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BTG Pactual capta US$ 500 mi e dá a largada em revolução verde no crédito

BTG inaugura grandes operações verdes de bancos e obtém a menor taxa de um emissor brasileiro, mesmo entre instituições financeiras

Investimento de impacto (Thithawat_s/Getty Images)
Investimento de impacto (Thithawat_s/Getty Images)

Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 15:48.

Última atualização em 15 de janeiro de 2021 às 13:10.

O BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME) está puxando a fila de uma revolução no mercado de crédito. O banco fechou nessa semana uma emissão de 500 milhões de dólares em green bonds ou bônus verdes. É a primeira grande captação por um banco privado no Brasil desse tipo.

Os recursos, claro, serão usados para expansão da carteira — que deu um salto de 74% na comparação anual, para 68,3 bilhões de reais ao fim de setembro, e com índice de basileia em 17,5%. Com essa operação, o dinheiro com propósito e metas sustentáveis começa a chegar ao crédito privado tradicional, dos bancos para as empresas.

Os bônus saíram a uma taxa de 2,75% ao ano, para vencimento em janeiro de 2026. É a menor já obtida por um emissor brasileiro, mesmo entre as instituições financeiras e até considerando prazos mais curtos — a mais baixa até então era do Bradesco, de 2,85%, em um título de três anos oferecido em janeiro de 2020.

Entre as não financeiras, as empresas de papel e celulose Suzano e Klabin se destacam com os menores custos já vistos em um título corporativo do Brasil, com taxas de 3,10% e 3,20%, respectivamente, para sustainability linked bonds de dez anos.

Nas captações feitas em green bonds, os recursos precisam ser usados para promover melhorias ambientais. O dinheiro levantado fica carimbado. Até então, apenas duas pequenas colocações privadas  de instituições financeiras tinham sido realizadas com essas características.

O BV (antigo Banco Votorantim) captou 50 milhões de dólares, com prazo de cinco anos, em junho do ano passado, e o BTG Pactual levantou outros 50 milhões de dólares em novembro, no mesmo formato. Grandes emissões por bancos ainda não tinham acontecido. A única exceção é o BNDES, de fomento, que levantou 1 bilhão de dólares em títulos verdes, com prazo de sete anos, em maio de 2017.

O leitor pode se perguntar: mas o que faz um banco com uma emissão verde? A resposta é a beleza da coisa: dá crédito verde. O que significa fornecer recursos às empresas com o mesmo propósito de melhoria das práticas sustentáveis. “Os bancos têm um papel muito importante nesse processo e nós queremos nos posicionar com uma instituição forte nessa área”, afirma João Dantas, diretor financeiro e de relações com investidores do BTG.

A diretriz para essas operações é clara: “Digamos que não haja oportunidades interessantes de crédito desse tipo. Nesse caso, o recurso fica em caixa”, explica Dantas.

O BTG Pactual não quer apenas fornecer crédito com essa característica. O objetivo é que os fatores ESG, ambientais, sociais e de governança, permeiem toda a operação do banco. “Temos condições de ajudar as companhias a investir para melhorar suas práticas porque temos conhecimento das cadeias produtivas e podemos mapear tudo que pode ser feito. Podemos oferecer o recurso e muito mais. Sabemos ver onde há espaço para evolução.”

Somadas as ofertas de Suzano e Klabin, mais BTG, as companhias brasileiras já captaram mais de 8 bilhões de dólares em títulos sustentáveis, entre green e linked-bonds. Esse valor não inclui as operações locais que também começam a ter essas características.

Embora BTG e BV tenham saído na frente, é fato que todo o setor está se preparando nessa direção. Outras emissões de outros bancos virão. Estar pronto para isso exige muito mais do que o discurso. É preciso criar um arcabouço de regras, repletas de detalhes, sobre como avaliar, medir e prestar contas.

A liquidez internacional está favorável e as taxas bastante vantajosas para os emissores. As transações dessa semana, por exemplo, refletem três condições: o ambiente global de taxas comprimida, a qualidade dos negócios e as características (verde) dos papéis.

Ser green tem benefícios e um deles já tem até nome: “greenium”, que é o desconto no custo que os emissores conseguem por atrelarem os papéis a metas e objetivos ESG. Pronto. Juntou a fome com a vontade de comer.

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