De patinho feio a cisne: como um choque de gestão levou a Unipar a um lucro de R$ 540 mi no 2tri
Após melhorias, companhia prepara expansão de capacidade com investimentos e pensa em aquisições
Publicado em 15 de agosto de 2022 às 09:13.
Última atualização em 15 de agosto de 2022 às 17:12.
A Unipar (UNIP3/UNIP6), produtora de cloro-soda e PVC, teve um segundo trimestre de 2022 que é um pouco diferente das demais companhias listadas na B3. Os números obtidos pela empresa não cabem no intervalo de abril a junho. Eles são, na verdade, reflexo de um esforço que vem de alguns anos, especialmente desde a aquisição da Indupa, e que agora se materializa, trimestre a trimestre, ano a ano, desde 2018. Uma combinação de esforços permitiu à empresa ter um lucro líquido de quase R$ 540 milhões entre abril e junho, um aumento de 118% na comparação anual.
A receita líquida consolidada desse intervalo alcançou R$ 2 bilhões, uma expansão de 57% na comparação com o mesmo período de 2021 e de 6% ante os três primeiros meses do ano. Esse aumento indica que a companhia fez um trabalho, nos últimos anos, de melhoria de produtividade, o que permitiu aproveitar o bom momento de preços no setor desde o início da pandemia e flexibilidade para alternar mercados, entre seus produtos.
Maurício Russomanno, CEO da Unipar, conta em entrevista ao EXAME IN que quando chegou à empresa, o índice de produtividade (uso da capacidade instalada) estava em cerca de 70% e agora o indicador está normalizado em torno de 88%. Essa evolução obtida ao longo do tempo fez a receita seguir em alta, mesmo com uma redução nos preços do PVC, na comparação com o pico do quarto trimestre, auxiliada também pela continuidade de um mercado atrativo na soda. O preço desse produto acumula alta de 236% no comparativo com o começo de 2021.
Além de expandir receita, a Unipar vem ampliando margens. O lucro bruto teve alta de 104% e, junto o controle das despesas, fez o Ebitda subir praticamente na mesma proporção (102%) e somar R$ 861 milhões — sempre frente ao segundo trimestre do ano passado.
O ganho de rentabilidade reflete os diversos trabalhos desenvolvidos na companhia desde que Russomanno chegou ao negócio. “Aumentamos a produção de ácido clorídrico em 40% sem investir em novos fornos, só melhorando desempenho e reduzindo tempo de manutenção”, conta ele. Antes de assumir a posição de CEO, ficou à frente das operações e só cerca de um ano e meio depois fez a sucessão do então presidente Aníbal do Vale.
Ao chegar ao negócio, ele encontrou uma empresa que fazia entre 8 e 10 paradas de manutenção por ano, deixando os fornos paralisados quase uma semana a cada uma delas. Agora, são duas a três paradas anuais — e as manutenções deixaram de ser de remediação, para serem preventivas — que duram dois dias. “Nossos coeficientes melhoraram bastante e nosso custo variável acabou caindo”, completa. O segredo foi adotar a mesma lógica de um 'pit stop' da Fórmula 1: um trabalho sequenciado e planejado de equipes.
Essa organização fez toda a diferença não apenas para elevar a produção. “São diversos efeitos colaterais positivos. Não tem mais perdas, quando temos que acelerar fábrica, após a parada. Além disso, há muita economia de energia”, explica Russomanno. E esses cuidados terminam por evitar outras manutenções, pois a arrancada dos fornos também custava estresse de equipamentos. Outra consequência dessas conquistas, foi a melhora do custo logístico.
Todas essas medidas somadas levaram a unidade da Argentina a alcançar o seu melhor índice de uso de capacidade entre abril e junho, de 85%. Especialmente nessa operação, adquirida do grupo belga Solvay, havia muito trabalho a ser desenvolvido de ganhos de eficiência. A companhia passou anos à venda, o que deteriorou os indicadores. Já a planta de Cubatão roda em estado da arte, variando entre 91% e 92%. O mesmo vale para Santo André, no ABC paulista. A diferença para 100% deve-se justamente às paradas, que são necessárias, mas hoje consomem menos recursos e reduzem muito menos a produção.
Porém, não foi apenas a frente industrial que ganhou atenção. A área comercial também foi toda reforçada, com aumento e maior pulverização da presença da Unipar. Essa movimentação permitiu à companhia realocar produção e vender mais soda no segundo trimestre, com aumento das exportações e participação em mais mercados. Isso ajudou a compensar a piora no cenário para PVC, com menor atividade do setor de construção, segundo Russomanno.
Todo o cuidado operacional, com as fábricas mais organizadas e até mesmo mais bonitas, de acordo com o executivo, também melhoraram o engajamento dos funcionários. “Parece clichê, mas a questão de pessoas é essencial”, destaca. Houve avanços na parte de segurança e a Unipar está a um mês e meio de completar um ano sem acidentes. Além disso, como toda a frente de cloro-soda era essencial para higiene durante a pandemia, houve uma união dos funcionários em torno de manter o negócio.
Futuro
O lucro líquido da Unipar no segundo trimestre tem outro componente importante: o perfil financeiro. Acumulando caixa com a melhoria da operação e com dívida líquida negativa, a companhia saiu de despesa financeira líquida de R$ 68 milhões para uma receita de R$ 30 milhões.
A empresa fechou junho com caixa líquido (mais dinheiro aplicado do que dívida) de R$ 668 milhões, quase 350% a mais do que o saldo apresentado no fechamento de 2021. O total em caixa nessa comparação saiu de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,1 bilhões.
Essa evolução dos números faz agora a companhia se preparar para o futuro. O marco do saneamento trará impacto importante ao negócio já que, no curto prazo, há aumento na demanda de cloro-soda, usada no tratamento da água, e, mais no longo prazo, também deve haver efeitos positivos no PVC. A estratégia para isso é ampliar investimentos, para manter o crescimento, por aumento de capacidade orgânica, com a instalação de mais um forno em Santo André e o anúncio de investimento em Camaçari (BA), para instalação de uma nova fábrica, onde a Unipar ainda não tem presença.
Mesmo assim, com projetos de expansão, os avanços permitiram melhorias na remuneração aos acionistas. No ano passado, a Unipar pagou R$ 1,4 bilhão em dividendos. Nesse ano, já anunciou um total acumulado de R$ 875 milhões, sendo R$ 500 milhões junto com o balanço do segundo trimestre.
Antes de comprar a Indupa, a Unipar era uma companhia praticamente esquecida na B3, com valor de mercado de algumas centenas de milhões. Hoje, a empresa vale quase R$ 10 bilhões na bolsa. E, além de investimentos, também tem planos maiores de aquisições: é uma das interessadas nos ativos da Braskem (BRKM5), controlada pela Novonor e Petrobras.
Governança
Para seguir conquistando cada vez mais relevância junto a investidores, a companhia também fez movimentos importantes de governança. Recentemente, o controlador, Frank Geyer, anunciou sua sucessão no conselho de administração. Com isso, não tem mais nenhuma posição como administrador da Unipar. Bruno Uchino, que está no conselho de administração desde 2017, assumiu a posição de chairman. Antes desse movimento, o empresário aos poucos consolidou sua posição no controle, organizando as participações societárias: tem 88% da holding Vila Velha, que detém 50,001% das ações ordinárias da Unipar e 17,5% das preferenciais. As medidas, combinadas, são consideradas relevantes pelo mercado.
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