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Na WEG, a falácia da baixa rentabilidade fora do Brasil

País tem retorno sobre patrimônio melhor que a média, mas unidades internacionais vêm fechando o gap, com destaque para Estados Unidos e China, mostra estudo do BTG

 (Leandro Fonseca/Exame)
(Leandro Fonseca/Exame)
Natalia Viri

Natalia Viri

27 de fevereiro de 2024 às 17:55

Uma das grandes multinacionais de origem brasileira, a WEG vem num ritmo forte de expansão internacional ao longo das últimas décadas. Com uma vantagem competitiva grande no Brasil, com uma operação verticalizada e liderança isolada na fabricação de motores industriais e outros componentes, a companhia vem sinalizando uma melhora na rentabilidade de seu negócio internacional.

Mas, como só divulga as margens, retorno sobre patrimônio (ROE) e sobre capital investido (ROIC) consolidados, no mercado sempre rondaram temores de que o aumento da rentabilidade visto ao longo dos últimos anos venha da operação brasileira, que subsidiaria retornos deprimidos fora do país.

Uma análise publicada hoje pelo BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME) joga essa teoria por terra.

Com base nos balanços apresentados por cada uma das subsidiárias dentro e fora do país, que mostram o patrimônio para os acionistas e o lucro ao fim de cada período, a equipe liderada por Lucas Marquiori calculou o ROE de cada região desde 2012.

“O exercício mostra que, apesar de o Brasil entregar os melhores retornos de maneira consistente, as operações internacionais vêm melhorando significativamente ao longo dos últimos anos”, concluem os analistas.

Eles ressaltam que se trata de uma conta aproximada, mas que guarda alta correlação com o ROE geral da companhia – em suma, uma boa proxy de rentabilidade, ainda que não perfeita.

O dado consolidado, divulgado pela WEG, mostra uma melhora impressionante na última década o ROE dobrou, passando de 16% em 2012 para 32% em 2023.

O maior salto aconteceu durante a pandemia: as margens que rondavam a casa dos 17% a 19% desde 2013 passaram para mais de 26% em 2021 e 28% em 2022, chegando finalmente a casa dos 30% no ano passado.

Os cálculos do BTG mostram que as taxas mais significativas vêm, realmente, do Brasil, onde o retorno passou de 19% em 2012 para 34% no ano passado.

“A grande melhora no perfil de rentabilidade da operação brasileira muito provavelmente impulsionou os ganhos de ROIC no nível consolidado”, aponta o BTG, destacando o desempenho dos ROEs das unidades de transformadores de drives & control no ano passado.

Estados Unidos e China são destaques

Outras regiões, contudo, merecem destaque. Nos Estados Unidos, o ROE passou de dois dígitos baixos desde 2019 para 29% no ano passado.

“Acreditamos que esse aumento rápido nos retornos demonstra o cenário mais benigno para equipamentos de energia durante a pandemia, com produtores locais se beneficiando de uma tendência de nearshoring”, aponta Marquiori. “Investimentos no grid e na capacidade energética, incentivados pelo governo, rapidamente ocuparam a capacidade industrial disponível, levando a resultados melhores.”

Na China, onde a WEG opera desde 2004 com quatro unidades de produção, o desempenho foi mais errático. Voláteis ao longo dos primeiros anos da década de 2010, os retornos caíram para o terreno negativo entre 2015 e 2019, provavelmente ligados a maiores investimentos em aumento de capacidade

Mais recentemente, o indicador voltou para o positivo, chegando a 16% em 2022 e 18% em 2023, com aumento de utilização de capacidade. “O ROE elevado também indica que a companhia está pronta para um novo ciclo de crescimento no país”, diz o BTG.

No México, por sua vez, apesar de um aumento significativo de capacidade, a expansão de ROE foi menor, chegando a 14% no ano passado. O mesmo acontece com a África do Sul, cujo retorno está na casa dos dois dígitos médios, mas estavam com retorno negativo na casa dos 10% entre 2016 e 2018.

Um desempenho impressionante vem da subsidiária da Áustria, com um retorno sobre patrimônio consistentemente acima do brasileiro e que chegou a 45% em 2023.

O país tem três subsidiárias: uma unidade fabril, uma entidade de trading e uma holding – essas últimas duas que se beneficiam benefícios fiscais que vem de acordos de comércio internacional.  A fábrica tem um retorno bem mais modesto, aponta o BTG, sem citar números.

As regiões analisadas pelo banco representam, junto com o Brasil, concentram 93% do patrimônio da WEG.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.