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Cielo: debêntures de R$ 3 bi têm garantia dos donos e reforçam balanço para vencimentos

Empresa conseguiu garantir montante suficiente para pagar passivo de R$ 2,6 bi que vence em novembro

Cielo: 'reinado' da companhia na bolsa acompanha forte resultado operacional no ano (Cielo/Divulgação)
Cielo: 'reinado' da companhia na bolsa acompanha forte resultado operacional no ano (Cielo/Divulgação)
KS

2 de setembro de 2022 às 14:02

A Cielo, uma das maiores empresas do setor de adquirência no Brasil, anunciou nesta semana a 6ª emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões. A companhia vai oferecer uma remuneração para os papéis de CDI + 1,2% ao ano. Uma custo para lá de razoável, se não fosse a Selic. Apesar de, na ata da reunião do conselho de administração que aprovou a operação, constar que se trata de recursos para capital de giro e as necessidades rotineiras da empresa, o dinheiro novo vem bem a calhar. 

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Em novembro, a companhia vai encarar o vencimento dos bonds emitidos, em 2012, para a aquisição da Merchant-E, uma companhia de adquirência nos Estados Unidos, que não trouxe os resultados esperados. O negócio foi vendido neste ano por US$ 137 milhões e contém ainda uma parcela variável, que depende dos resultados futuros, de US$ 150 milhões.

Mesmo considerando o valor integral da transação, que é de quase US$ 290 milhões, ela não paga nem os US$ 670 milhões investidos à época no negócio e nem a dívida que restou desse movimento. Há dez anos, para fazer frente a essa compra, a Cielo emitiu US$ 875 milhões em bonds com vencimento de dez anos. Parte disso foi recomprada em 2019 e o saldo remanescente é da ordem de US$ 500 milhões, um passivo de R$ 2,6 bilhões, conforme o balanço de junho. Em 2023, a empresa tem mais uma agenda pesada de vencimentos, da ordem de R$ 3,5 bilhões, com vencimento de debêntures.

Mas o dinheiro novo de agora já está garantido. Os controladores da empresa, Bradesco e Banco do Brasil, são os estruturadores da emissão e também os garantidores. Caso não haja demanda suficiente do mercado, há garantia firme de que eles absorverão todos os títulos. Uma vantagem e tanto — um dos benefícios de ser uma incumbente do setor.

Para atestar a isonomia do negócio, as condições da emissão foram aprovadas sem a participação dos conselheiros indicados por Bradesco e Banco do Brasil. E os demais conselheiros afirmaram que a operação está de acordo com as melhores práticas do negócio.

Desde maio, a Cielo iniciou um movimento de captação de recursos para capital de giro com uma linha de crédito via cédula de crédito bancário (CCB), no total de R$ 1,6 bilhão. Ao fim de junho, o saldo em aberto dessa linha era de R$ 780 milhões, com taxa média de CDI + 0,41% ao ano.

A despeito de todos esses cuidados — para lá de necessários — não escapa do mercado a leitura de que a companhia, assim como Rede (Itaú) e GetNet (Santander), é beneficiada por ter "pais ricos" — os tais bancões.

Tudo isso só torna as operações de Stone e PagSeguro, que não têm bancos como controladores, mais desafiadoras e disruptivas. Em especial, pelo tamanho que alcançaram. Antes, quando eram pequenas, financiar seus negócios era mais simples. O tamanho trouxe vantagens, é claro, mas também desafios maiores, como o funding para a frente de antecipação de recebíveis.

Na divulgação dos resultados do segundo trimestre, como se tornou praxe desde a pandemia, as reações foram fortes. Cielo e PagSeguro subiram cerca de 8% após os números, já a Stone (após ter subido bastante antes da divulgação), caiu mais de 20%. O mercado entendeu, no caso da Stone, que o crescimento e melhoria de rentabilidade — especialmente o esperado para o terceiro trimestre, com as projeções oficiais da empresa — está em ritmo menor do que o esperado.

Stone e PagSeguro chegaram para desafiar as incumbentes, em especial Cielo e Rede, num mercado cujas taxas eram para lá de altas. Foram diretamente aos clientes desprezados pelas grandes: o micro, pequeno e médio empreendedor (quem não se lembra de, antes do PIX, pagar táxi só na maquininha da PagSeguro?). O take rate desse negócio já foi próximo de 5%. Hoje, a Cielo, que tem a nata dos clientes, tem um take rate de 0,71%, enquanto na Stone, que opera em um nicho de maior risco, essse percentual é 2,09%.

A diferença é grande. Mas, para analistas e investidores, ainda insuficiente. Os números, olhando o curto prazo, fazem jus a essa avaliação. No segundo trimestre, a Cielo trouxe um lucro líquido de R$ 635 milhões, mais do que triplicando a cifra do mesmo período do ano passado. Sem considerar a venda da MerchantE, realizada em abril, a última linha do balanço foi 79,6% maior do que a do segundo trimestre de 2021.

Na Stone, que vive uma profunda reorganização da empresa, com foco em melhorar eficiência e trazer mais rentabilidade, o lucro líquido considerado pelos analistas, após as despesas com as opções de ações, foi de R$ 47 milhões.

No mercado, a expectativa para 2022 é que a companhia tenha um lucro líquido da ordem de R$ 1,8 bilhão, com algumas projeções para cima e outras para baixo. Mas, de qualquer forma, uma performance robusta.

Não à toa, neste ano a companhia é a que mais subiu no Ibovespa, com alta acumulada de 146%. Tomando como base a estimativa para este ano, significa que antes da valorização, a Cielo era negociada a 3 vezes o lucro — uma pechincha. E os analistas afirmam que, se mostrar que tem crescimento para 2023, vai continuar barata. Ou seja, a valorização ocorrida até aqui não teria sido suficiente para corrigir o valor distorcido pelo qual era negociada antes.

 

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