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Sustentabilidade

Depois do social, Vox Capital vai partir para investimento de impacto ambiental

Gestora brasileira ganha projeção e foi colocada no holofote em relatório da GIIN, rede internacional que acompanhia investimento de impacto

Mudanças climáticas: Vox Capital entende que população carente também é quem mais sofre com problemas ambientais (Thinkstock/Thinkstock)
Mudanças climáticas: Vox Capital entende que população carente também é quem mais sofre com problemas ambientais (Thinkstock/Thinkstock)
GV

Graziella Valenti

15 de janeiro de 2021 às 10:21

A Vox Capital quer levar sua experiência em investimento de impacto agora para a temática ambiental. Por enquanto, a gestora, uma das precursoras do modelo na região da América Latina, ainda está na fase de desenvolvimento da estratégia. Mas o avanço nessa frente está no planejamento da casa para 2021.

“Estamos nos aproximando do assunto reconhecendo que muitas das questões e dos desafios ambientais afetam também a base da pirâmide”, explica Jéssica Silva Rios, sócia da Vox Capital, responsável por gestão e também pelas medidas de impacto. A Vox até hoje se dedicou à temática social.

“Muitos fatores ambientais afetam a dimensão social, como a questão da energia, do saneamento e das mudanças climáticas. A população mais vulnerável socialmente está mais exposta também nisso.” Dessa forma, a gestora continua fortemente ligada ao seu DNA social. Contudo, ainda não há detalhes. O desenvolvimento da estratégia e o entendimento onde é possível produzir impacto é o embrião de todas as ações.

No total, a gestora tem aos seus cuidados 213 milhões de reais e já realizou 31 investimentos, que atendem a cerca de 30 milhões de pessoas. O foco principal são negócios que melhoram o acesso a serviços básicos para redução de desigualdades sociais, especialmente ligados a acesso financeiro, educação e saúde. Entre as investidas, duas em especial tiveram muito destaque durante a pandemia, a Sanar, uma plataforma de educação em medicina, e a Magnamed, que fabrica respiradores.

Jéssica conta que, em média, o faturamento das companhias investidas teve uma expansão de 130% em 2020, até agosto, na comparação com igual período do ano passado. O primeiro fundo da casa, de 2012, tem um capital investido de 84 milhões de reais, aplicados em 15 companhias. Já o segundo tem 50 milhões de reais e dedicou os recursos a cinco companhias — o último investimento foi realizado neste mês, na WeCancer, uma plataforma digital que permite aos médicos o acompanhamento de pacientes oncológicos depois que eles saem do hospital.

A taxa interna de retorno do segundo fundo, medida conforme as recentes novas rodadas de captação das investidas, está projetada em 52,3% neste momento. O desempenho coloca o Vox Impact Investing II como uma das carteiras de venture capital no grupo dos 25% com melhor retorno, de acordo com o Pitchbook, que avalia com o mesmo critério fundos de todo o mundo nessa categoria de capital de risco (no total geral, e não apenas os de impacto).

Para quem acha investimento de impacto muita novidade, ledo engano. O investimento com abordagem de impacto já somava 715 bilhões de dólares ao fim de 2019. Mais chamativo ainda: a taxa média anual de crescimento foi de 80% desde 2014, conforme levantamento mais recente feito pela GIIN.

A gestora brasileira tem conquistado cada vez mais projeção. A casa foi uma das escolhidas pela GIIN, Global Impact Investing Network, entre cinco gestoras globais que a rede decidiu colocar no spotlight, em relatório publicado nesta quinta-feira, dia 14, que trata sobre o desempenho financeiro dessa modalidade de investimento.

Para quem não conhece, a GIIN é quem dá as principais linhas mestras sobre essa indústria — por exemplo, é a autora da definição do que são fundos de impacto — e é também quem procura sempre criar parâmetros de mensuração.

“É interessante notar que a GIIN deixa claro que investimento de impacto não é categoria de fundo, é estratégia. E dentro dessa estratégia há três categorias de investimento: fundos de participações, fundos de crédito e ativos reais”, comenta a sócia da Vox.  Mesmo já concentrando grande quantidade de capital, ainda há, segundo o levantamento, muita dificuldade na coleta de dados das gestoras que atuam dessa forma.

Mais de 60% dos fundos divulgam os investimentos de impacto realizados, mas só 28% oferecem informações sobre retornos obtidos. Esse quadro dificulta os investidores, de todos os mercados, de terem uma visibilidade maior desse segmento e ainda gera desafios de benchmark.

A ideia de colocar o holofote em algumas casas foi para mostrar como cada uma pensa e organiza investimento. A pesquisa da GIIN aponta que 70% dos investidores de impacto relatam que as aplicações são financeiramente mais atraentes em relação a outras oportunidades e destacam isso como parte da decisão de fazer investimentos dessa forma. Isso ajuda a acabar com o mito de que investimento de impacto não dá retorno ou que gestores com essa estratégia não prezam — ou, pelo menos, não tanto — por rentabilidade. No caso da Vox Capital, por exemplo, impacto e perspectiva de rentabilidade têm o mesmo peso na decisão de alocação de capital.

Quase nove a cada dez participantes da pesquisa destacaram que suas carteiras atendem ou até excedem suas expectativas de retorno. Além da Vox Capital, única das casas presente no relatório da região da América Latina, a GIIN jogou luz sobre a forma de atuar da Anthos Fund & Asset Management, IDP Foundation (única entidade do grupo selecionado sem fins lucrativos),  Incofin Investment Management e ainda UBS Global Wealth Management e UBS Optimus. O relatório também agregou cinco estudos diversos sobre essa temática e fez comentários sobre suas conclusões.

Dean Hand, líder de pesquisas da GIIN, aponta, na apresentação do conteúdo, que o relatório acaba sendo uma provocação que destaca as lacunas nos benchmarks de desempenho financeiro que podem ser solucionadas. O estudo mostra que, na ausência de um histórico robusto detalhado, os fundos de impacto acabam sendo comparados aos ESG, que incluem os fatores ambientais, sociais e de governança em suas abordagens de investimento. Para ele, se trata de uma oportunidade para os provedores de dados da indústria de investimento: incorporar fundos de impacto e, dessa forma, atender à demanda e oferecer aos investidores dados mais abrangentes. "Estamos confiantes de que, à medida que o mercado amadurece, os pesquisadores continuarão a sondar a interseção entre impacto e desempenho financeiro, e os investidores divulgarão mais de seu impacto e dados de desempenho financeiro."

 

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