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Antes de pedir dinheiro novo, CVC alerta para perdas de R$ 1,1 bi

Companhia prepara capitalização em ações e renegociação de dívidas, mas antes precisa regularizar balanços de 2019 e do primeiro trimestre de 2020

Sem visibilidade: CVC vive a crise dentro da crise, com ajustes de governança em meio à pandemia (Tamires Kopp/Exame)
Sem visibilidade: CVC vive a crise dentro da crise, com ajustes de governança em meio à pandemia (Tamires Kopp/Exame)

Publicado em 7 de julho de 2020 às 12:16.

Última atualização em 7 de julho de 2020 às 12:45.

A companhia de agências de viagens CVC deu tristes notícias a seus investidores nessa terça-feira. A “tristeza” é de R$ 1,1 bilhão de reais, quando somados os ajustes negativos no balanço  por causa de erros contábeis encontrados de 2015 a 2019 com mais as perdas  relacionadas à pandemia. O custo da paralisação mundial para a companhia já chegava a 740 milhões de reais, verificados só no primeiro trimestre.

A CVC está prestes a anunciar uma capitalização, com a emissão de ações. Por isso, quis detalhar aos investidores sua situação, para que saibam exatamente o que será vendido a eles. Importante ressaltar que cada ajuste da soma bilionária afeta linhas diferentes do balanço.

No fechamento de ontem, a companhia estava avaliada em 3 bilhões de reais na B3. Esse valor já esteve abaixo de 1 bilhão de reais, no meio de março, quando a ação — que ontem fechou em 20,67 reais — bateu em 6,49 reais. O auge da CVC na bolsa foi no início de 2019 quando chegou a valer perto de 10 bilhões de reais.

Inicialmente, a companhia desejava levantar perto de 1 bilhão de reais para fortalecer sua posição de caixa e ganhar fôlego para lidar com a crise do coronavírus, que atingiu em cheio o setor de aviação e turismo mundo afora. Para o fechamento de dezembro, a empresa relatou um saldo de 365 milhões de reais em caixa, o que equivalia a uma dívida líquida de 1,5 bilhão de reais.

Paralelamente à captação, a companhia também terá de enfrentar uma renegociação com debenturistas. Há 1,5 bilhão de reais em compromissos com esses credores, dos quais pouco mais de 600 milhões venceriam ainda neste ano. Sem contar que terá de lidar com pedido de dispensa de cláusulas de antecipação de vencimentos, devido à não apresentação do balanço e ao descumprimento de índices de alavancagem.

A duração dos problemas relacionados à pandemia, contudo, deverá demandar mais recursos da empresa e uma reorganização mais complexa dos passivos. Para prosseguir com as negociações todas, a CVC precisa publicar até o fim deste mês os balanços auditados de 2019, o que terá as correções devido às falhas contábeis, e do primeiro trimestre de 2020.

Desde que a crise teve início, a companhia atraiu um grupo novo de sócios de mercado, dispostos a dar suporte neste momento. O fundador do negócio Guilherme Paulus, que se afastou da empresa há dois anos após admitir o pagamento de 161 milhões de reais em propinas para evitar uma cobrança de tributos, terminou de vender toda sua participação em bolsa no começo deste ano. A companhia seguia sem um acionista de referência, mas um grupo de investidores viu nos preços e nos problemas uma oportunidade. Atualmente, o maior acionista é o Opportunity, que montou uma posição superior a 10% no capital, seguido pela Equitas, com 5,16%.

Inicialmente, a empresa havia estimado um ajuste de 250 milhões de reais na linha da receita líquida devido às fraudes na contabilidade. Contudo, agora, o avanço das investigações internas aponta que os erros são de 350 milhões de reais. A empresa informou que tentará recuperar 55 milhões de reais em tributos pagos indevidamente em razão dessas falhas.

Todos os valores divulgados, segundo a empresa, ainda “estão sujeitos à revisão pelos auditores independentes e serão confirmados ao final do processo de elaboração das informações financeiras intermediárias relativas ao primeiro trimestre de 2020”.

Dos impactos anunciados, 556 milhões de reais são de uma baixa contábil, o famoso impairment, sendo 475 milhões de reais de ativos intangíveis fruto de aquisições, em especial na Argentina, e 81 milhões de reais de créditos tributários que a empresa entende que não mais conseguirá utilizar.

Outros 96 milhões de reais são perdas com cancelamentos de viagens. Há ainda 72 milhões de reais de lançamentos relacionados à provisão para devedores duvidosos, devido a um notado aumento da inadimplência, e perdas diversas da ordem de 16 milhões de reais, relativas, principalmente, a fornecedores e parceiros.

A CVC também informou os investidores que tem 380 milhões de reais em créditos com empresas aéreas, de bilhetes já pagos. A companhia está alertando para o risco de perdas nesses créditos, uma vez que o futuro das empresas de aviação está ameaçado e muitas estão entrando em profundas dificuldades financeiras.

Para a CVC, 2020 é o ano da crise, de gestão e governança da empresa, dentro da crise — talvez a maior, em termos de economia global que se tem notícias até hoje. E com certeza a que mais duramente afetou o setor de turismo.

 

 

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