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Sem ‘inverno’: Vixtra capta R$ 16 milhões em nova rodada, um ano depois de captar R$ 35 mi

Enquanto startups de alto crescimento e rentabilidade distante sofrem para captar, perspectiva de retorno aos acionistas em curto prazo na Vixtra atrai fundos de investimento

 (Vixtra/Divulgação)
(Vixtra/Divulgação)
KS

Karina Souza

25 de outubro de 2022 às 20:01

A Vixtra é um dos raros casos de empresas para as quais o ‘inverno’ das startups passou longe. A empresa, que nasceu oficialmente há um ano, acabou de finalizar a segunda captação de sua história, no valor de R$ 16 milhões (a primeira, de R$ 35 milhões, foi conduzida por Alfredo de Goeye e outros sócios da Sertrading). Dessa vez, a rodada foi liderada pela Valor Capital — gestora que já fez aportes em unicórnios como Gympass e Olist — e contou com participação do Fontes II, fundo da QED Investors dedicado a investimentos na América Latina. “A gente decidiu abrir para captação principalmente para trazer fundos de primeira linha, inclusive internacionais, para apoiar a companhia na nossa jornada de longo prazo, mais até do que pelo capital”, diz Leonardo Baltieri, cofundador da Vixtra, ao EXAME IN.

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Nos últimos 12 meses, a empresa fez uma jornada e tanto. Saiu de um MVP para ter ‘dezenas de clientes’ (os sócios não abrem o número exato) e já acumula dezenas de milhões de reais movimentados. A razão para isso é simples de entender, mas um tanto complicada de executar: os fundadores enxergaram uma necessidade dentro do setor de comércio exterior que não era atendida por nenhum player até o momento. 

Com mais de uma década de experiência trabalhando no segmento, eles observaram que pequenos e médios importadores tinham uma dificuldade tremenda com o descasamento de fluxo de caixa e tempo de entregas. No passo a passo, essas empresas não conseguem pagar a prazo para fornecedores de fora do Brasil. Primeiro, porque as companhias internacionais não conseguem analisar de forma completa o histórico de crédito e, segundo, porque não conseguiriam cobrar uma eventual inadimplência com facilidade. Dentro desse cenário, o que acontece é que as empresas no Brasil pagam, à vista, por encomendas que vão chegar somente de 60 a 90 dias depois. 

“Esse é só o primeiro problema, porque quando o importador faz uma compra, não é como ‘comprar no Mercado Livre’, com alguns cliques e pronto. Comprar internacionalmente envolve executar a transação logística, obter licença, pagar imposto, pesquisar sobre fornecedores, etc. São mais de 10 empresas envolvidas, em média, em uma compra internacional. É aí que a Vixtra entra, já que somos a única plataforma onde esse importador consegue resolver todos esses problemas em um mesmo lugar”, diz Baltieri.

A empresa tem como principal linha de receita o empréstimo aos pequenos importadores — feito de forma direta — e, hoje, também faz a ponte, por meio da própria plataforma, com prestadores de serviço que os importadores podem precisar, como despachantes e agentes de carga, por exemplo. Sendo um hub único para todas essas transações, a empresa consegue reunir todos os dados envolvidos em cada etapa do processo de compra e mostrá-los aos próprios clientes, que podem avaliar os fornecedores, checar se o valor de frete aumentou ou diminuiu, entre outros. 

Focando principalmente no crédito, o pilar que sustenta a companhia financeiramente hoje, o modelo usado pela Vixtra é a chave para o sucesso da empresa. Até o momento, a inadimplência é zero. Como isso é possível? A startup analisa não só o balanço da companhia e a DRE, como um banco tradicional faria, mas também analisa o histórico de transações daquela empresa. 

“Uma coisa é dar crédito para uma empresa, por exemplo, renomada vendedora de cadeiras, que tem um histórico excelente. Mas se, de repente, ela faz uma transação para vender outro produto, será que eu quero dar crédito para ela ir a um ramo tão diferente? Normalmente, não”, diz Guilherme Rosenthal, cofundador da Vixtra. Essa espécie de ‘Serasa’ internacional é feita pela própria empresa, a partir de pelo menos 10 bases de dados, e permite ver de forma consolidada toda a relação dos clientes em potencial com os players com os quais querem se relacionar.

Além dessa análise, entra na conta o fato de que o dinheiro não vai para a conta do importador. O crédito disponibilizado aos clientes é transmitido automaticamente para os fornecedores fora do Brasil — o fechamento de câmbio é um serviço adicional e também feito pela startup. 

No fim desse processo, os produtos adquiridos funcionam como garantia. E os clientes só têm de pagar à Vixtra quando as encomendas chegam ao Brasil, resolvendo, portanto, a questão de descasamento de fluxo de caixa.

Demanda em alta

A soma de fatores (crédito e startup) que frequentemente gera desconfianças em relação ao público final, encontra um mar aberto para navegar no setor em que a Vixtra atua. Na visão dos fundadores, a necessidade de capital é tão grande que, mesmo que os pequenos e médios importadores tivessem alguma desconfiança, à primeira vista, topariam. 

“A gente está trazendo uma alternativa para um fluxo específico de comércio exterior. Por ser exclusivo, temos mais conhecimento de causa e não estamos tomando a linha de crédito desse cliente com os grandes bancos, que talvez ele prefira alocar em outros pontos da empresa dele”, diz Rosenthal.

O foco da empresa é em empresas que importem até US$ 10 milhões por ano. A razão é simples: é neles que essa dor é mais latente. Os grandes players geralmente têm a verba necessária para estruturar equipes para cumprir com essas tarefas e acesso facilitado aos grandes bancos. Nos pequenos, a cada nove solicitações às instituições financeiras, apenas um é atendido.

O mercado mirado hoje pela empresa movimenta quase US$ 100 bilhões por ano, o que funciona como um incentivo e tanto para que os fundadores não vejam a necessidade, ao menos por enquanto, de partir para outros públicos. Hoje, um terço do que é importado no Brasil vem dos pequenos e médios. 

O que muda com novo aporte

Enquanto o primeiro aporte, de R$ 35 milhões, foi usado para estruturar a empresa, os novos R$ 16 milhões encontram a Vixtra em um cenário diferente. A ideia é fazer dois usos do capital: o primeiro está na parte de tecnologia. Após a rodada, a empresa abriu mais 10 vagas voltadas à construção da plataforma, de olho em passar por pontos como a melhora  da experiência do cliente, da estrutura de dados e a busca por acelerar as automatizações de toda a plataforma. 

O segundo uso é continuar acelerando o volume financiado aos pequenos e médios importadores. Hoje, a startup já conta com um FIDC estruturado, mas que ainda demanda capital proprietário nessa fase inicial para continuar crescendo. “No longo prazo, a ideia é que ele se torne mais asset light, precise de menos capital nosso. Mas, como estamos no começo, há um caminho até chegar lá”, diz Baltieri.

Tudo feito com muita consciência, ressaltam os cofundadores. Apesar de a Vixtra ter passado longe do inverno das startups, ambos reconhecem que as prioridades em rodadas de captação mudaram. Saiu o crescimento pelo crescimento para entrar uma nova fase, de aumento estruturado das empresas. Não à toa, a proposta da startup, alinhada à perspectiva de lucratividade em curto prazo, soou como música aos ouvidos dos investidores.

Ainda assim, as metas estão longe de ser conservadoras. A empresa não divulga os números abertos de faturamento, mas afirma que até o meio do ano que vem, quer multiplicar por 20 vezes o volume transacionado, o que consequentemente vai trazer crescimento de receita e de lucratividade.

 

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