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Carnes e derivados

Urban Farmcy, de ex-The Body Shop, leva novo burguer de planta ao varejo

Tobias Chanan estreia hoje com produtos plant-based no varejo e plano é alcançar 3 mil pontos de venda em 24 meses

Tobias Chanan, do Urban Farmacy, realiza seu sonho com burguer plant-based que estreia no varejo (Studiofx/Divulgação)
Tobias Chanan, do Urban Farmacy, realiza seu sonho com burguer plant-based que estreia no varejo (Studiofx/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

27 de outubro de 2020 às 16:55

Os produtos plant-based, ou seja, feitos de vegetais e totalmente sem carne, prometem ser para o setor de alimentos o que as cervejas e queijos artesanais, mais os cafés especiais, se tornaram em seus respectivos mercados. Todas as estimativas para esse negócio são de tirar o fôlego, capazes de fazer muitos se questionarem se dinheiro não dá mesmo em árvore.

Quem vai chegar agora — exatamente nesta terça-feira, 27 — para disputar espaço no varejo com seus produtos plant-based é a Urban Farmcy. É a realização de um sonho planejado e cultivado pelo fundador Tobias Chanan, o homem por trás da entrada da The Body Shop no Brasil, em 2013 (antes que fosse vendida pela L’Oréal à Natura &Co). Neste mês, o burguer da casa que ganhou fama como um restaurante de Porto Alegre, chegará aos supermercados, inclusive paulistas.

Inaugurada em 2017, a Urban Farmcy apenas começou na forma de restaurante — o que o empresário define como um grande laboratório de testes. Mas o plano sempre foi produzir para o varejo. Chanan contou ao EXAME IN que o portfólio de lançamentos programados já tem dez produtos, que incluem maionese, catchup, “nuggets”, bolinho de “carne de carangueijo”, almôndegas, entre outros. Até dezembro, eles também estarão nas gôndolas dos supermercados.

No restaurante, o empresário aplica o conceito de releituras dos pratos amados pelos brasileiros. Tem kibe, escondidinho, lasanha, salsicha para cachorro-quente, sashimi de “atum”, bolinho de “carne de carangueijo” e até sundae. Não por acaso, o bordão da marca é: “Transformamos plantas na comida que você ama”. Segundo ele, a ideia é usar e abusar da “memória afetiva” para melhorar a alimentação das pessoas e a saúde também do planeta. Ele defende que é urgente a redução do consumo de carne e o aumento da variedade de alimentos naturais consumidos. Portanto, não se trata de um projeto pensado para veganos. Mas sim, algo mais abrangente: para que todos possam ter alternativas para diminuir a ingestão de proteína animal, de forma saborosa.

De acordo com relatórios produzidos pelo Banco Mundial no ano passado, o mercado de alimentos no mundo deve alcançar 8,1 trilhões de dólares em 2020, após uma expansão média anual de 8% nos últimos quatro anos. Já o mercado plant-based deve passar dos atuais 42,5 bilhões de dólares para 238 bilhões de dólares ao ano em 2030 — ou seja, vai ser multiplicado por 6 em uma década.

Só que Chanan quer bem mais do que um simples quinhão desse mercado. Ele quer rechear o seu sanduíche com um projeto de vida. Por isso, explica que a Urban Farmcy é mais do que uma ‘food tech’ — o jeito de deixar o negócio apetitoso também para investidores. Quer que a Urban seja reconhecida como uma ‘craft food tech’. Traduzindo: algo como uma cozinha científica e tecnológica, mas com tudo de artesanal da comida feita em casa. Nada de aditivos alimentares, aqueles nomes que você nunca sabe o que são na lista de ingredientes, ou ultraprocessados.

A batalha do fundador da Urban Farmcy é mostrar que nem tudo que é plant-based é saudável e que está cheio de ultraprocessados sem proteína animal no mercado. “A maioria dos fabricantes usa as mesmas técnicas da velha indústria para conseguir sabor, textura e durabilidade.”

A fixação por combinar um projeto de impacto sustentável por meio da alimentação com saúde veio depois de uma temporada fora do Brasil. “Estou determinado a salvar as pessoas do fake based”, diz em tom de brincadeira muito séria. “ELas não perceberam que podem salvar o planeta às custas de sua saúde.” Para quem quiser ouvir, ele tem uma comparação detalhada dos produtos da Urban Farmcy com os seus rivais, inclusive os mais famosos.

Procura-se um sócio

A Urban Farmcy tem hoje sua própria fábrica, mas Chanan sabe que vai precisar expandir para alcançar o tamanho pretendido. Assim, começou a busca por um sócio. Entende que a empresa vale hoje pelo menos 50 milhões de reais, para essa primeira rodada de aportes. O plano para o negócio é levar os produtos a 3.000 pontos de venda dentro de 24 meses, acumulando até lá 3 milhões de unidades vendidas. A meta é ganhar escala em ritmo exponencial: ao fim de cinco anos, o total de produtos vendidos deve estar em 55 milhões de unidades.

Até agora, ele foi o principal investidor da Urban Farmcy — que tem um time de 50 pessoas, incluindo a equipe do restaurante — e já colocou no negócio, altamente exigente em pesquisa e desenvolvimento, cerca de 10 milhões de reais. Uma vez com os produtos definidos e prontos, quer ganhar o Brasil.

O objetivo é conquistar o consumidor para conseguir causar mais impacto na saúde da sociedade, na sustentabilidade do planeta (pela redução do consumo de carne) e ainda social, com preferência por produtores locais. Desde quando abriu o restaurante, Chanan tem obsessão por medir o impacto que causa. Em seus três anos de existência, o Urban Farmcy acumula 190 toneladas de alimentos locais consumidos, 1,9 milhão de reais em renda gerada para produtores de orgânicos e a compostagem de mais de 53 toneladas de resíduos — e há mais tantos outros dados coletados.

Virando a própria mesa

Depois de deixar a posição de presidente da The Body Shop no Brasil, em 2014, Chanan caiu na estrada para estudos gastronômicos. Passou por diversos países da Europa e terminou o tour-pesquisa em um curso plant-based na Califórnia (EUA). Ali, foi fisgado. Chegou, planejou e abriu o Urban Farmcy.

Antes de poder realizar seu sonho, que já consumiu bem mais do que a cota inicial que planejava investir, Chanan passou nada menos do que 10 anos na indústria de higiene e beleza. Em 1997, criou o que seria o embrião da The Body Store, mais tarde adquirida pela The Body Shop.

Com alguma timidez, o empresário admite que gostava mesmo era de trabalhar, como seus pais. A vida acadêmica não era para ele. Assim, aos 17 anos, ao ver a confecção da família em maus lencóis — o setor ficou em frangalhos com a abertura econômica promovida pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello —, entrou com sua criatividade e disposição.

Radicalizou e transformou uma das lojas em um negócio de cosméticos capilares. Contratou uma especialista que analisava o fio de cabelo dos clientes na hora e indicava os melhores produtos. Conquistou o direito de revender marcas internacionais que só estavam presentes nos salões. Chamou atenção, cresceu e estava tudo indo bem. Mas, pouco depois de começar essa jornada, descobriu que gostava mesmo era de cozinhar.

“Então, eu literalmente comecei a cozinhar sabonetes”, lembra ele, como se fosse uma aventura. Colocava na panela tudo selecionado: glicerina vegetal, leite de cabra, manteiga de karité, morangos. Eram todos ingredientes da cozinha. “Daí, montei uma banca na loja e colocava as barras lá. As pessoas olhavam e se horrorizavam. Cada barra custava 16 reais quando o sabonete mais caro do mercado, o Dove, saía por 80 centavos. Lembro direitinho. Era muito difícil explicar o valor que aquilo embutia.”

Então, mais uma medida de governo fez tudo ir pelo ralo mais uma vez. Ou quase tudo. Com a maxidesvalorização cambial do fim de 1999 e início dos anos 2.000, os produtos para cabelo simplesmente não eram mais viáveis comercialmente. Chanan cita os preços de cor, como se tivesse tudo acontecido ontem. O jeito foi fechar as lojas que conquistou, manter a principal e nela dar foco total aos sabonetes. O sucesso parecia impossível até que se espalhou a fama de que os produtos eram internacionalmente famosos. “Mudou tudo de um dia para o outro. Não neguei, assumo.”

Dali para frente, ele dava vazão ao seu sonho gastronômico cozinhando cosméticos. Nascia, então, a The Body Store. O sucesso foi tanto com modelos de franquias que quando quis entrar no Brasil, a The Body Shop comprou a rede. Coincidentemente tratava-se do negócio criado pela inglesa Anita Roddick, uma espécie de musa inspiradora para Chanan. “Eu nem acreditava. Andava com o livro dela debaixo do braço.” Mas, após a transação, antes mesmo de concluir o prazo que poderia seguir à frente do negócio, Chanan escolheu deixar o esquema de trabalho das multinacionais e voltar para o fogão, mas dessa vez para finalmente fazer comida e alimentar seu sonho.

 

 

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