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O campo com G: falta de 5G nas fazendas é desafio para salto de produtividade no agro

Enquanto o Brasil avança na conexão de cidades com a tecnologia 5G, a agropecuária ainda carece de conexão para novos avanços

Fazenda conectada: o acesso à inteligência artificial está restrito às maiores propriedades (Leandro Fonseca/Exame)
Fazenda conectada: o acesso à inteligência artificial está restrito às maiores propriedades (Leandro Fonseca/Exame)
Lucas Amorim

Lucas Amorim

10 de abril de 2024 às 10:25

Durante uma semana no fim de fevereiro, a elite do mercado de tecnologia se reuniu em Barcelona, na Espanha, para a edição anual do Mobile World Congress, o principal evento sobre conexão móvel do planeta. Mais de 100.000 pessoas passaram pelos pavilhões para conhecer novidades e discutir desafios e oportunidades num mundo cada vez mais conectado. Entre lançamentos como o novo carro da chinesa Xiaomi, o smartphone moldável da ­LeNovo ou o anel inteligente da Samsung, uma pauta aparentemente distante ganhou espaço: a conectividade no campo. Ou, mais precisamente, a falta dela.

Uma mesa de discussões organizada pelo gigante chinês de conectividade Huawei reuniu empresários e representantes das Nações Unidas e de governos da América Latina para tratar do tamanho do desafio. Segundo Vinicius Caram, superintendente da Agência Nacional de Telecomunicações (­Anatel), o Brasil ainda tem cerca de 85% de sua área territorial sem conexão, uma proporção semelhante à de países como o México. É uma realidade que pode passar despercebida perante os dados de que 95% da população brasileira já está conectada e mais de 280 cidades do país já têm conexão 5G, num número que avança rapidamente.

Em Barcelona, empresas como a Huawei apresentaram, inclusive, a chegada da tecnologia 5.5G, que aumenta em dez vezes a velocidade de transferência de dados em relação à 5G, e que deve estar disponível para a elite do mercado empresarial e agrícola brasileiro em três anos.

Mas a maior oportunidade, e aquela que pode fazer a maior diferença no curto prazo, está em levar conexão básica para quem não tem. Dados de 2022 do Ministério da Agricultura e Pecuária mostram que 70% das propriedades rurais brasileiras não têm nenhuma conexão com a internet. “O PIB agrícola cresceu 30% na última década, graças a um uso crescente de tecnologia. Agora, precisamos de soluções para dar novos saltos de crescimento”, disse Caram.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a produtividade da agricultura brasileira cresceu 400% desde 1975, numa taxa anual que chegou a 3,2% entre 2000 e 2019, quase o dobro da média global de 1,7%. Mas um mergulho nos dados mostra que o ritmo de avanço caiu desde 2010.

Para que a produtividade volte a crescer em ritmo mais intenso, é preciso expandir a conectividade. Entre as iniciativas já em curso, segundo Caram, estão a Lei no 14.108/2020, que reduz os impostos sobre dispositivos para Internet das Coisas (IoT), aquela que conecta máquinas a computadores. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial também tem um programa destinado ao campo, o Agro 4.0, com 14 projetos-piloto de conectividade.

Em Barcelona, grandes empresas de infraestrutura dividiram as mesas de debate com os gigantes de telecom e também com as líderes em inovação, como Amazon ou Starlink. A Claro, no painel que a EXAME acompanhou, mostrou um plano de investimentos de 60 milhões de dólares para conectar 10 milhões de hectares com 450 torres nos próximos anos.

Concorrentes como a Vivo e a TIM também têm o mercado agropecuário como uma prioridade. Nas contas da Claro, o Brasil precisaria de 100.000 estações para conectar seus 180 milhões de hectares utilizados na agricultura e na pecuária. A Anatel, por sua vez, tem como meta conectar com fibra óptica 100% dos municípios brasileiros até 2027.

MWC em Barcelona: inovações e debates sobre a conectividade no campo (Divulgação/Divulgação)

A oportunidade a ser destravada com a conexão do campo é poderosa. O agronegócio responde por cerca de um quarto da economia brasileira, o equivalente a 2,6 trilhões de reais em 2023. Cada ponto percentual a mais na produtividade representará dezenas de bilhões de reais em faturamento. No caso da Claro, o projeto de expansão demanda não só investimento mas presença no campo. “É preciso conversar com os pequenos e médios produtores e mostrar as possibilidades da conexão”, disse Márcio Carvalho, diretor de marketing da Claro. “Os benefícios não envolvem apenas o possível uso de inteligência artificial e softwares de precisão. Ao conectar a fazenda, conectamos também as pessoas que trabalham na fazenda, permitindo acesso a saúde e educação. A conexão permite que as pessoas continuem no campo e se desenvolvam.”

O avanço social que a conectividade pode trazer é uma pauta das Nações Unidas. Em 2023 a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) lançou a Aliança Global para Inteligência Artificial, para compartilhar conhecimento e investir em projetos de transformação por tecnologia, sobretudo em países em desenvolvimento. Farrukh Alimdjanov, diretor da Onudi, destacou a importância de democratizar o acesso à conexão para reduzir o “gap” digital entre países. Em Barcelona, foram apresentados exemplos de países como Venezuela e Jamaica que se valeram da conexão para ampliar a produção e ganhar eficiência no campo. “A conectividade é o primeiro passo para a atualização do setor agrícola”, disse Atílio Rulli, vice-presidente de relações públicas da Huawei.

O jornalista viajou ao MWC a convite da Huawei

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Lucas Amorim

Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, começou a carreira no Diário Catarinense. Está na Exame desde 2008, onde começou como repórter de negócios. Já foi editor de negócios e coordenador do aplicativo da Exame.