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GetNinjas lucra pela primeira vez desde o IPO

Resultado 'no azul' veio depois de reestruturações e cortes de custos, acompanhados por aumento de receita no período

GetNinjas: despesas sob controle ajudam companhia a ter primeiro trimestre de lucro desde o IPO (Leandro Fonseca/Exame)
GetNinjas: despesas sob controle ajudam companhia a ter primeiro trimestre de lucro desde o IPO (Leandro Fonseca/Exame)
Karina Souza

Karina Souza

2 de agosto de 2023 às 19:23

A GetNinjas saiu do prejuízo pela primeira vez desde o IPO, realizado em 2021. A plataforma de contratação de serviços mostrou lucro líquido de R$ 1,5 milhão nos três meses encerrados em junho. O resultado é a cereja do bolo do processo de reestruturação que a companhia vem conduzindo desde o ano passado, de olho na inversão de prioridades do mercado entre crescimento (a 'bola da vez' até o processo de alta dos juros começar) e rentabilidade. Não é uma exclusividade do mercado brasileiro: a Uber, nos Estados Unidos, também mexeu os pauzinhos de lá para cá e, ontem, apresentou o primeiro trimestre de lucro operacional.

"Preparamos a companhia para que esteja forte independentemente de ciclos econômicos. Conquistamos a flexibilidade de nos ajustarmos. Além da busca por eficiência operacional, estamos observando uma melhora gradual dos negócios, mês a mês, e que deve ser ainda mais forte no segundo semestre", diz Eduardo L’Hotellier, CEO da GetNinjas, ao EXAME In.

Enfrentar um cenário duro parece ser a sina da GetNinjas desde a abertura de capital. A própria estreia na B3, realizada em 13 de maio de 2021, veio em meio a uma das piores semanas para se fechar uma oferta pública inicial na bolsa naquele ano. Para cumprir a tarefa, a companhia topou um desconto de quase 20% no preço, que ficou em R$ 20, e levantou R$ 550 milhões. A avaliação do mercado, na época, era de que a empresa de tecnologia valia R$ 1 bilhão.

Dois anos e três meses depois, o mundo mudou — e muito. O mau humor com ativos não geradores de caixa atingiu seu pico nesse meio tempo, afetando desde as rodadas de captação de startups fechadas, que minguaram, até à avaliação delas na bolsa. A GetNinjas não passou ilesa. Hoje, a empresa vale R$ 180 milhões na B3.

Para dar conta de um novo ambiente de mercado e das novas exigências de investidores, a empresa fez a lição de casa. Cortes de custos e despesas foram realizados com força total desde o ano passado, de olho em tirar a companhia do vermelho. Nos três meses encerrados em junho, inclusive, essa estratégia ainda teve um ponto importante colocado em prática: o corte de 38% dos colaboradores, fechando o trimestre com 148 funcionários.

“Agora, chegamos em um patamar ideal de tamanho da empresa, capaz de suportar nosso crescimento. Tivemos ajustes em todas as áreas. Mas não temos planejamento de cortes adicionais. Inclusive, a partir do momento que a empresa começar a entregar resultados e expandir, é esperado que volte a contratar, claro, num ritmo mais lento”, diz L'Hotellier.

Um rápido olhar pelo balanço ajuda a entender o impacto da decisão — e de todas as anteriores tomadas de olho em economizar dinheiro.  Todas as linhas de gastos, ou seja, custos e despesas, tiveram uma redução de dois dígitos altos (acima de 20%) ante o segundo trimestre do ano anterior.

Mesmo gastando menos em áreas importantes para a empresa — a verba de marketing foi reduzida em 20%, para R$ 7,9 milhões — a GetNinjas conseguiu vender mais no trimestre, ante a comparação anual. A receita líquida avançou 19%, para R$ 15,8 milhões. Em relação aos primeiros três meses do ano, a cifra se mantém estável.

O aumento do faturamento veio mesmo com uma quantidade de pedidos menor. Nos três meses encerrados em junho, a GetNinjas recebeu 1 milhão de solicitações de clientes, uma redução de 13% em relação ao mesmo período do ano passado. A 'mágica' de fazer mais dinheiro com menos pedidos tem a ver com uma melhora no match entre quem procura um serviço e quem está disposto a oferecê-lo na plataforma.

"Tivemos um aumento de receita por pedido no período, que veio a partir da análise detalhada dos melhores serviços prestados por cada profissional e em uma seleção mais assertiva para os clientes que procuram a plataforma. Estamos em mais de 500 categorias em diferentes cidades no país", diz o CEO. A taxa de recorrência reforça o argumento. Melhorou na comparação anual, passando de 55% para 57% dos clientes. Nos três meses encerrados em junho, 80% dos prestadores de serviço já tinham feito algum serviço antes. 

A combinação de receita maior e custo menor resultou em um lucro bruto 25% maior do que o do mesmo período do ano passado, de R$ 14,7 milhões. O Ebitda permanece negativo, mas com um gasto 64% menor do que o registrado na comparação anual, de R$ 6 milhões. A GetNinjas fechou junho com R$ 270 milhões em caixa, uma redução de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.

Questionado a respeito de quando a empresa deve começar a gerar caixa, L'Hotellier afirma que essa deve ser uma tarefa cumprida no curto prazo. Isso porque a queima de caixa dos três meses encerrados em junho tem a ver principalmente com o custo de rescisões das demissões feitas ao longo do trimestre — e o executivo tem a expectativa de que a companhia continue crescendo em um ritmo similar ao longo do ano.

Em dia de definição da Selic, L'Hotellier lembra que uma taxa menor deve ajudar a impulsionar os negócios no segundo semestre. Além do efeito imediato de reduzir o serviço da dívida, hoje estável em uma despesa de R$ 8,3 milhões, juros menores também impulsionam o consumidor da GetNinjas a comprar mais, na visão do CEO.

Independentemente do tamanho do impulso que o consumo vá ter neste segundo semestre, a mensagem da companhia é clara: construir um negócio resiliente aos ciclos econômicos.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.