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Pacotão para aéreas pode diluir acionistas em mais de 20%

A expectativa é que o governo ofereça 3 bilhões para cada uma das três maiores empresas que operam no país, Gol, Latam e Azul

BALCÃO DA AZUL: o pacote das aéreas servirá de pilar para os de outros setores, como automotivo e varejo | Omar Paixão (Omar Paixão/Exame)
BALCÃO DA AZUL: o pacote das aéreas servirá de pilar para os de outros setores, como automotivo e varejo | Omar Paixão (Omar Paixão/Exame)
GV

Graziella Valenti

15 de abril de 2020 às 12:47

O pacote de 10 bilhões de resgate do setor aéreo pelo governo pode levar a grandes mudanças no setor. O pacote pode resultar na emissão de instrumentos conversíveis em ações equivalentes a aproximadamente 20% do capital das companhias brasileiras – ou mais, a depender de cada caso, mas não muito mais. “Achamos 30% uma parcela exagerada”, disse ao EXAME IN uma fonte do governo ligada ao desenvolvimento da solução.

A expectativa é que, em formato de sindicato com bancos comerciais e fundos de crédito, o pacote para o setor ofereça 3 bilhões para cada uma das três maiores empresas que operam no país, Gol, Latam e Azul, e mais 1 bilhão para a cadeia de serviços e fornecedores. O BNDES não será o provedor desse volume exclusivamente. Mas ainda não está definida qual a participação mínima e máxima do banco estatal na solução dada às companhias.

O dinheiro chegará às empresas por meio de dois instrumentos separados, mas que serão usados de forma combinada: debêntures simples e bônus de subscrição de ações. A ideia é que quanto maior for o componente de renda variável menor seja o custo da parcela em dívida, conforme explicou uma fonte do governo ligada às negociações.

Muitas questões ainda estão em debate, mas o desejo dos envolvidos é que as operações fiquem prontas dentro de duas a, no máximo, três semanas. Parte da discussão é para uniformizar a mecânica para as companhias e parte é o debate privado, customizado para cada negócio. Há grande preocupação em ter um padrão mínimo de solução para evitar que, no futuro, o BNDES seja acusado de favorecer uma empresa em detrimento a outra – e a participação de agentes privados nas transações será um conforto adicional a essa questão.

A parcela da dívida deverá ter prazo de cinco anos. Já para a fatia em bônus de subscrição ainda não está definido quando serão os momentos de conversão em ações. Porém, já está claro que objetivo é que esses bônus sejam negociados separadamente das debêntures e tenham liquidez quase imediata em um mercado secundário.

O objetivo é que conforme o cenário fique mais claro e o retorno dos papéis mais visível haja maior interesse do mercado e não seja necessário que BNDES e outros investidores carreguem até o momento da conversão. O resultado é que, ao fim, pode haver uma dispersão maior da base acionária dessas companhias no mercado.

O tempo de carregamento dos bônus e seu retorno efetivo não são possíveis de definir na largada. Mas o objetivo é que a mecânica favoreça a dispersão dos papéis no mercado e não a concentração nas instituições.

O preço das ações de referência para formação dos bônus caminha para um meio termo entre o valor atual, fortemente depreciado pela situação de crise, e o anterior à pandemia, segundo fonte que acompanha as discussões. Com isso, pode ficar atrativo para os investidores e para o BNDES, mas sem gerar uma diluição exagerada na base atual de acionistas.

 

Ao fim de fevereiro, a Azul estava avaliada em 14,6 bilhões de reais na B3 e ontem fechou o pregão em 5,4 bilhões de reais. Já a Gol, saiu de 7 bilhões de reais para 3,14 bilhões reais em capitalização, nesse período. Listada nas bolsas do Chile e de Nova York, a Latam valia 5,5 bilhões de dólares no começo de fevereiro e agora está em torno de 2,1 bilhões de dólares.

As companhias aéreas, assim com as empresas de shoppings centers e de eventos coletivos, foram atingidas em cheio pelo esforço de contenção da pandemia. No caso das empresas de aviação comercial, 100% dos voos internacionais estão suspensos e mais de 90% dos nacionais estão parados.

Do lado das companhias, ainda há muita diferença na percepção de cada uma a respeito dos instrumentos. Cada qual tem preocupações particulares.

No caso da Latam, conforme fontes próximas ao tema, há grande dificuldade com a perspectiva de participação do BNDES como acionista, já que se trata de um banco de fomento brasileiro em uma companhia internacional. A Latam não é mais listada na B3, desde que houve a combinação completa das empresas Lan Chile e TAM, há oito anos. Na Azul, o grande ponto de divergência é o preço das ações a ser usado de referência. A Gol tem preocupação com a diluição e o custo da dívida, o interesse maior é ter o recurso à disposição mas só usar se não houver outra solução.

Para o governo, o pacote das aéreas servirá de pilar para os de outros setores, como automotivo e transportes e também o varejo, que devem ter programas específicos. Mas nem tudo poderá ser aproveitado, pois não há prevalência de empresas abertas em alguns dos setores mais afetados.

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