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Crédito

QiTech se torna a primeira fintech a operar como DTVM no Brasil

Startup já tinha licença para operar como Sociedade de Crédito Direto e, agora, visa continuar o processo de digitalização do mercado

QiTech: executivos comemoram nova fase da empresa e veem mais espaço para digitalização (QiTech/Divulgação)
QiTech: executivos comemoram nova fase da empresa e veem mais espaço para digitalização (QiTech/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

11 de julho de 2023 às 19:33

A fintech Qi Tech se tornou nesta semana a primeira da categoria a receber autorização para operar como Distribuidora de Títulos e Valores e Mobiliários (DTVM). É mais um passo na trajetória da empresa de trazer mais agilidade ao mercado financeiro por meio da tecnologia, um plano colocado em prática desde 2018. Na data, a startup conseguiu a licença para operar como uma Sociedade de Crédito Direto e passou a oferecer infraestrutura digital para empresas e fundos de investimento. Agora, em 2023, a nova licença vai 'fechar o ciclo', com a possibilidade de oferecer serviços de administração e custódia de ativos.

"Lá em 2018, olhamos para o mercado de startups e vimos que estava carente de uma infraestrutura financeira. Justamente porque toda vez em que ia operar, precisava contratar um banco e uma instituição tradicional não nasceu, de modo geral, para 'alugar' a infraestrutura dela a outro player para emprestar crédito", diz Pedro Mac Dowell, CEO da QI Tech, ao EXAME IN.

Hoje, a Qi Tech emite em média R$ 600 milhões em crédito por mês, com a expectativa de que R$ 10 bilhões passem pela plataforma da empresa em 2023. São cerca de 30 mil operações de crédito por dia. O trabalho da fintech, em linhas gerais, é o de intermediar toda a relação que envolve desde a captura desse crédito até garantir o pagamento dele. Um conceito que fica mais claro com um exemplo. 

Uma das clientes da empresa é uma startup de crédito estudantil. Quando um aluno entra no aplicativo dessa empresa e se cadastra para obter um financiamento, é um motor da Qi Tech que roda a análise relacionada a aquele candidato. Uma vez decidindo pelo "sim" para o crédito, é a empresa quem abre uma conta no nome do aluno, deposita o dinheiro nessa conta, paga o boleto da universidade (via API) e depois encerra a conta.

Esse 'dossiê do crédito' é todo automatizado, claro, e fica armazenado pela fintech. O próximo passo é a venda dos direitos desse crédito para um fundo de investimento (também por meio da ferramenta da Qi Tech) e, em paralelo, cuidar de todos os processos relacionados à cobrança desse boleto para o aluno que obteve o crédito, de olho em trazer ferramentas para que o fundo possa, de fato, receber. A startup de crédito estudantil paga, no fim das contas, um fee proporcional à quantidade de transações que passam pela plataforma da QiTech.

Hoje, mais de 300 startups usam os serviços da fintech. Além de empresas não-financeiras (por exemplo, a Vivo) em busca de uma oferta de crédito e fundos de investimento. A principal razão é, justamente, a autorização para que empresas que não são financeiras consigam oferecer serviços de crédito com o mínimo de burocracia.

Esse é um racional que também deve ser replicado para a DTVM. Com a experiência acumulada de 'meio de campo' do crédito, a startup começou a perceber que os clientes finais tinham uma experiência de tecnologia que poderia ser melhorada, por exemplo, com o horário de liquidação das operações.

"O player tradicional só liquida operação das 10 da manhã às quatro da tarde. Se quiser liquidar via pix, leva dias para embarcar um cliente. Foi aí que começamos a pensar que o mesmo processo seguido para montar a SCD poderia ser replicado para uma DTVM", diz Mac Dowell. 

A fintech desenvolveu de forma 100% proprietária a plataforma recém-aprovada pelo banco central, de olho em trazer mais flexibilidade para a custódia e administração de ativos. A ideia é ser uma DTVM de infraestrutura, não de produtos. Por exemplo, entregar uma cota para um gestor saindo no mesmo dia (em vez de D+1) e sem restrição de horários, por exemplo, são os pontos defendidos pelo executivo para a fase inicial. Nesse primeiro momento, os atuais clientes da startup são o principal público-alvo para a operação, mas a plataforma também estará aberta para que empresas que hoje não são clientes da Qi Tech consigam usá-la. 

A precificação será feita por uso: quanto mais transações o cliente processar, maior ficará a conta no final. É a mesma lógica dos serviços de crédito prestados pela empresa hoje.

Futuro

Em médio prazo, os planos da empresa envolvem o lançamento de outros produtos. Um deles é o "investment as a service" que visa, em linhas gerais, trazer uma plataforma para agentes de investimento conseguirem montar a própria carteira de produtos. É um produto que vem na linha da nova norma para agentes autônomos operarem, que tirou a exclusividade do jogo em que trabalham.

"Como o agente autônomo pode operar sem ter a infraestrutura? É isso que queremos solucionar. Vou trazer um white label de prateleiras e produtos de investimento para que ele tenha a possibilidade de fazer a curadoria e operar da forma que achar melhor", diz o CEO. Hoje, a empresa está em negociação com gestoras para ver a melhor forma de incluir os fundos na plataforma da Qi Tech.

Outro produto também a ser lançado mais para frente é o de câmbio, com remessas e pagamentos de empresas internacionais. Nesse sentido, mais um exemplo: quando consumidores pagam, hoje, uma fatura de uma empresa internacional (por exemplo, Netflix), é uma empresa de pagamentos quem processa esse fluxo. No detalhe, essa prestadora de serviços precisa abrir uma conta em uma corretora de câmbio parceira pra que esse pagamento seja realizado. É aí que a Qi Tech quer entrar, oferecendo infraestrutura para que a empresa tenha uma opção a mais para que esse serviço seja realizado. 

Ainda em câmbio, uma alternativa estudada é a de BNPL cross border, a ser oferecida para carteiras digitais. "Como funciona? O cliente chega loja da Apple para comprar um iPhone nos EUA. Ele, por meio da wallet, recebe dólares instantaneamente por meio da nossa infraestrutura, com câmbio travado, e, quando ele voltar, pagará um boleto daquela compra em doze vezes, por exemplo", diz Mac Dowell.

Todas as iniciativas visam multiplicar o crescimento da empresa. Em estimativas da QiTech divulgadas anteriormente à imprensa, o CEO afirmou que esperava aumentar a receita em 15%, chegando ao final de 2023 com R$ 10 bilhões em ativos sob administração. Por enquanto, 60 fundos estão interessados na nova 'DTVM Tech'.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.