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Unico vai autenticar compras on-line com biometria - e planeja dobrar receita com novo serviço

Unicórnio mira mercado de R$ 700 bilhões com novidade, inédita no mercado brasileiro

Unico: startup aposta em serviço inédito para o varejo (Getty Images/Getty Images)
Unico: startup aposta em serviço inédito para o varejo (Getty Images/Getty Images)
Karina Souza

Karina Souza

31 de maio de 2023 às 10:00

A Unico (ex-Acesso Digital), startup de biometria facial, vai começar a autenticar compras on-line com biometria. O novo recurso, chamado Unico ID Pay, é inédito no mercado brasileiro e foi oficialmente lançado nesta quinta-feira (31), depois de três anos de estudos e de investimentos de cerca de R$ 300 milhões. A ferramenta já nasce com grandes ambições: dobrar a receita da startup em um ano. 

O raciocínio para isso se baseia no fato de que a solução tem um mercado bilionário -- quase trilionário -- a ser explorado. Nas contas da Unico, baseada em dados da Associação Brasileira de Cartões, foram movimentados R$ 700 bilhões em transações on-line no ano passado, com perdas de R$ 120 bilhões. Agora, a ideia é reduzir esse montante de transações ruins, de largada, trazendo bilhões para o lado positivo da conta.

"No Brasil, temos um índice de 15% a 20% de compras digitais negadas. Dessas reprovações, 82% são transações legítimas", afirma Diego Torres Martins, CEO e co-fundador da Unico, em entrevista ao EXAME IN. O índice brasileiro, aponta o executivo, ainda é significativamente inferior do que o de pares na América Latina, como o México, por exemplo, que tem uma taxa de 50% de rejeição de transações digitais.

A negativa de transações, no Brasil, é influenciada principalmente por dois fatores, segundo a Unico. O primeiro tem a ver com quem arca com o prejuízo em caso de fraude: ao contrário de transações presenciais, em que esse prejuízo fica com o banco, no ambiente digital, é o vendedor quem tem de arcar com transações fraudulentas -- o que, por si só, já faz com que eles tenham um nível alto de conservadorismo com a aprovação dessas compras.

Ao mesmo tempo, o processo de autenticação, como se tornou popular até hoje, passava por um cruzamento de dados que envolvia região, endereço, dispositivo e hábito de compra, entre outros. O que, apesar de se tornar eficiente para ter mais redundâncias capazes de evitar fraudes, também acaba barrando transações legítimas, por exemplo, quando o usuário muda de localização.

Tendo em vista a criatividade do brasileiro para a fraude, fato é que as empresas brasileiras que atuam nesse setor -- por exemplo, a ClearSale -- se tornaram altamente especializadas em criar modelos capazes de coibir qualquer transações não autênticas. Inclusive, empresas brasileiras desse setor, de modo geral, são frequentemente convidadas para eventos no exterior para apresentarem os modelos desenvolvidos, tamanha a especialização que o mercado local exige. Por isso, a ideia da Unico não é substitui-las, mas trazer uma camada adicional de verificação ao que já existe hoje no mercado. Torná-lo mais eficiente.

Hoje, para compras on-line, o processo tradicional de verificação de compras pode trazer três resultados, resumidamente: aprovação automática, análise em uma mesa de operadores ou reprovação automática. "Temos clientes nas três etapas. A maior parte começa na reprovação automática, encaminhando o que iria ali para uma etapa adicional de verificação, com biometria. Depois disso, as empresas estendem essa etapa para as compras que iriam para a mesa, reduzindo as transações que precisam ser analisadas por um operador. De qualquer forma, elas ganham", diz Martins.

A referência aos clientes, mesmo com a ferramenta sendo recém-lançada, não vem à toa. Na ponta final dos testes antes da abertura ao mercado, a Unico trabalhou com bancos digitais como C6 e Neon, bem como com outros 12 e-commerces (nomes não divulgados, mas com GMV na casa dos bilhões) para colocar a Unico ID Tech à prova. O resultado: nenhuma transação aprovada pela companhia com biometria foi cancelada. Bom ressaltar que a startup assume o risco junto com os clientes, ou seja, se uma transação aprovada com reconhecimento facial for contestada, a Unico ressarce a empresa.

Como funciona? E para quem?

Para garantir que a transação seja autenticada por biometria de fato por quem está fazendo a compra -- e não por um terceiro usando uma foto, por exemplo -- a Unico faz a captura dos dados exigindo que o usuário mova o rosto nesse processo. Além do histórico de desenvolvimento de produtos para onboarding (criar contas em banco, por exemplo) usando reconhecimento facial, a companhia também contou com o reforço da MakroSystems, empresa que desenvolvia componentes de segurança para internet banking de grandes bancos, adquirida no ano passado por R$ 150 milhões.

No passo a passo, a captura da biometria é feita pela Unico sem deixar os dados coletados sob o domínio de seus clientes. A startup, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), está enquadrada na figura de "controlador" de dados, o que a permite armazená-los com dezenas de criptografias (recursos de segurança) na própria base. Importante: o consumidor pode pedir para que isso seja deletado da base da empresa a qualquer momento, pelo próprio site da empresa. 

Uma vez em posse dos dados, a startup cruza as informações recebidas com diferentes bancos de dados. Um deles, público, é o do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), ao qual a empresa tem acesso e consegue comparar os dados com biometrias de CNH, a fim de autenticar ou não uma transação.

Diante de um país em que a maior parte da população tem acesso a celular -- mas nem sempre com alta capacidade de resolução -- a Unico roda três motores de reconhecimento facial, hoje, em sua estrutura. Se por algum motivo uma das soluções não conseguir ler ou identificar um rosto, os outros dois sistemas são acionados, de forma a aumentar ao máximo a chance de que a companhia consiga ler quem está pedindo por uma verificação biométrica.

Além de oferecer os serviços para e-commerce e bancos, a startup mira nichos variados, a partir da abertura da oferta para o mercado como um todo. Por enquanto, a startup mantém conversas com locadoras de veículos e, em médio prazo, mira também o setor de saúde, de olho em reduzir fraudes. O modelo se torna escalável na medida em que a empresa cobra uma pequena fração do valor de cada transação pelo serviço.

Depois de um ano duro para as startups, que levou a empresa a demitir pelo menos 150 colaboradores entre o fim do ano passado e o início deste ano, a nova oferta vem com a promessa de impulsionar o crescimento futuro da companhia. Da digitalização de documentos para a biometria, a startup provou que consegue se reinventar e trazer mais tecnologia para dentro de casa. É nessa toada que a companhia quer mostrar que vai seguir, com a novidade anunciada nesta semana.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.