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Eleições: 10 maiores empresas da B3 ganharam R$ 71 bi em valor de mercado

Disputa ‘previsível’ impulsionou companhias e firmou Petrobras como a campeã do Ibovespa

Bolsa: euforia com eleições faz 10 maiores empresas crescerem no período (Germano Lüders/Exame)
Bolsa: euforia com eleições faz 10 maiores empresas crescerem no período (Germano Lüders/Exame)
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Karina Souza

28 de outubro de 2022 às 18:22

A três dias do segundo turno, já é consenso no mercado — faz tempo — que as eleições de 2022 foram as que trouxeram a menor volatilidade para os ativos da bolsa. Mas há um dado ainda mais curioso nisso tudo: no período eleitoral, as maiores empresas da bolsa ganharam valor de mercado, enquanto, no mesmo período de 2021, perderam market cap no mesmo período. Dados compilados pelo EXAME IN mostram que, de 16 de agosto (data do início oficial da campanha eleitoral) até o fechamento desta quinta-feira (27), o grupo das 10 maiores companhias da B3 ganhou R$ 71,1 bilhões em valor de mercado.

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O destaque positivo, individualmente, fica com a Petrobras. Para ser justa, desde antes do início da disputa eleitoral (em abril) a empresa já havia ultrapassado a Vale como a empresa mais valiosa da B3, um lugar que permaneceu fincado no topo ao longo do período eleitoral. De 16 de agosto a 27 de setembro, a empresa, sozinha, ganhou R$ 18,2 bilhões em valor de mercado. Hoje, vale R$ 451 bilhões na bolsa.

Os ganhos, não só da estatal, são o resultado de uma conjuntura de múltiplos fatores. Três deles merecem atenção: a entrada e saída da crise da inflação e juros altos no Brasil antes do resto do mundo e o fato de a bolsa local ter ativos interessantes a preços atrativos num cenário de incerteza global e a bolsa brasileira ser ‘velha’. 

Aprofundando a visão sobre o fator macroeconômico, dá para ver os principais resultados das decisões do Banco Central ao longo do tempo no país: o IPCA caiu 0,29% em setembro, segundo dados do IBGE, marcando a terceira deflação seguida e uma taxa acumulada de 7,17%. Dentro desse cenário, o Copom já deu os primeiros sinais de uma taxa de juros mais estável ao longo dos próximos meses. Na reunião desta semana, a taxa Selic foi mantida em 13,75% pela segunda vez, o que ajuda a indicar que o pior já pode ter ficado para trás. 

O patamar atual da Selic anima investidores, cada qual à sua maneira. Enquanto o estrangeiro vê o apetite maior para risco, reforçando as apostas na B3, o local ainda corre para apostas mais seguras (renda fixa). Em números, o saldo acumulado do investimento estrangeiro no país é de R$ 10,3 bilhões, enquanto o do investidor individual e do institucional ainda acumulam saques — de R$ 4,2 bilhões e de R$ 11 bilhões, respectivamente. 

Entre os fatores que animam o gringo a fincar os pés por aqui, a alta taxa em potencial de retorno é um chamariz e tanto, claro, mas longe de ser o único. Aqui entra o fato de a bolsa brasileira ter ativos atrativos a preços razoáveis (em relação principalmente aos múltiplos da Índia) e a característica de ser uma bolsa ‘velha’. Explicando melhor: enquanto o mundo sofre com incertezas e com os rumos da economia global, um cenário que prejudica empresas cuja rentabilidade está mais distante, as 10 maiores empresas da B3, para ficar na mesma análise, são líderes setoriais — de segmentos muito bem estabelecidos, como commodities e bancos. Junte isso com o fato de terem baixo endividamento, resultados consistentes e está aí a receita perfeita para o pedido dos investidores neste momento. 

Novamente, números para quem é de números e que ajudam a comprovar a atratividade do país. No período eleitoral, de 16 de agosto para cá, o Ibovespa acumulou alta de 1,42% e, as 10 maiores empresas da B3, de 3,77% no período. Enquanto isso, índices como o Nyse composite e o Nasdaq composite tombaram. Respectivamente, 8,05% e 17,79%.

Futuro

Ainda está difícil ver se a tendência positiva para as maiores empresas da B3 deve continuar após a decisão deste domingo, segundo fontes consultadas pelo EXAME IN. Cada cenário guarda suas particularidades e, claro, as preocupações por parte dos investidores. Uma pesquisa da Warren Investimentos junto com a Renascença tentou traçar o que o mercado espera a partir das eleições, a partir de uma entrevista com 120 profissionais do mercado financeiro (entre gestores, estrategistas e economistas). 

O que se vê, de modo geral, é um mercado muito dividido no quesito ‘bola de cristal’ para tentar adivinhar quem será o próximo presidente do país. Em uma nação ainda muito dividida, é um retrato fiel das expectativas para domingo. Na definição da presidência, 38,3% dos entrevistados atribuem probabilidade de Bolsonaro ganhar e 33,3% veem a chance de eleição de Lula. 

No caso eventual de Bolsonaro se reeleger, a expectativa do mercado (45% dos respondentes) é de que a bolsa feche o ano em patamares mais altos, entre 120 mil e 130 mil pontos. A perspectiva otimista está ligada à tese, já ventilada por membros do governo, de uma eventual privatização da Petrobras num mandato futuro. Vale lembrar, entretanto, que não se trata de uma tarefa simples, uma vez que há leis que precisam ser mudadas para que isso aconteça — um movimento difícil de ser conduzido ao longo de apenas quatro anos. 

Do lado negativo, o principal temor dos investidores está ligado a uma ruptura institucional. Não é sem razão. Na semana em que Roberto Jefferson atirou em policiais após resistir à prisão, a bolsa tombou consecutivamente desde segunda-feira. A título de curiosidade: a perda de valor das 10 maiores empresas da B3 — em uma análise desde o início oficial das campanhas — teve seu pior momento nesta semana. Foram R$ 117,1 bilhões a menos em valor de mercado para o grupo analisado. 

No eventual caso de Lula vencer a disputa, 44,2% dos respondentes da pesquisa esperam que a bolsa feche o ano entre 110 mil e 120 mil pontos. A preocupação, aqui, nesse cenário, é de um governo que traga inflação e juros mais altos — o que poderia diminuir os ganhos para os ativos de renda variável — sem falar na definição da equipe econômica, ainda não divulgada pelo presidente e que “tem expectativas que vão de Haddad a Meirelles”, como afirma uma fonte.

Por enquanto, o que fica é o desejo de uma bola de cristal capaz de mostrar o que a decisão de domingo vai representar para o futuro do país. Investidores aguardam ansiosos para ver o que futuro deve mostrar para o Brasil dos próximos quatro anos. 

 

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