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Sérgio Rial: o homem capaz de 'sacudir' a Americanas?

Mercado acredita que executivo é o homem certo para executar mudanças na companhia, que viu a concorrência avançar ao longo dos anos

Sérgio Rial: trajetória de sucesso e olhar 'multifacetado' ganham confiança do mercado (Germano Lüders/Exame)
Sérgio Rial: trajetória de sucesso e olhar 'multifacetado' ganham confiança do mercado (Germano Lüders/Exame)
KS

Karina Souza

23 de agosto de 2022 às 08:26

O que levou o mercado ao otimismo que fez as ações da Americanas (AMER3) dispararem 22,4% em dia de queda no Ibovespa? O primeiro fato, e mais óbvio, noticiado tem a ver com a troca de comando da varejista, anunciada na sexta-feira, 19. Entra Sérgio Rial — chairman do conselho do Santander e da Vibra, além de vice-presidente do conselho de BRF — e sai Miguel Gutierrez, após 20 anos no comando da empresa. Porém, mais do que a mudança em si, há a expectativa do que Rial será capaz de executar: uma reestruturação profunda em todas as verticais da companhia, de olho em uma nova tese que possa fazê-la avançar, de acordo com fontes ouvidas pelo EXAME IN. Só essa aposta já agregou R$ 2,5 bilhões ao valor da empresa na bolsa em um único pregão. 

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Antes, um parêntese rápido: a alta ontem, 22, também tem a ver com um movimento de cobertura do ‘short’, ou seja, das posições vendidas no papel. Na prática, os investidores que apostavam em uma queda das ações, tiveram que se proteger da valorização, para mitigar seus prejuízos. 

Olhando para a experiência de Rial, o executivo conta com o fato de já ter cuidado da parte de customer experience dentro do Santander — uma área muito importante para o varejo e e-commerce, de modo geral. Isso além de uma experiência multidisciplinar, com atuação em diferentes setores ao longo da carreira. Além desse motivo, mais pragmático, digamos, há também um fator subjetivo, da reputação do executivo de que “onde trabalha, não tem medo de fazer o que é necessário”, como definiu uma fonte. Basta lembrar que, sob a batuta do executivo, o Santander saiu do último lugar de rentabilidade entre os 'bancões' para a liderança, num espaço de dois anos. 

A aptidão para mudar e correr riscos com certa cautela é um trunfo e tanto diante do novo desafio, uma companhia que mantém a mesma gestão há anos. Décadas, para ser mais precisa. O antigo CEO, Miguel Gutierrez, estava na companhia há trinta anos. A CEO da Ame Digital, está na Americanas desde 2004. E o diretor da B2W também está na companhia há mais de 20 anos. E por aí vai. As pessoas, no fim, são apenas a ponta da visão que o mercado tem sobre a companhia. Não se trata de um jogo de apontar dedos, mas sim de uma percepção de que a Americanas tem a mesma tese há mais de uma década — e que parou de se destacar, especialmente nos últimos quatro a cinco anos, diante da concorrência.

Não que a companhia não tenha se esforçado. De 2017 para cá, a Americanas deu uma série de passos de olho na própria expansão. Olhando para as operações ainda segregadas, a B2W adquiriu 10 empresas de tecnologia naquele ano, enquanto a empresa de lojas físicas bateu o recorde de 195 lojas inauguradas em um ano. Também há cinco anos, criaram a Let’s, plataforma de gestão compartilhada dos ativos logísticos. No ano seguinte, criaram a fintech Ame, o primeiro investimento do então inaugurado IF — Inovação e Futuro, braço de inovação da B2W. Em um fast-forward pelo passado recente, em 2019, a Americanas teve lucro líquido de R$ 704,1 milhões, o maior da história da companhia. Em 2020, a companhia viu essa cifra reduzir para R$ 394 milhões e destacou os impactos e investimentos feitos durante a pandemia. 

No último ano, foi aprovada a união de Lojas Americanas e B2W em uma única empresa, de olho em acelerar a evolução da empresa sob uma única estrutura. De lá até aqui, a empresa lançou a marca Americanas Entrega — que reúne CDs e hubs —, adquiriu a Uni.co, dona da Puket, além de comprar o Hortifruti Natural da Terra e estruturar a Vem Conveniência em parceria com a Vibra Energia. 

Tudo isso, entretanto, não permitiu à companhia conquistar um protagonismo invicto ao longo do tempo. Em uma comparação simples, enquanto o GMV do e-commerce do Magalu no segundo trimestre de 2017 era de R$ 889,3 milhões, o da B2W era de R$ 2,7 bilhões. Nos últimos três meses, a diferença foi reduzida a R$ 400 milhões: o Magazine Luiza teve GMV de R$ 10 bilhões e, a Americanas, já combinada, de R$ 10,4 bilhões. 

A companhia tenta tirar o atraso. Durante muitos anos, a Americanas esteve em posição de vantagem. Foi visionária ao ver a força que a Internet teria sobre os negócios com a criação da B2W, que uniu Americanas.com e Submarino, e tem os melhores pontos do setor. Mas, mesmo assim, perdeu o bonde da história e teve que fazer uma corrida recente, atrás de toda a concorrência na briga do market-place.

Indo para os impactos na avaliação dessas empresas, é possível ver que, em agosto de 2017, o Magalu tinha uma capitalização de mercado de R$ 12,2 bilhões, enquanto a da Americanas era de R$ 16,2 bilhões. Com base nos dados do último pregão, dá para ver que o Magazine Luiza mais do que duplicou o market cap de cinco anos atrás, para os atuais R$ 25,5 bilhões (e esquecendo o fato de chegou a valer R$ 165 bilhões no auge da euforia com e-commerce) e a empresa combinada entre B2W e Lojas Americanas, na verdade, perdeu R$ 2 bi de lá para cá (R$ 14,4 bilhões). 

São apenas alguns dados que ajudam a entender melhor o otimismo do mercado com a possível ‘sacudida’ na empresa e suas implicações daqui para frente. A sensação é a de um voto de confiança para que o executivo mostre o que vai, de fato, conseguir implantar dentro da companhia. Mas o gesto de mudança, em si, já agrada. E, claro, traz expectativas, como a de maior integração entre as lojas físicas e o mundo on-line.

As projeções, é claro, também são dimensionadas diante do cenário macroeconômico atual. Como é característico do setor, a empresa sofre com a inflação e juros mais altos, que machucam a alavancagem da empresa e prejudicam as vendas — no segundo trimestre, a relação entre caixa e dívida de curto prazo era de 6,7 vezes. Diante da perspectiva de que no próximo ano haja uma melhora desse cenário, há a perspectiva de que a nova gestão possa aproveitar essa retomada. “Hoje, [a Americanas] é uma empresa que se beneficia de juros mais baixos, é claro. Ela só não se beneficia mais do que a competição, mas tanto quanto os pares”, diz uma fonte. A expectativa, agora, é de que esse cenário possa ficar ainda melhor.

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