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Tudo “verde” na agenda global de riscos prováveis

Carta Propague detalha uma nova ordem complexa sobre o clima que já está na rotina de bancos centrais e do mercado financeiro

Mudanças climáticas ganharam atenção global com o envolvimento do FMI e BIS, o Banco Central dos bancos centrais, nas discussões (UniversalImagesGroup/Getty Images)
Mudanças climáticas ganharam atenção global com o envolvimento do FMI e BIS, o Banco Central dos bancos centrais, nas discussões (UniversalImagesGroup/Getty Images)
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Angela Bittencourt

26 de julho de 2021 às 08:14

Riscos ambientais dominam a agenda de líderes políticos há quatro anos e em escala crescente, sinal de que a atenção com o meio ambiente vai além do modismo. Em 2020, os riscos ambientais colocaram em escanteio os riscos tecnológicos. Há 10 anos, prevaleciam os riscos econômicos, geopolíticos e sociais. O cenário mudou radicalmente, segundo o Fórum Econômico Mundial que está voltado, desde o ano passado, às discussões sobre dilemas instaurados por temperaturas extremas, falha nas ações climáticas, catástrofes naturais, perda de biodiversidade e desastres ambientais causados por humanos. Complexa, a nova ordem já faz parte da rotina de bancos centrais e instituições financeiras, informa o Instituto Propague na segunda edição de seu relatório executivo – a Carta Propague.

Criado em 2019 pela Stone para disseminar tendências regulatórias do sistema financeiro, sobretudo ante à popularização dos meios de pagamento que vem propiciando inclusão e educação financeira, o instituto detalha os principais temas que alinham as finanças locais às internacionais.

“A Carta é mais um produto autoral do Instituto, nela exploramos os principais tópicos do sistema financeiro que estão sendo debatidos ao redor do mundo”, informa ao EXAME IN Bernardo Piquet, diretor Instituto Propague. “Esse trabalho de pesquisa é publicado em um relatório periódico de acompanhamento e análises sobre tendências regulatórias para o setor que pode ser baixado gratuitamente no site do Instituto”, diz.

Em sua segunda edição, a Carta Propague trata da sustentabilidade no sistema financeiro – um tema caro ao Banco Central do Brasil que tem na sustentabilidade um dos 5 pilares que orientam sua política de modernização do Sistema Financeiro Nacional. Os outros 4 pilares são inclusão, educação, competitividade e transparência.

A mudança climática e suas consequências tomaram fôlego global após a identificação pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco de Compensações Internacionais (BIS) – reconhecido como o Banco Central dos bancos centrais – como riscos para a estabilidade financeira, além de preocupação social e ambiental.

“A possibilidade de crises sistêmicas derivadas do impacto das mudanças climáticas no sistema financeiro foi resumida pelo BIS no conceito do Cisne Verde, inspirado no Cisne Negro cunhado na crise financeira global de 2008 e associado a eventos raros, imprevisíveis e catastróficos. O Cisne Verde se diferencia por não ser raro: é uma certeza caso não haja ações imediatas para contê-lo”, diz a Carta Propague.

Em menos de um ano desde o anúncio do pilar de sustentabilidade pelo BC do Brasil, o relatório informa que as discussões sobre o desdobramento das mudanças climáticas na economia aceleraram no mundo, com um aumento expressivo na quantidade de relatórios, discursos e consultas públicas. Boa parte desse vasto material é dedicada ao mapeamento de riscos financeiros impostos por negligência ao meio ambiente ou desastres climáticos que afetam drasticamente as seguradoras. As perdas relacionadas a clima quintuplicaram desde 1980, saltando da média anual de US$ 10 bilhões para atuais US$ 50 bilhões.

Riscos físico e de transição

A Carta Propague explica que dois grupos de risco são considerados quando se trata de mudanças climáticas em repercussão no sistema financeiro: risco físico e risco de transição.

O risco físico é associado à perda de bens e infraestruturas necessárias para o desenvolvimento de atividades econômicas devido ao aumento da frequência de eventos extremos como enchentes, secas e temperaturas extremas. O risco de transição está associado a transformações políticas, tecnológicas, legais e de mercado que são necessárias para a economia funcionar em baixo carbono. Especialistas ponderam que a transição pode representar grandes mudanças no valor dos ativos ou custos para fazer negócios em determinados setores da economia. Um exemplo é a mudança de matriz energética de combustíveis fósseis para renováveis.

Organizações internacionais procuram avaliar a exposição das instituições a esses riscos específicos. E o indicador do FMI de resiliência para enfrentar risco de transição era, em média mundial, de 0,58 em 2019, considerando uma escala de 0 a 1, em que 0 é alta resiliência e 1 é baixa. No Brasil, o indicador de resiliência é 0,65.

Grande parte da América do Sul tem indicadores piores que a média mundial, sugerindo que o destaque dado pelo BC para a agenda regulatória de sustentabilidade é justificado, diz a Carta Propague. Essa importância pode ser exemplificada no cenário em que, se demorar demais a iniciar uma transição, o Brasil pode enfrentar fugas de capitais para locais em que critérios de sustentabilidade são atendidos. Se fizer a transição muito rápido, pode desestabilizar a economia com uma súbita mudança no valor dos ativos, dentre outros desdobramentos, como possível desemprego em massa e disrupção de linhas de produção.

São vários os canais e as repercussões consideradas para materialização de riscos físicos e de transição. Risco de crédito, de mercado, de liquidez, de seguro e operacional são financeiros e de contágio ao sistema. Sinal de que as consequências podem ser profundas é a cadeia de transmissão desses riscos. Ela começa com impactos em títulos soberanos, passa por empresas, investimentos, valorização de ações e outros ativos e se completa ao bater em cheio nas famílias. Como se vê, os bancos centrais estão de olho no futuro.

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