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Stone avança 5% na bolsa com upgrade do BTG

Banco revisitou recomendação para a ação depois de dois anos avaliando a companhia como "Neutra"; saída de Street não mexe o ponteiro

Stone: BTG deu um upgrade depois de dois anos avaliando o papel como neutro (Stone/Divulgação)
Stone: BTG deu um upgrade depois de dois anos avaliando o papel como neutro (Stone/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

26 de março de 2024 às 15:30

O BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) divulgou nesta manhã um extenso relatório a respeito da Stone. O motivo? Um upgrade depois de dois anos avaliando o papel como "Neutro". De coração aberto, a equipe de Eduardo Rosman foi além dos aspectos operacionais da companhia analisada e trouxe um pouco do racional 'da porta para dentro' para justificar o porquê de a mudança de recomendação ter acontecido só agora. Os papéis reagiram na bolsa hoje, com valorização de 5% (às 15h39), tendo alcançado o pico de 7% no início da tarde.

O texto começa assim: “Analistas de sell side têm um jeito único de escrever suas recomendações e de dividir suas opiniões com investidores. No nosso caso, evitamos mudanças abruptas. Quando ficamos neutros e temos uma visão mais positiva em relação a uma ação devido a um bom valuation ou a um ponto de virada próximo, dizemos que ‘nossa percepção melhorou’, sem mudar o rating. Mas, se nos tornamos mais confiantes em resultados e a ação não se move de acordo, um upgrade geralmente vem”.

É desse racional que vem a mudança anunciada nesta terça-feira: é a ponta mais recente de uma história que se desenrola há quase três anos. Tudo começou em 2021, "um ano para a empresa esquecer (ou para aprender lições valiosas)", escrevem os analistas. No auge do bom humor do mercado, o preço da ação atingiu US$ 92 e a companhia estava avaliada a US$ 28 bilhões.

O período seguinte não foi tão auspicioso, para dizer o mínimo. No ano seguinte, depois de diferentes frustrações que erodiram a confiança do banco com a companhia — na época, a Stone lançava ao mercado pela primeira vez sua vertical de crédito, que não trouxe os resultados esperados.

Depois de um início de 2021 confiante, no fim daquele ano, o banco rebaixou a Stone para "Neutro", em um relatório no qual fez um 'mea culpa' por ter estendido demais o benefício da dúvida para a companhia.

"Foi um downgrade tardio, claramente, já que a ação estava a US$ 16, ou 80% menos do que a alta histórica. Mas, ainda assim, se provou correto. A ação caiu abaixo de US$ 10 no meio de 2022 e ficou nesse patamar até outubro de 2023. Hoje, é negociada a US% 15,80", escreveram os analistas.

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Justamente em outubro, há cinco meses, acompanhando a evolução do preço da companhia na bolsa, o banco ficou mais otimista com a Stone. Menos pelo preço das ações subindo e mais pelos números operacionais fortes — refletindo o intenso processo de reestruturação pelo qual a Stone passou desde a escalada da Selic.

"Não planejamos revisistar os erros da Stone. Mas a retomada da companhia tem sido impressionante, ultrapassando de longe nossas expectativas iniciais", dizem os analistas.

A retomada da Stone

Desde o início de 2022, a Stone tem entregado resultados em linha com o guidance para TPV, receita e EBT — frequentemente ultrapassando as estimativas de mercado. No começo de 2023, o BTG esperava lucro líquido de R$ 1 bilhão para o ano, e a companhia entregou 60% mais, o que significa três vezes mais que o resultado de 2022.

"Quando a Stone reportou resultados melhores do que o esperado no dia 12 de novembro, nós escrevemos que 'a confiança crescia'. A ação estava sendo negociada a atrativos US$ 10,70 mas, infelizmente, ficamos neutros. Apesar de ressaltar a ação como uma oportunidade de compra de curto prazo. Nossa razão? estávamos esperando pelo investor day que se realizaria alguns dias depois", dizem os analistas.

Desde então, a ação passou por um rali entre outubro e novembro e a confiança do banco só cresceu. O fato de o mercado ainda avaliar a ação a US$ 16 completou o bom momento, que fez com que o BTG tivesse a confiança necessária para elevar a Stone ao status de "Compra".

Hoje, a ação é a principal escolha no universo de pagamentos da América Latina. Negociada a 11,4 vezes P/L para 2024, e melhorando o ROE, a oportunidade de ir além de pagamentos pode deixar as previsões do mercado parecendo bem conservadoras para 2025 em diante. O sell-off recente, depois de o fundador André Street anunciar sua saida do board, também criou um ponto de entrada interessante.

"A Stone está abaixo do desempenho da PagSeguro [também avaliada a "Compra"] em 24% no acumulado do ano, e agora nós vemos ambas sendo negociadas ao mesmo P/E também para 2025, de 9,5 vezes", dizem os analistas.

Os analistas do BTG não acreditam que a saída de André Street mude o jogo para a companhia daqui para a frente"Thiago Piau, ex-CEO, continua no board e é muito próximo de Street, que já tinha saído do controle da Stone há algum tempo. Ele [Street] foi muito importante para a companhia, é claro, mas seu papel é muito menos crítico hoje, com a Stone se tornando uma empresa mais madura e mais forte", afirmam.

Guidance de longo prazo é agressivo — e investidores desconfiam

Os resultados vieram a partir de um plano tático elaborado na gestão de Pedro Zinner, que assumiu o cargo de CEO no início de 2023 (antes disso, era apenas membro do conselho). No investor day, o executivo ressaltou três pontos principais: uma distribuição de rede robusta e canais digitais eficientes; atendimento ao cliente rápido e eficaz; e uma vasta plataforma comercial crescendo em uma variedade de produtos financeiros e em soluções de software.

Os pontos também foram reforçados por Zinner na divulgação dos resultados anuais referentes a 2023. Na entrevista — e no evento — o CEO ressaltou que a companhia vai focar em quatro nichos principais: varejo, postos de gasolina, alimentação e farmácia. De acordo com estimativas da companhia, eles concentram 76% do mercado potencial de PMEs, ou um TPV de R$ 236 bilhões — dos quais a Stone tem apenas 8%.

Os analistas acreditam que o foco nessas verticais pode eventualmente impulsionar o ganho de receita, ao mesmo tempo que o objetivo deles de aumentar a penetração de soluções de pré-pagamento e produtos financeiros na base da Linx pode funcionar como um vento de cauda, criando um novo mercado endereçável para a Stone. De todo modo, o foco bem definido deve orientar a alocação de capital da companhia — o que é visto de forma positiva.

A companhia tem um guidance de longo prazo agressivo, na visão dos analistas. Os números esperados para 2024 são relativamente conservadores, enquanto os de 2027 parecem bem acima do consenso. Lembrando que a Stone admitiu que o longo prazo depende principalmente de sua iniciativa de crédito.

Assumindo que a Stone atinja seu objetivo de expansão de crédito e esperando que as perdas fiquem em torno de 10%, é possível ver uma contribuição de 10% a 15% para o lucro líquido em 2027.

"Enquanto nossa estimativa para 2024 está acima do guidance, a principal razão pela qual estamos 20% abaixo de 2027 está relacionada aos resultados de crédito e depósitos", dizem os analistas. "Na nossa última pesquisa com investidores, 70% não acredita no guidance fornecido para o investor day em 2027. Apenas 8% acredita no guidance", afirmam.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.