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Petrobras e a única certeza: reação máxima às urnas

BTG Pactual tenta estimar efeitos de troca de governo e eventuais mudanças de estratégia para Petrobras

Petrobras: investidores querem clareza sobre planos, muito além de preço dos combustíveis (Anton Petrus/Getty Images)
Petrobras: investidores querem clareza sobre planos, muito além de preço dos combustíveis (Anton Petrus/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

31 de outubro de 2022 às 15:01

O BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) já atualizou suas expectativas para a Petrobras (PETR4/PETR3) após o resultado do segundo turno da eleição presidencial, dia 30, que deu vitória ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). O analista Pedro Soares reduziu o preço-alvo para as ações da empresa de R$ 40 para R$ 35,70, um ajuste de quase 11% para baixo. A recomendação para os papéis é “neutra”.

O maior risco vislumbrado pelo especialista — e mais temido pelos investidores — é de uma mudança de estratégia que leve a um aumento dos investimentos e a uma redução dos dividendos, combinada a um cenário de maior interferência política.

Soares lembra que problemas na gestão da companhia no passado, durante o governo petista, somados a um programa agressivo de investimentos levaram a Petrobras a ter a maior alavancagem do setor no mundo: a relação entre dívida líquida e Ebitda chegou a ficar acima de 5 vezes em 2015. A situação ocorreu durante a gestão de José Sérgio Gabrielli, como presidente da companhia. Esse indicador caiu para em torno de 1 vez a dívida líquida sobre o Ebitda ao fim do ano passado.

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Até o resultado das urnas ser divulgado ontem à noite, só havia uma clareza para os investidores: Petrobras teria a reação imediata mais intensa. Uma vitória do atual presidente Jair Bolsonaro poderia trazer euforia às ações da petroleira, com uma aposta em privatização, e a derrota, o temor da interferência, com as suas mil facetas possíveis.

E foi exatamente assim. No pré-mercado americano, os ADRs da Petrobras chegaram a cair quase 10%. Poucas horas após a abertura do mercado, a força do movimento diminuiu pela metade e, há pouco, voltou a se intensificar. A queda neste momento está entre 7% e 8%. O Índice Bovespa esteve em terreno negativo no começo do pregão, se estabilizou um pouco em uma alta próximo ao meio-dia e voltou a operar em queda.

O maior dividendo do mundo

Com a alta do preço internacional do petróleo, e totalmente focada no segmento de produção e exploração, a Petrobras se tornou a maior pagadora de dividendos do mundo com os desembolsos bilionários de 2022. Enquanto outras petroleiras aproveitaram o momento de lucros recordes para reduzir suas dívidas, a Petrobras pôde distribuir seus resultados, uma vez que já havia realizado um programa de forte diminuição de dívida. Em agosto, numa única tacada, a companhia anunciou o pagamento de R$ 88 bilhões em proventos.

Baseado em declarações de Lula durante a campanha e também na “Carta para o Brasil de amanhã”, Soares aponta riscos de investimento em refino — lembrando que foram as dezenas de bilhões colocados em projetos como Comperj e Rnest que levaram a Petrobras a uma alavancagem anormal no setor.  No documento aberto à população, o então candidato aponta para a necessidade de que o Brasil deixe de ser importador de combustíveis.

O analista fez alguns “exercícios” de impacto no valor de mercado da Petrobras, com base em potenciais alterações nas políticas de investimento. O ponto de partida é um valor de mercado de US$ 80 bilhões, com um dividend yield (retorno por dividendo) de 20% no longo prazo.

As projeções atuais são de um investimento de US$ 15 bilhões para 2023, com dividendo de quase US$ 17 bilhões. Contudo, se o orçamento aumentar em 50%, o dividendo recuaria para US$ 12 bilhões. Em um cenário mais drástico, se o investimento dobrar para US$ 30 bilhões, o dividendo cairia para US$ 8 bilhões.

Na prática, em relação à capitalização atual de bolsa, seria um risco de queda de 25% no valor de mercado (com alta de 50% nos investimentos) ou de 53% (considerando o dobro dos gastos).

Os temores dos investidores em relação à interferência governamental na Petrobras, no caso de uma gestão Lula, não têm relação apenas com o preço da gasolina e a política de preços. Vão além. Soares tenta ponderar e afirmar que não acredita na repetição de muitos dos erros dos passados. E ainda assume, em seus cálculos, que os dividendos de 2023 serão de R$ 16,5 bilhões, o que significa um retorno da ordem de 31%.

Sempre a serviço

O analista Pedro Soares afirma que “os investidores não devem subestimar a capacidade do novo governo de usar a Petrobras como veículo para impulsionar o crescimento econômico, o investimento, o emprego e a segurança energética”. Essa foi a tônica da gestão anterior do partido, a partir da descoberta do pré-sal.

Entretanto, é importante lembrar que mesmo os dividendos bilionários distribuídos pela empresa não estão livres da discussão política. Com o atual governo pressionado pelas contas públicas, eles contribuíram para aliviar o balanço do país. E lembrar ainda que a dança das cadeiras na presidência da empresa ao longo deste ano também tem conotação política, com o governo de Jair Bolsonaro tentando de alguma maneira conter — ao menos — a velocidade dos reajustes dos preços dos combustíveis, como meio de segurar a inflação no país.

No governo de Dilma Rousseff, sucessora da primeira temporada de gestão de Lula, a contenção do repasse dos preços internacionais do petróleo foi nociva para a estatal, pois ocorreu de forma combinada à era dos super-investimentos.

Não é por acaso que a Petrobras está no centro das ansiedades relacionadas à eleição. No primeiro dia após a vitória de Lula, junto com as discussões e especulações sobre o ministério a ser formado em 2023 pelo novo presidente, está também o debate sobre quem será o novo presidente da petroleira. Muito ainda precisa ser esclarecido, na visão dos investidores.

 

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