Coronavírus derrubará em 70% matrículas em faculdades privadas
Estimativa da consultoria Atmã Educar aponta que, por causa da pandemia, apenas 180.000 alunos ingressarão no segundo semestre, ante 625.000 previstos
Publicado em 21 de maio de 2020 às 13:00.
Última atualização em 21 de maio de 2020 às 16:53.
A pandemia do coronavírus está mudando de forma definitiva um dos negócios que mais cresceram no Brasil da última década -- o ensino superior privado. Com os estudantes em casa, as redes de ensino precisaram intensificar as aulas online, mas a distância deve impulsionar a inadimplência e afetar a captação de novos alunos.
As matrículas de meio de ano nas redes de ensino superior devem cair 70% em meio à pandemia do coronavírus, segundo estimativas da consultoria Atmã Educar. De 625.000 novos alunos previstos, apenas 180.000 devem de fato efetivar as matrículas.
No total de novos alunos previstos para o ano, a queda deve ser de 17% -- de 2,5 milhões para 2.060 milhões. Somando esse dado com um aumento na inadimplência, a perda de receita no ano para as redes privadas pode chegar a 10%, ou 6 bilhões de reais, segundo a Atmã.
O ambiente remoto é a alternativa possível, mas no curto prazo não é uma solução que reduza os custos das instituições. Pelo contrário. A Atmã calcula que uma faculdade média, de 5.000 alunos, precise investir 200.000 reais para iniciar aulas online -- e, depois, outros 15 reais por aluno por mês com tecnologia e conteúdo.
No médio prazo, as aulas online devem, sim, ajudar a reduzir os custos -- e a reduzir a demanda por professores. Em média, o salário dos professores representa 80% do gasto das instituições de ensino superior, uma despesa difícil de ser reduzida em 2020. Ainda assim, sem atividades físicas, alunos têm demandado reduções nas mensalidades, colocando as instituições contra a parede.
No total, 6,5 milhões de alunos estão hoje nas redes de ensino superior privado -- dos quais cerca de 2 milhões são à distância. O problema é que a modalidade à distância têm mensalidade muito mais barata que a presencial -- 280 reais ante 780 reais. Agora, com todos em casa, os alunos presenciais podem achar que pagam pelo que não recebem. No Rio de Janeiro, a Defensoria Pública do Estado ingressou na Justiça com pedido de desconto imediato de 30% no valor das mensalidades até o fim do isolamento social.
Em meio à queda de braço, a inadimplência média passou de 20% para cerca de 30% como consequência da pandemia. "Não é uma catástrofe. A grande apreensão é com a renovação da matrícula, já que os alunos não estão tendo as atividades práticas", diz Romário Davel, sócio da Atmã.
A consultoria está criando um projeto para fazer com que instituições de médio porte, com até 5.000 alunos, possam receber aulas de um núcleo central de produção de conteúdo. É uma opção de cortes de custos e ganho de escalas, com suporte amparado por tecnologia.
A ideia é dar até 40% das aulas desta forma a partir de 2021 (e o máximo possível esse ano, por uma brecha legal influenciada pelo coronavírus). Nesta modalidade, um professor pode dar aula para até 300 alunos em cursos de direito. "A pandemia já quebrou o paradigma de alunos e professores sobre ensino à distância", diz Romário Davel.
O problema, claro, é como (e quanto) cobrar por isso. Em condições normais, instituições que decidirem aumentar a carga online de seus cursos presenciais devem informar o novo modelo aos estudantes com 30 dias antes aos alunos.
Com as dificuldades da pandemia, grandes redes de ensino têm sofrido na bolsa -- as ações chegaram a cair 60%. A Cogna, ex-Kroton, aprovou essa semana a emissão de 500 milhões de reais em debêntures, com prazo de três anos. O dinheiro captado servirá para alongar a dívida da companhia e fazer aportes de capital em suas controladas. A companhia divulga resultados nesta quinta-feira, após o fechamento do pregão, e deve perde 22 milhões no trimestre, segundo relatório do banco BTG Pactual.
Ainda segundo o BTG, as oportunidades para as grandes redes continuam no longo prazo. Inclusive na consolidação do mercado com a compra de grupos regionais de ensino. Como costuma acontecer em crises, os pequenos e médios devem ser os mais afetados pela onda do coronavírus nas redes de ensino.
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