Não são pouco que começaram a falar na possibilidade de a B3 ter de 1.000 a 1.500 companhias nos próximos cinco a dez anos.

Engano acreditar que só as ofertas primárias são recursos injetados na economia. Quando um acionista, seja fundador ou fundo de participações, monetiza o investimento, esse recurso também aquece negócios — virando consumo ou se transformando em novos investimentos. Por isso, o total importa e muito.

É impossível não notar que em um ano no qual é esperada uma queda de 4,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) o mercado tenha reagido tão fortemente, fruto da liquidez que os governos injetaram nas economias — é o que dizem. Mas é fato também que a bolsa brasileira ainda é o lugar das grandes empresas. Aquelas que podem ganhar quando os pequenos perdem — e muitos ficaram pelo caminho, abatidos pela pandemia.

Ainda assim com seu recorde de 117 bilhões de reais em ofertas públicas de ações, o ano responde sozinho por 33% do total movimentado na década. Quando somado a 2019, os dois últimos anos fizeram 58% de todo o intervalo de 2011 a 2020.

Esses últimos dez anos, porém, tiveram menos estreias na bolsa do que parece: 73 ofertas públicas iniciais (IPOs). Desse total, 28 chegaram neste ano à B3 — um total que só perde para 2007, o ano do boom com suas 64 novatas. Mas, no período anterior de atividade, que começou em 2004 e foi até 2010, foram 122 estreias na bolsa. A B3 tem atualmente 350 companhias abertas.

Verde e amarelo

Nesse período, muita coisa mudou no mercado brasileiro. No início da década, o conhecimento de bancos estrangeiros era essencial, não apenas pela experiência internacional, como pelos contatos — uma vez que os compradores estavam fora do Brasil.

Entre 2004 e 2010, os estrangeiros eram os principais investidores da bolsa brasileira e também das ofertas de ações, ficavam com uma fatia que ia de 60% e podia chegar perto de 80%. Ao longo dessa década, esse percentual foi diminuindo gradualmente com o crescimento da indústria local de fundos — e neste ano ficou em torno de 30%, com o estrangeiro no contrafluxo da bolsa.

De acordo com dados da Anbima, o patrimônio líquido de fundos de ações e multimercados saiu de pouco menos de 600 bilhões de reais, ao fim de 2010, para 1,95 trilhão de reais até o momento. O número de fundos de ações, por curiosidade, saiu de 1,6 mil para 2,9 mil nesse intervalo. Já as carteiras multimercados mais que dobraram: de 5,2 mil para 10,6 mil.

O aumento do patrimônio reflete a valorização das empresas, o pagamento de dividendos e também a captação de recursos novos. Os dados da associação apontam que somente as carteiras dedicadas a ações receberam aportes de 198 bilhões de reais nessa última década.

Enquanto isso, os bancos nacionais tomaram a dianteira das operações. Neste ano, o BTG Pactual foi o que concentrou a liderança das ofertas, com um total de 35 transações como coordenador líder. O principal novo entrante desde mercado — e primeiro desde a revitalização do mercado brasileiro — é a XP Investimentos, também uma puro-sangue brasileira. Ao longo dos últimos anos, com Itaú BBA e Bradesco BBI, as instituições nacionais concentraram as transações.

Os destaques da década

Em dez anos, 73 novas empresas estrearam na bolsa. Dessas, muitas foram consolidadas ou não conseguiram ainda conquistar grande brilho como empresa aberta. Mas as que se destacaram prometem hoje tomar a dianteira do mercado. Entre elas, impossível não citar, está Magazine Luiza.

A Magalu, como é conhecida, estreou na B3 em 2011 avaliada em 3 bilhões de reais. Atualmente, vale nada menos do que perto de 160 bilhões de reais. A empresa, conduzida pela dupla de mãe e filho de Luiza Helena Trajano e Frederico Trajano, teve uma valorização superior a 5.300% desde o IPO. Fez em uma década pouco menos do que a empresa dos sonhos de Warren Buffett, a See’s Candies, fez em quase 50 anos, ao dar ao bilionário da Berkshire Hathaway um retorno de 8.000% desde o investimento nos anos 70.

Mas esses dez anos têm outros destaques, como Arezzo, Anima Educação, Azul, Grupo Notre Dame Intermédica, Hapvida, entre outras. Mais de 10% da atual composição do Índice Bovespa é formada por companhias que estrearam no mercado a partir de 2011. E, por que não lembrar que 20 anos após a criação do Novo Mercado, as ações das companhias listadas nesse segmento são 50 dos 77 papéis que compõem o principal indicador da bolsa brasileira?

A evolução do mercado brasileiro foi tal nesse período que 2020 comportou o IPO da maior estreante da bolsa que se tem notícia, a companhia de hospitais Rede D’Or, e a primeira oferta inicial de uma startup, a Méliuz (seguida por Enjoei). Sinal de que o mercado brasileiro, mesmo com muito a evoluir ainda, teve bolso para uma gigante e ainda disposição negócios da nova era digital.

Pequeno gigante

O ano de 2020, fim da década, também ficará marcado como o grande salto do investidor pessoa física na bolsa. O número de contas ativas dobrou ao longo do ano, alcançando 3,2 milhões. E a pessoa física tem hoje sob custódia quase 390 bilhões de reais aplicados em ações diretamente na B3, o valor equivale a mais de 75% do que o patrimônio de toda a indústria de fundos.

O varejo apareceu em peso como comprador e vencedor da crise e também nos IPOs. A oferta inicial da Rede D’Or contou com a participação de mais de 41 mil pessoas físicas e o varejo esteve presente até na startup Méliuz: mais de 1.000 investidores compraram as ações na operação.

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