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Crédito

Jive reduz novas alocações – e está de olho no agro

Gestora de ativos estressados vai investir pelo menos R$ 2,8 bilhões até 2025 — metade dos R$ 6 bi alocados no ciclo de 2020 a 2023

Boa Safra: desde o IPO, as ações da empresa sobem 70% (Foto: Axial-Flow/Divulgação) (Axial-Flow/Divulgação)
Boa Safra: desde o IPO, as ações da empresa sobem 70% (Foto: Axial-Flow/Divulgação) (Axial-Flow/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

9 de fevereiro de 2024 às 08:26

Especialista em ativos estressados – na classe conhecida como special situations --, a Jive surfou a onda dos últimos anos em que o combo de pandemia e aumento de juros deixou muitas empresas endividadas e fez disparar o número de recuperações judiciais.  

Agora, com o fim do ciclo de aperto monetário, a gestora, que tem R$ 18 bilhões, vai tirar um pouco o pé da alocação.  

O plano é investir pelo menos R$ 2,8 bilhões nos próximos dois anos, menos da metade dos R$ 6 bilhões alocados de 2020 a 2023. Mesmo com as mudanças macroeconômicas, a proporção dos investimentos não será alterada. A maior parte (60%) irá para dívidas judiciais, como precatórios e litígios.  

Ao longo dos últimos dois anos, a casa entrou em diferentes negócios, como a petroleira Enauta, usando a expertise em risco jurídico. Nessa estratégia, a Jive compra créditos de credores de empresas que entram em recuperação judicial, oferecendo descontos. Em seguida, a gestora converte o crédito em ações, de olho em desalavancar o balanço da companhia.  

Enquanto a maior parte dos exits da Jive deve acontecer entre 2024 e 2025, não há um prazo definido para esses maiores, como o da própria petroleira, da qual detém 15% das ações. “Como já estou acima da meta [de valor], estamos bem tranquilos na construção do caso. A empresa vai produzir mais, com uma margem maior. Tem capacidade de ser consolidadora do mercado”, diz Mateus Tessler, sócio gestor da Jive e presidente do conselho de administração da empresa de Oil&Gas.

O foco da gestora está em encontrar novas teses promissoras daqui para frente. Um exemplo recente está na empresa de galpões logísticos Sequoia, em que a Jive entrou no ano passado e é a principal acionista, com 27% da empresa. 

A Jive pode aumentar ainda mais a participação por meio de um aporte coordenado na última semana, em que vai injetar R$ 70 milhões na companhia junto com a Newfoundland por meio de debêntures conversíveis.   

Conseguir entrar nesse tipo de risco – tipicamente a seara de advogados e não de banqueiros – é um diferencial da casa em um momento de ambiente macroeconômico mais benigno. “Gestoras que não sabem fazer isso se voltam para aquilo que é o feijão com arroz de comprar dívida, ir pro judiciário e correr o risco do processo. Como a gente tem um pouco mais de caixa de ferramentas, a gente consegue participar mais da gestão das empresas, além de montar posições táticas no mercado”, diz Tessler 

Apesar de nichado, o mercado de special situations está cada vez mais disputado. Gestoras como Jus Capital, Siguler Guff, Algarve e Prisma ajudaram a engordar esse mercado ao longo dos últimos anos. Em 2024, também seguem focadas em retornos a partir de casos jurídicos, cada uma a seu modo.  

A Algarve, por exemplo, é totalmente focada só nesse tipo de operação, olhando somente para litígios contra devedores super solventes. “Temos fundos de longo prazo e pegamos casos em uma fase ainda embrionária em relação a outras gestoras. São processos que duram até 10 anos. Formamos sociedades e, com isso, conseguimos colaborar para o processo andar”, diz Daniel Cardoso, sócio da gestora.   

“Há uma tendência de estar cada vez mais disponível aos pequenos investidores de varejo (via fundos) e não apenas aos grandes investidores”, diz. Com R$ 1,2 bilhão alocados e uma parceria fechada com a Itaú Asset, a casa deve captar outros R$ 600 milhões ainda no primeiro semestre.  

De olho no agro 

A maior competição no mercado de precatórios, na visão da Jive, traz um ambiente menos promissor para concentrar toda a alocação nesse tipo de tese. “Sou mais cético com o mercado hoje. Muita gente significa correr o risco de preços piores”, diz Tessler. Ainda que esse tipo de operação ocupe a maior parte do montante a ser investido nos próximos dois anos, outras teses já respondem por 40% da alocação da gestora. 

Em resumo, são ativos que permitem à firma operar momentos de mercado em prazos mais curtos, aproveitando oportunidades pontuais do fluxo de mercado de capitais. Além das alocações de crédito para conversão em equity, entre os segmentos que chamam a atenção da gestora hoje, estão posições no mercado de real estate (com FIIs).   

O que há de novo para os próximos dois anos é o olhar mais atento ao agronegócio."Contratamos dois agrônomos no último mês, de olho em acompanhar mais de perto o segmento", diz Tessler.  "O mercado já estava chacoalhado e, agora, o El Niño está dando uma patada no Centro-Oeste. Vai ter muita recuperação judicial nesse segmento, o que nos traz uma oportunidade pontual, de operar fluxo.". 

Um levantamento realizado pelo Globo Rural mostrou que houve um aumento de 300% no volume de recuperações judiciais de produtores agrícolas em 2023, refletindo o descasamento de preços de commodities e de preços de insumos 

“Apesar de as previsões para 2023/2024 serem mais otimistas, pelo menos no que diz respeito à redução do preço dos insumos e ao aumento da produção, o aumento do custo de produção e a queda dos preços trouxeram um grande endividamento dos produtores rurais. Isso está reverberando por toda a cadeia”, diz Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados, especializado no setor.   

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.