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No caminho para se tornar bolsa, SMU quer ir além das startups

Pioneira no crowdfuding, empresa amplia escopo para títulos de dívida e quer se tornar plataforma de acesso para PMEs

Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 19 de setembro de 2023 às 08:08.

No ano passado, a SMU, empresa que estrutura e organiza captações via crowdfunding, deu a largada na sua ferramenta de negociação secundária. Uma plataforma muito semelhante a uma bolsa, mas que, oficialmente, é um mercado de balcão organizado — uma antessala do que é um pregão, de forma resumida. A exchange visava negociar ações de startups com receita de até R$ 40 milhões anuais, limite estabelecidos pela regulação de crowdfunding, o que resultava em um mercado potencial de R$ 20 bilhões no país. Em 2023, essa história ganha novos contornos. A partir da prorrogação do projeto no sandbox regulatório, a ‘bolsa’ da SMU passa a se chamar Estar e mira, agora, ampliar o mercado potencial em pelo menos 50 vezes, para R$ 1 trilhão. 

O aumento diz respeito a títulos de pequenas e médias empresas em geral -- não mais só às startups, ainda que sem abandoná-las. “Se a gente começa a falar de uma nota comercial, de uma debênture, de um CRI, são todos produtos que podem ser feitos no crowdfunding ou via autorregulação e podem ser listados na nossa plataforma. Como negócio, faz muito mais sentido. A ferramenta está pronta”, diz Rodrigo Carneiro, sócio fundador da SMU. Em faturamento, o público-alvo permanece o mesmo: empresas com até R$ 40 milhões anuais.

O pulo do gato da ferramenta da SMU é conseguir viabilizar captações que não seriam possíveis na B3, uma vez que tem uma estrutura com menos intermediários. A companhia assume, sozinha, o papel do escriturador, do custodiante e da central depositária, graças a algumas dispensas obtidas junto ao regulador na operação atual. “Na estrutura tradicional da bolsa, por exemplo, um CRI menor do que R$ 30 milhões não conseguia sair do papel, a conta não fechava. Agora, dentro do nosso modelo, não só conseguimos baratear como criar um novo mercado, trazendo acesso para empresas menores”, diz Carneiro. 

Com o novo posicionamento, a empresa começa a competir com a BEE4, empresa que também obteve a licença para sua exchange funcionar em 2022. É bem verdade que não se trata de uma concorrência tão direta: a BEE4 afirmou que procurava principalmente negócios que faturavam a partir de R$ 50 milhões -- mas, não custa lembrar, a permissão da CVM abrange empresas com faturamento anual a partir de R$ 10 milhões.

A Estar funciona, em linhas gerais, como uma infraestrutura de mercado. Passou por três fases: primeiro, foram listados os ativos de quem havia feito captações via SMU. Depois, já na ‘nova fase’ com a missão de ir além das startups, a companhia começou a entrar em contato com outras plataformas de crowdfunding e passou a listar ativos de quem tinha interesse em fazê-los. E, agora, parte em uma nova etapa, a de estruturar do zero os produtos listados na plataforma, em parceria com securitizadoras e bancos de investimento. O primeiro ativo desse tipo deve sair do papel em breve, mas a empresa ainda não divulga qual é a empresa que está em fase final de estruturação. 

Hoje, a ‘bolsa’ da SMU tem cinco tickers: o DRP3, de dívida da Drops Motel (uma captação feita pela Blox), o MUD1,do Grupo Muda, um token de renda fixa via nota comercial (captado pela SMU), o RDX2, token de reflorestamento comercial captado pelo Kria, RDX3, também de reflorestamento, captado pela Basement, e o SMU1, de ações da SMU Investimentos. Não há limite de ativos a serem listados (ações, dívida, etc), contudo, eles têm de pertencer a, no máximo, 10 empresas. 

Além da parte de negociação, a SMU assume, na plataforma, o papel de custódia e liquidação dos ativos também. Por exemplo: no caso da captação da Drops, trata-se de uma dívida paga em 36 meses e na qual caem juros e parcelas na conta dos investidores a cada 30 dias. Em vez de o dinheiro sair diretamente da empresa e ir para o investidor, agora é a SMU a responsável por esse processo — que, no caminho para eliminar intermediários e reduzir custos, é feito totalmente por blockchain. Todos os custos para entrar na Estar são assumidos pelo emissor. No caso de papéis de dívida, a cifra paga varia de acordo com o tempo de duração da operação. 

A Estar tem, ao todo, 20 mil usuários cadastrados hoje. “O perfil de quem está lá tem mudado. A gente conseguiu uma migração da plataforma de crowdfunding para esse mercado de acesso para PMEs. Temos atraído mais pessoas físicas e vemos mais investidores interessados em captações no primário, na esteira dessa nova opção de saída no secundário, via balcão organizado”, diz Carneiro.

Assim como acontece na B3, na bolsa da SMU a maior parte da demanda neste início do segundo semestre vem do mercado de dívida, tanto para PMEs quanto para startups. Além disso, Carneiro vê a retomada do mercado de ações, depois de dois anos difíceis para o venture capital. Trata-se de um movimento macro: de acordo com dados do Distrito, agosto foi o melhor mês do ano para a indústria, com uma captação de mais de US$ 320 milhões, dividida em 40 rodadas.

Rumo ao segundo ano com a autorização do sandbox da CVM para funcionar, a SMU já começa a traçar planos maiores de voo. A partir da autorização definitiva do regulador, a ideia é lançar de 500 a 600 tokens em dois anos na plataforma e expandindo a atuação para outros países da América Latina. O aval final deve vir antes de 2024, nas expectativas da companhia, que segue em conversas com a CVM.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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